Simplesmente Complicado

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Até nem tanto tempo atrás, eu abominava comédias românticas. Porém, ao contrário da maior parte dos gêneros em Hollywood, ultimamente esse é justamente o que tem mostrado mais sinais de criatividade, mantendo as fórmulas, mas mudando o mais importante: os personagens. Como exemplo, cito o divertidoso Eu Te Amo, Cara, uma comédia romântica entre dois sujeitos heterossexuais.

Simplesmente Complicado (provavelmente a primeira vez que o título nacional fica melhor do que o original) vai nessa linha. A mudança que ele traz à fórmula é que esta é uma comédia romântica para a terceira idade.

Jane (Meryl Streep) é uma mulher divorciada e solitária. Seu ex-marido, Jake (Alec Baldwin), por outro lado, não parece nem um pouco solitário, pois assim que se separou dela, casou com uma jovem gostosa. O destino, no entanto, ainda não parou de brincar com eles, pois os dois vão acabar dormindo juntos. E logo percebem que ainda se amam. Ou pelo menos algo parecido.

Paralelamente a isso, Jane começa a flertar com o arquiteto Adam (Steve Martin), que também é um divorciado de coração partido. E agora? Ela fica com o ex ou com o novo? Ou com nenhum? Ou com os dois? Tantas perguntas, só 120 minutos de filme.

Tal qual Crepúsculo, este é claramente um longa feito por e para mulheres do sexo feminino desprovidas do cromossomo Y e de uma gloriosa ferramenta lusitana. Este é um chick flick orgulhoso do título e beirando o chick porn. Porém, ao contrário dos vampiros cintilantes, aqui o foco não é em menininhas de 13 anos, mas em mulheres de 60. Particularmente, eu não sou, nunca fui nem nunca serei um ou outro, mas mesmo sem fazer parte do público-alvo, não significa que não gostei. Afinal, no que se propõe a fazer, Simplesmente Complicado é muito bom.

Por exemplo, seus protagonistas são uma amante e um adúltero, duas características não muito bem-quistas em nossa sociedade contemporânea pós-moderna do espetáculo. Ainda assim, é muito fácil simpatizar com ambos. Ninguém aqui é vilanizado, talvez com a possível exceção da esposa atual de Jake.

Aliás, isso até comprova o rótulo chick flick/porn. Convenhamos, a moça roubou o homem da Jane, que depois acaba roubando ele de volta. Alguém consegue pensar em algo mais tipicamente feminino do que isso?

Essa ausência de vilões é o resultado de um roteiro que, embora não seja inovador, trata muito bem seus personagens. Os três protagonistas são tão bem desenvolvidos e tão carismáticos que você vai se ver torcendo para ela ficar com os dois, em um verdadeiro ménage do tipo não bom.

Ainda que você não seja uma fã do gênero, ou seja homem, existem boas cenas que justificam o rótulo comédia. A da maconha, em especial, é de gargalhar alto e quase vale o ingresso por si só.

A roteirista e diretora, aliás, é Nancy Meyers, que também comandou uma das primeiras comédias românticas que me agradaram, O Amor Não Tira Férias. De fato, a filmografia da moça é composta única e exclusivamente desse gênero, mas pelo menos ela faz isso bem. Melhor, aliás, do que a maior parte dos seus concorrentes.

Mulheres, especialmente as românticas ou mais velhas, hão de gostar bastante do que temos aqui. Homens também podem se divertir, desde que consigam ativar seu lado feminino durante as duas horas da projeção. E por favor, não venha com aquela baboseira de “meu lado feminino é lésbico”. Se você quer se fazer de machão, pelo menos seja criativo ao invés de ficar repetindo frases feitas. Por exemplo, diga algo como “para mim romance é a relação de um sujeito com sua Harley Davidson”.