Força Maior

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Sabe como dizem que nunca dá para saber como uma pessoa vai reagir a uma situação de perigo e que também é justamente nessas situações que um indivíduo tende a mostrar suas verdadeiras cores? Pois é justamente disso que trata o interessante Força Maior.

Mas antes de prosseguir, vale o aviso: apesar do que algumas sinopses que andei lendo por aí possam sugerir dada a presença de uma avalanche na história, não se trata de um survival horror ou de um filme-catástrofe. O que temos aqui é um drama totalmente centrado em diálogos, então cuidado para não ir assistir esperando uma coisa e quebrar a cara ao receber outra completamente diferente.

A trama trata de uma família sueca que vai passar férias num resort de esqui na França. Eis que ela acaba por testemunhar uma avalanche controlada (pelo que entendi, elas são causadas como medida preventiva justamente para evitar avalanches reais) que se prova não tão controlada assim, dando um susto nos hóspedes do lugar. E lembra do que eu falei lá no primeiro parágrafo? Pois é, o maridão dá aquela amarelada básica e sai correndo, largando mulher e filhos para trás.

Essa situação me lembrou imediatamente aquele ótimo episódio de Seinfeld onde ocorre algo similar com o George numa festa infantil. Confira aí no vídeo abaixo:

Mas como isso não é uma sitcom, quando o susto passa vem o constrangimento, a raiva e o ressentimento, o que deixa o casamento a perigo. O longa trata justamente daquela discussão de ser justo ou não julgar o comportamento de alguém em uma situação extrema que geralmente nunca acontece, sendo apenas uma hipótese, mas no caso retratado aqui, chegou perto.

Depois do embaraçoso ocorrido, o marido nega o fato com todas as forças tentando distorcer a história para esconder sua própria vergonha, enquanto a esposa vira um poço justificável de ressentimento, que estoura nos momentos mais inoportunos, geralmente envolvendo outras pessoas que não têm nada a ver com isso.

Prepare-se para muitas situações de vergonha alheia e constrangimentos sociais, e tentativas inúteis de tentar tapar o sol com a peneira e fingir que nada aconteceu. O legal do filme é justamente não ter meio termo e transformar o espectador em testemunha da lavação de roupa suja do casal e como cada um deles tenta racionalizar os problemas de forma diferente, puxando a sardinha para o seu lado.

Há quem não goste dessas tramas totalmente constrangedoras, de querer enfiar a cara na areia de tanta vergonha junto com os personagens (no humor, The Office, tanto o original britânico quanto a versão estadunidense, eram mestres nisso), pois criam um certo mal estar mesmo, mas particularmente eu gosto bastante desse tipo de enredo e dos temas que eles costumam abrir para serem explorados.

Além disso, a película tem um ritmo legal, com algumas passagens mais bem-humoradas e um belo visual de montanhas nevadas de encher os olhos. Isso, aliado à boa história e à sua condução impiedosa para com os protagonistas, transforma Força Maior numa ótima opção para quem estiver interessado em assistir a um drama de primeira linha ou simplesmente a um filme de qualidade. Recomendado.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
forca-maiorPaís: Suécia/França/Noruega<br> Ano: 2014<br> Gênero: Drama<br> Duração: 120 minutos<br> Roteiro: Ruben Östlund<br> Elenco: Johannes Kuhnke, Lisa Loven Kongsli e Vincent Wettergren.<br> Diretor: Ruben Östlund<br> Distribuidor: California Filmes<br>