Fazia muito tempo que os fãs de beat’em ups não eram tão bem servidos em um curto espaço de tempo. Ainda outro dia, tivemos o lançamento do tremendão Streets of Rage 4. E agora temos outro jogo do gênero tão lindo, tão tremendão e, em alguns aspectos, até melhor do que a continuação do clássico da Sega. Esta é nossa análise The Takeover.
ANÁLISE THE TAKEOVER
Você provavelmente já sabe disso, mas Streets of Rage 4 é um jogo feito por fãs. Eles tiveram, claro, a licença e o apoio da Sega, mas não é uma continuação feita pelos criadores originais. Assim, basicamente o que separa The Takeover de Streets of Rage 4 é, justamente, o licenciamento. Pois a turma da Pelikan13 tem claramente o mesmo carinho pelas Ruas da Raiva quanto a galera que recebeu a licença.
Há semelhanças óbvias. Dois dos personagens jogáveis, Ethan e Megan, são claramente inspirados por Axel e Blaze, a ponto de que alguns golpes de Streets of Rage são também realizados pelos dois. Caramba, se a semelhança não for clara o suficiente para você, The Takeover também tem parte da sua trilha sonora composta pelo Yuzo Koshiro.
O que importa em um jogo como esse, o combate, é excelente. The Takeover tem todos os bastiões do gênero, como o golpe defensivo que sacrifica um pedaço da vida; combos e arremessos. Uma diferença considerável é que aqui é possível dar chutes e socos. Tirando Double Dragon, eu não me lembro de outro beat’em up realmente popular com botões diferentes para cada ataque.
Uma coisa bacana é o uso de combos. Repetir o mesmo botão faz um combo que eventualmente derruba a vítima. Porém, se você alternar entre socos e chutes, é possível ficar porrando um desgraçado até tirar toda a sua vida. Isso é extremamente útil para inimigos mais difíceis e resistentes, como os robôs verdes que você vê na imagem acima.
Outra novidade é o uso de armas de fogo. A munição é relativamente limitada, mas além de serem ataques à distância, são incrivelmente fortes, vencendo qualquer inimigo rapidamente.
OVERPOWERED
Uma coisa bacana que The Takeover também faz são seus dois ataques especiais, que só podem ser usados quando sua barra específica estiver cheia.
Tem o Super, que é semelhante à polícia no primeiro Streets of Rage. Ou seja, é uma explosão absurda que derruba todo mundo. Não é tão forte, a ponto de limpar a tela. Na verdade, sua utilidade é realmente derrubar a galera e ganhar alguns segundos de respiro. Mas os efeitos gráficos são impressionantes.
O outro especial é o rage. Este é muito mais overpowered. Ele funciona tipo a poção mágica do Asterix. Ou seja, dá invencibilidade e a força de dez homens. E o mais bacana é que, assim como a poção gaulesa, dura um bom tempo. Usar o rage na batalha contra um chefe é, literalmente, pular a batalha. Eu estreei essa habilidade no primeiro chefe e fiquei sinceramente surpreso quando venci a luta poucos segundos depois.
VARIAÇÃO
Uma crítica comum a beat’em ups é que são jogos repetitivos. The Takeover traz deliciosas variações, que vêm nos momentos certinhos da campanha. Tem, por exemplo, uma cena de combate em carros inspirada pelas fases do batmóvel no Batman Returns de Sega CD. E tem outra de aviãozinho, na qual é impossível não se lembrar de After Burner. Pois é, a turma da Pelikan13 realmente gosta da Sega.
Por fim, em outra fase você tem acesso a uma metralhadora infinita, que também é bastante overpowered. Assim, há muita coisa aqui para fazer além de simplesmente descer o sarrafo e andar para a direita.
THE TAKEOVER VS STREETS OF RAGE 4
Como você com certeza já reparou pelas imagens, The Takeover é lindão. Enquanto Streets of Rage 4 optou por um visual cartunesco, este seguiu a linha de uma graphic novel. Particularmente, gosto muito das duas estéticas, e acredito que você também vai gostar.
Streets of Rage 4 ganha nas animações, que são mais elaboradas. Em The Takeover, os personagens se movimentam como em um jogo de Mega Drive, em que você vê todos os frames individualmente (um soco ou um pulo, por exemplo, têm apenas dois frames). Isso causa algum estranhamento considerando quão absurdamente elaborada e detalhada a arte é.
Já os cenários são bem mais desenvolvidos em The Takeover. Streets tem cenários que basicamente são belos desenhos estáticos. Aqui a coisa é mais elaborada, com animações e efeitos de perspectiva. Tem horas que a câmera se aproxima dos personagens ou se afasta, bem como várias coisas acontecendo.
Na fase das docas, por exemplo, está caindo um toró. As ondas batem no cenário. Relâmpagos são frequentes. A combinação dessas três características causam um tremendo apelo visual, que deixa sinceramente impressionante que o Switch seja capaz de gráficos desse naipe.
TRILHA SONORA E GAMEPLAY
Por fim, temos a trilha sonora, e esse é um aspecto que, para mim, The Takeover ganha de Streets of Rage 4 com larga vantagem. Streets focou em músicas eletrônicas mais barulhentas, mais parecidas com as que a série usou em sua terceira edição do que nas duas primeiras, que considero bem superiores. Já The Takeover tem músicas focadas em rock, com belos solos e riffs de guitarra. Para meu gosto musical, é bem mais agradável.
A história é contada em imagens estáticas, mas The Takeover teve o cuidado de fazer as cutscenes serem completamente faladas, o que é outra vantagem sobre Streets 4. O curioso é que rola um diálogo antes das batalhas com todos os chefes, e estes são apenas escritos. É especialmente estranho porque todos os chefes falam nas cutscenes que encerram as fases. Ou seja, tinha atores fazendo suas vozes. Por que não gravaram duas frases a mais para cada um?
Uma grande vantagem de Streets of Rage 4 é a possibilidade de jogar coop online. The Takeover possibilita apenas coop de sofá. Por outro lado, a IA dos inimigos é mais moderna em The Takeover. O comportamento dos inimigos ser como os jogos de Mega Drive talvez seja minha principal crítica para Streets of Rage 4.
STREETS OU TAKEOVER? POR QUE NÃO AMBOS?
Comparando os dois diretamente no que realmente faz diferença, The Takeover ganha na trilha sonora e no comportamento dos meliantes. Já Streets of Rage 4 tem um combate que me agrada mais e o fator nostalgia de trazer de volta personagens há tanto tempo dormentes.
O fator nostalgia, claro, é grande responsável por Streets of Rage 4 estar fazendo tanto sucesso, entrando na lista de best sellers e nos trending topics do Twitter. Quem gosta de beat’em up com certeza ficou sabendo do lançamento e comprou o jogo.
The Takeover não tem esse apelo, mas eu digo aqui com todas as forças: os dois são complementares. Os dois são excelentes. Qualquer fã do gênero vai querer jogar os dois, e vai se divertir muito com ambos.
Se você, como eu, esperou por um novo Streets of Rage por 30 anos, agora é hora de regozijo, pois em poucas semanas, tivemos dois jogos dignos do seu legado.