Comédia romântica é um dos gêneros mais desprezados por homens. Mas de vez em quando, popa uma legal. É o caso, por exemplo, de Eu Te Amo, Cara e seu bromance. É também o caso deste, que vamos abordar nesta crítica Casal Improvável.
CRÍTICA CASAL IMPROVÁVEL
O Casal Improvável do título é composto por Fred (Seth Rogen) e Charlotte (Charlize Theron). Ele, um jornalista bravo e altamente ideológico. Ele acaba de se demitir do emprego porque o jornalzinho em que trabalhava foi comprado por um grande conglomerado de mídia, e portanto iria basicamente escrever press-releases. Ela, por outro lado, é a Secretária de Estado, e está iniciando a campanha para se candidatar a presidente dos EUA.
A questão é que eles já se conhecem. Foram vizinhos durante a pimpolhice e, veja só, Fred já era apaixonado por ela desde aquela época. Após um improvável reencontro, a moça acaba contratando o rapaz para escrever seus discursos. O sujeito a princípio recusa, mas quando percebe que ela parece ser tão ideológica quanto ele, acaba aceitando.
Para a surpresa de todo mundo que foi ao cinema sem ver o título do filme, eles acabam se apaixonando. Veja só que Casal Improvável.
COMÉDIA ROMÂNTICA ÀS AVESSAS
Normalmente as comédias românticas envolvem uma moça que se apaixona por um cara bonito/rico/bem-sucedido com o qual sentia não ter nenhuma chance. Pois este é justamente o ponto que dá a Casal Improvável seu charme. Aqui, a princesa é ela.
Até há uma cena em que uma das assessoras de Charlotte compara o relacionamento dos dois a como se a Kate Middleton saísse com uma batata. Isso muda tudo para o ponto de vista masculino. Afinal, que homem nunca se sentiu uma batata em frente à sua princesa? É como diz em outro filme com o Seth Rogen, a gente coloca a vagina em um pedestal.
Casal Improvável me lembrou até de um outro filme que gosto bastante. Bom, na verdade é um desenho, ainda que esteja em cartaz nos cinemas agora em live-action. Falo de Aladdin.
Naquele clássico, acompanhamos um plebeu apaixonado por uma princesa. Ele tenta de tudo para conquistá-la, mas no final só precisava ser ele mesmo. Esta mentira que contamos para nossas crianças (como diz em Father Ted, “tá doido? Nunca seja você mesmo perto de mulheres!”) está a pleno vapor aqui. Afinal, Fred conquista a linda e bem sucedida Charlotte por ser um cara que realmente quer o melhor para o mundo e se incomoda com as atitudes das grandes corporações.
IDENTIFICAÇÃO
Para mim, o fator identificação foi ainda melhor, e não apenas por eu ser uma batata. Afinal, lá em 2004, quando criei o DELFOS, eu também era um sujeito bravo e altamente ideológico. Com o tempo, eu acabei ficando mais calmo e investindo mais no humor nos meus artigos, mas minhas opiniões políticas e sociais estão documentadas em meus textos antigos para qualquer um que as deseje ler.
Recentemente, alguém fez um comentário aqui ou em nossa página no Facebook, reclamando que eu estava politicando qualquer coisa.
Ora, o DELFOS, e toda a história do “jornalismo parcial” que fazemos desde o início, surgiu como uma posição política. Como uma análise feita em cima de como o jornalismo brasileiro era feito e como uma reação em cima desta insatisfação.
Então, quando a gente reclama que pegaram um galã para fazer o Elton John, ou expomos a forma antiprofissional com a qual fomos tratados pela assessoria da Disney depois de uma parceria de mais de 15 anos, isso é basicamente um retorno às origens. Assim como quando escrevo quatro parágrafos no meio de uma crítica para elaborar os motivos pelos quais me identifiquei tanto com o filme. Isso é o que torna o DELFOS, bem… o DELFOS.
E por que eu não falaria essas coisas? No caso, minha identificação com o personagem do filme é parte importante do porquê eu gostei dele. Assim, é tão natural eu falar sobre isso aqui quanto falar sobre a direção ou fotografia. Especialmente porque neste caso, isso foi MUITO mais importante do que a direção ou fotografia.
Desta forma, Casal Improvável é um filme recomendado a todas as batatas que, de alguma forma, conseguiram conquistar uma princesa. E a quem gosta do DELFOS justamente por nós sermos diferentes dos outros. Digamos que nós somos as batatas e você, o leitor/leitora, é nosso príncipe/princesa, que insistimos em tentar conquistar sendo nós mesmos.