Não é segredo que a série Watch Dogs sempre foi fortemente inspirada pelo grupo da vida real Anonymous. Nesta análise Watch Dogs: Legion, você verá que essa inspiração ficou ainda mais forte, chegando até ao título do jogo. Só faltou mesmo a máscara de Guy Fawkes. E, veja só, por uma coincidência do destino, eu comecei a jogar o game em 5 de novembro. Remember, remember…
ANÁLISE WATCH DOGS LEGION
Watch Dogs Legion é a franquia ativa mais diferente da Ubisoft. E depois que até Far Cry e Ghost Recon viraram RPGs, ela ter se mantido sem loot ou estatísticas a deixou ainda mais diferente.
Curiosamente, ela é também a que eu menos gosto. Aliás, a minha impressão ao conversar com as pessoas é que Watch Dogs tem bem menos fãs do que as dormentes Splinter Cell e Prince of Persia. Ainda assim, eu vejo o apelo que seu gameplay único tem. Ser capaz de controlar a cidade inteira através de hacks é uma fantasia de poder que nenhum outro jogo reproduz. E arrisco dizer que seria um superpoder muito mais útil na vida real do que, sei lá, a superforça do Kratos.
Em seus melhores momentos, Watch Dogs permite que você invada uma base protegida e cumpra seu objetivo enquanto seu personagem se mantém seguro do lado de fora. E é muito legal quando isso acontece. Infelizmente, é raro, pois a maior parte das missões exige que você interaja fisicamente com algo. Então é possível usar câmeras e drones para destrancar as portas e derrubar os inimigos, mas eventualmente você precisa entrar para cumprir a missão.
JOGUE COM QUALQUER UM
Este talvez seja o principal ponto de venda de Watch Dogs Legion. Você pode recrutar qualquer NPC. A maioria é genérico, mas tem alguns que trazem consigo habilidades especiais muito úteis. Isso acaba funcionando como classes. Um soldado vem com armas mais poderosas, enquanto um pedreiro pode colocar seu uniforme e passar despercebido em algumas áreas.
As próprias conquistas refletem esse aspecto sandbox. Elas trazem vários desafios como entrar no palácio vestido de guarda real.
Aliás, eu joguei a maior parte do tempo com uma pedreira que eu recrutei logo no início do jogo. Uma de suas habilidades era chamar um drone de carga, no qual eu podia subir e simplesmente voar pela cidade.
Isso para mim foi uma mão na roda, pois possibilitou que eu eliminasse meu principal problema com os dois primeiros Watch Dogs: a falta de mobilidade. Se você os jogou, deve lembrar que boa parte dos objetivos e colecionáveis ficam em lugares altos. Isso exige que você analise cuidadosamente o cenário, procurando escadas, lugares para escalar ou elevadores hackeáveis. Aqui, eu posso simplesmente chamar um drone e voar até lá. Isso torna o que seriam 10 ou 15 minutos de tédio em missão cumprida em menos de um minuto.
OU QUASE QUALQUER UM
Para recrutar um NPC, você precisa cumprir um pedido dele. Isso pode ser algo como apagar as câmeras de segurança de um lugar, ou coletar documentos de outro. Depois disso, eles se juntam ao seu time, e podem ser selecionados a quase qualquer momento.
Você tem opção de ativar a permadeath, que significa que quando um recruta morre, ele sai do seu grupo. E se seu grupo ficar vazio, “tchau, save”. Obviamente, eu não ativei isso aí. No jogo normal, alguém morrer o deixa no hospital por 60 minutos. Sessenta minutos de tempo real de jogo. Então não adianta parar de jogar e ir fazer um lanchinho. Se quer que o tempo passe, o jogo precisa estar ligado.
Na história do jogo, Dedsec, o grupo do qual você faz parte, é altamente inclusivo, aceitando pessoas de qualquer raça, credo ou orientação sexual. Mas sabe o que simplesmente não existe em Watch Dogs Legion? Gordos.Você pode encontrar e recrutar no jogo pessoas com tatuagens no rosto, cabelos moicanos e homens que saem na rua de salto alto. Mas não existe nenhum NPC acima do peso no jogo inteiro. Nem vilões. Isso me incomodou bastante. Poxa, um jogo que se propõe a ser tão inclusivo e permitir jogar com qualquer tipo de pessoa não me deixa jogar com alguém que parece comigo.
UM JOGO ÚNICO
Watch Dogs Legion tem algumas missões bem únicas, que não poderiam estar em nenhum outro jogo. Verdade, aqui também tem tiroteios e direção, mas esses não são o foco. Este, claro, é hackear. E é nisso que ele se destaca. A ponto de que, a meu ver, o mundo aberto acaba detraindo a experiência.
O que Watch Dogs tem de forte é MUITO forte. Mas eu diria que as atividades de mundo aberto, conquistas de territórios ou simplesmente a locomoção beiram a perda de tempo. Um bom jogo de mundo aberto torna um prazer simplesmente ir do ponto A ao ponto B. Uma atividade única, sabe? Veja, por exemplo, o jogo do Homem-Aranha. Watch Dogs não tem a mobilidade de um Far Cry ou um Just Cause. Se tanto, aqui a coisa funciona mais ou menos como um GTA. Você rouba um carro e dirige até sua próxima missão ou atividade. Voar com o drone seria mais divertido, mas ele é muito lento para locomoção, servindo mais para subir e descer do que para chegar a outro ponto da cidade.
E SE…?
Curiosamente, Watch Dogs me parece ter um enorme potencial se sofrer uma mudança de paradigma. Se ele seguir um esquema mais Hitman, por exemplo. Ou seja, ele seria dividido em fases com várias possibilidades. Tem áreas restritas. Tem um monte de coisa para hackear. Tem dezenas de formas diferentes de cumprir seu objetivo, e ele recompensa criatividade, e pensar fora da caixinha. Me parece que esse jogo que estou imaginando poderia ser realmente especial. Uma versão mais focada de Watch Dogs, mas também mais única, com level designs mais elaborados e envolventes. E também serviria para separá-lo ainda mais das outras franquias da Ubisoft, empresa que não faz nada que não seja mundo aberto há, chutando por aqui, mais de dez anos.
Embora Watch Dogs Legion não seja um jogo de serviço, suas missões não são tão diferentes das encontradas em The Division, por exemplo. Para começar, ele tem um tremendo tom de Tom Clancy, com leveza e humor sendo trazidos apenas pelo personagem Bagley.
Mas o principal é que quase toda missão e objetivo exige invadir uma base e chegar até um ponto. Essa é a parte boa. Mas daí, quando você chega nesse ponto, tem que esperar um download ou um upload concluir sem se afastar do local, enquanto uma avalanche de inimigos te ataca. É exatamente o tipo de level design que os jogos de serviço tanto usam. Mas aqui nem tem a possibilidade de coop. O menu tem uma opção chamada “online”, mas ela só estará disponível a partir de dezembro de 2020.
QUEM ASSISTE AOS CACHORROS?
Curiosamente, eu achei Watch Dogs Legion visualmente mais fraco que outros jogos da Ubisoft. Em especial, seu visual é bem mais simples do que o de Assassin’s Creed Odyssey. A cidade em si é bonita e bem realizada, mas os personagens parecem bonecos de plástico, tanto em design quanto em animação. Talvez esse seja o preço a se pagar para não ter um protagonista predefinido.
Jogando no Xbox One X, ele também tem loadings frequentes e bem longos. Tem momentos em que há telas de load para cutscenes. Eu imagino que esse seja um não problema para quem estiver lendo essa resenha em 2022, quando o jogo praticamente só existir em suas versões de PS5 e Xbox Series, mas isso afetou negativamente a minha experiência em 2020.
No final das contas, eu me diverti com Watch Dogs Legion graças às jogabilidades únicas que ele traz à mesa. Não me empolgou em nenhum momento, mas me divertiu moderadamente durante sua duração. Não diria que ele é melhor do que Watch Dogs 2, mas certamente é superior ao primeiro.