Finalmente um game dos meus gauleses preferidos popa por aqui. E que game mais legal, meu camaradinha! Hoje é dia da nossa análise Asterix & Obelix Slap Them All, o segundo beat’em up 2D estrelado pelos gauleses irredutíveis. O primeiro? Foi Asterix: The Arcade Game, lançado em 1992 pela Konami, época em que a empresa japonesa ainda fazia games – e mandava muito bem.
ANÁLISE ASTERIX & OBELIX SLAP THEM ALL
O curioso é que Slap Them All claramente pegou detalhes do jogo da Konami. O ciclo de caminhada do Obelix, por exemplo, é tão parecido que me pergunto se foi importado diretamente do jogo antigo.
Slap Them All é muito bem feito em todos os aspectos. É um daqueles jogos que tem o visual simplesmente perfeito, que não imagino que ficariam melhores nem em um PS8 ou PS9. Na versão de Xbox One, rodando no Series X, ele tem suporte a Dolby Vision, o que sinceramente me surpreendeu. Afinal, nem a superprodução Streets of Rage 4 tem HDR.
ESTILO DE UDERZO
O visual é extremamente fiel aos quadrinhos, a ponto de que eu tenho impressão que boa parte dos frames foi digitalizado diretamente dos desenhos originais do tremendão Albert Uderzo. Inclusive, fãs dos gibis franceses vão reconhecer vários personagens. Não apenas os chefes, como costuma acontecer em jogos como este.
Mesmo alguns dos inimigos genéricos são tirados de personagens que aparecem nos gibis. E, se não são todos diretamente dos gibis, esse é o maior elogio que posso fazer à equipe de arte de Slap Them All. Afinal, Uderzo tem um estilo único, que eu adoro. E se eles criaram novos personagens que se encaixam perfeitamente no visual imortalizado pelo desenhista, mandaram muito bem.
E claro, os chefes são todos personagens conhecidos. Temos o pirata Barba Ruiva e muitos outros.
ROTEIRO DE GOSCINNY
Asterix & Obelix Slap Them All é dividido em seis capítulos. Cada capítulo conta a história de um gibi famoso da extensa coleção criada por René Goscinny e Albert Uderzo. Tem, por exemplo, o famosíssimo Asterix e Cleópatra e também Asterix Entre os Bretões, apenas para citar dois. O jogo, porém, tem mais de dez fases em cada capítulo, sendo assim substancialmente mais longo do que o beat’em up tradicional, que dificilmente chega às dez fases somando todas.
Os personagens falam bastante durante o gameplay, mas a história em si é contada através de textos e imagens estáticas que rolam entre as fases. O jogo para mim rolou em inglês – não há outras opções de idiomas nos menus, mas talvez isso seja determinado pela língua do sistema do console. E eu nunca li ou assisti a Asterix em inglês, mas até onde consigo perceber, o texto parece ser extremamente fiel aos gibis, repetindo várias piadas que marcaram minha infância.
Claro, não temos aqui todas as cenas e diálogos de cada um dos gibis, mas tenho a sensação de que tudo o que está no jogo foi tirado diretamente deles.
ANÁLISE ASTERIX & OBELIX & O GAMEPLAY
Finalmente, vamos falar do jogo em si, começando pelo mais importante: o combate é uma delícia. Apesar de repetir golpes e animações que estavam no arcade da Konami, Slap Them All tem maior impacto e variedade. O jogo tem coop local, mas se você jogar sozinho pode alternar entre os dois heróis com um simples toque do LB.
Os dois heróis são bem diferentes. O Obelix é um dos meus personagens preferidos da vida, e foi deliciosamente transplantado para os games. Ele ataca os inimigos com tapas e com seu jeitinho inocente que faz com que, embora cada golpe seja muito forte, pareça ser feito com pouco esforço.
Em especial, ele tem um tapa para cima que é um dos golpes mais satisfatórios que eu já experimentei em um beat’em up, que faz os romanos saírem voando, deixando suas sandálias no chão. O chato é que não é um golpe que dá para ativar sempre que você quiser.
O tutorial explica que esse ataque é ativado segurando para cima e apertando Y, mas ele parece funcionar apenas quando o inimigo estiver suficientemente fraco. A forma mais confiável de ativar é agarrando um inimigo, o que o imobiliza e permite que você o estapeie até acabar com sua vida. Quando isso acontece, o tal tapa para cima é ativado como finalização, e acerta todos os inimigos na sua frente. E isso nos leva ao Asterix.
ASTERIX ESTAPEIA TODOS ELES
O Obelix é claramente pensado como um personagem com alto dano para um personagem por vez. A questão é que Slap Them All tem um quê de Dynasty Warriors. Ou seja, a tela está sempre lotada de inimigos, às vezes com mais de uma dezena deles. Beat’em up 2D é um gênero que dificilmente coloca o jogador contra mais de quatro inimigos de uma vez, e Slap Them All segue uma linha diferente.
Assim, é interessante ter a possibilidade de atacar uma galera de uma vez. E neste ponto Asterix brilha mais do que seu amigo gordinho. Agarrar um inimigo com Asterix, por exemplo, faz o herói imediatamente começar a rodar o desafeto acima de sua cabeça, derrubando absolutamente todo mundo que estiver nos arredores. E não é só. Você pode segurar Y para começar a girar (veja imagem acima), o que também acerta todo mundo em todas as direções.
GOLPES ESPECIAIS
Ambos são considerados golpes especiais, que gastam os trovõezinhos que você vê acima da barra de vida. Porém, estes são recuperados rapidamente com golpes normais, então dá para usar bastante. Os golpes especiais do Obelix são socos superpoderosos que não ajudam muito a liberar espaço na tela, tornando o personagem menos útil do que o baixinho marrento. Se você agarra e joga um inimigo com o gordinho, tem uma animação elaborada, que deixa o personagem vulnerável a ataques durante cerca de um segundo, então não serve como um “golpe de desespero” como os de Asterix.
Beat’em ups tradicionalmente têm um “golpe de desespero”, capaz de derrubar todo mundo ao redor, normalmente em troca de um pouquinho de vida. O principal problema do combate de Slap Them All é que o Obelix não tem nada assim, enquanto o Asterix tem dois. Em um jogo cujo principal diferencial é colocar os jogadores contra dezenas de inimigos ao mesmo tempo, é uma falha considerável.
ANÁLISE ASTERIX & OBELIX & OS CHEFES
Mesmo os chefes vêm pro pau em galera. E aqui Slap Them All faz algo que nunca vi antes: os minions são limitados. Basicamente, cada chefe já chega com sua entourage e, para passar de fase, você precisa vencer todo mundo. Matar o chefe não faz com que os minions fujam ou morram automaticamente. Mas por outro lado, dá para vencer todos eles e se focar nos chefes, já que eles não aparecem infinitamente.
E aqui entra outro ponto que me incomodou. Apesar de uma campanha que dura pelo menos cinco vezes mais do que a maioria dos beat’em ups, ela carece de variação. Quase todos os capítulos, por exemplo, envolvem uma fase em que você invade o navio dos piratas, que termina com uma batalha contra o Barba Ruiva. Embora isso seja fiel aos gibis, já que os piratas são personagens recorrentes nas aventuras dos gauleses, repetir a mesma fase várias vezes, sempre com o mesmo chefe, não é legal.
Além das fases que são literalmente repetidas, como as do navio, o jogo simplesmente não tem muita variação de cenário. Quase todas as fases envolvem florestas tropicais o que, de novo, é fiel ao material de origem, mas em um videogame, especialmente em um beat’em up, estamos habituados a maior variação.
A coisa só fica realmente diferente no capítulo do Egito que, obviamente, nos leva a um deserto cheio de pirâmides e estátuas. Asterix & Obelix Slap Them All é um jogo lindíssimo, mas não é especialmente variado. E talvez seja um tanto longo demais para o conteúdo que apresenta.
ANÁLISE ASTERIX & OBELIX: UM LONGO SLAP THEM ALL
As fases de Asterix & Obelix Slap Them All duram mais ou menos o mesmo tempo que de outros beat’em ups modernos, como Streets of Rage 4 e The Takeover. Porém, se esses jogos sempre trazem menos de dez fases, Slap Them All traz seis capítulos onde cada um deles tem a duração de um Streets of Rage 4. Isso até poderia ser legal se todas as fases fossem únicas. Daria a Slap Them All um quê de coleção de aventuras dos gauleses. Tipo um Capcom Beat’em up Bundle tematizado nos gibis franceses.
Como não é o caso, acaba ficando um tanto enjoativo. Especialmente se, como eu, você jogar tudo ao longo de um único dia. Mas convenhamos, você não deve fazer isso. Afinal, se comprar o jogo, não estará correndo para cumprir um embargo. Jogando um capítulo por vez, como se fossem de fato jogos separados, acredito que Slap Them All ficaria muito mais prazeroso.
E prazeroso ele é. Chega bem próximo de ser o beat’em up perfeito estrelado pela turma de Asterix. Obviamente, ele é altamente recomendado a fãs dos gibis de Goscinny e Uderzo, mas é bom o suficiente para agradar a qualquer fã de jogos de soquinho.
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