Pedofilia é um assunto quente. E não, não quero dizer que é um assunto sensual, mas algo que traz audiência, tanto para matérias jornalísticas quanto para filmes e demais campos da cultura pop.
Este é exatamente o mote de À Procura. Um belo dia, Matthew (Ryan Reynolds) foi comprar uma torta de cereja e deixou a filhota esperando no carro. Quando voltou, ela não estava mais lá. Agora nosso amigo Lanterna Verde/Deadpool tem que lidar com a dor de ter perdido a pimpolha, com uma esposa que o culpa por isso e com a polícia (Rosario Dawson e Scott Speedman), que acredita que ele vendeu a moleca para pagar dívidas. Oito anos se passam, e os pais sequer sabem se a garota está viva ou morta. A polícia não ajuda muito, e o desesperado pai dirige por estradas na esperança de conseguir alguma pista.
A história é interessante, especialmente porque os reais meliantes parecem ser donos de uma rede de tráfico de garotinhas muito poderosa, com centrais de vigilância que parecem saídos de Watch Dogs. O filme em geral consegue prender a atenção, mas ele está bem longe de ser perfeito.
O poderio dos vilões é apenas sugerido, e nunca elaborado. Como eles conseguiram colocar tantas câmeras em tantos lugares diferentes? Como eles fizeram a menina se afeiçoar a eles? E afinal ela quer ou não escapar? Tivesse dado um insight maior na “instituição”, o longa teria se tornado bem mais interessante.
É um roteiro indeciso, o que se torna ainda mais claro pela não-linearidade da narrativa. A história vai e volta várias vezes, sem nenhuma indicação clara de em qual momento a cena está acontecendo. Isso, somado a uma lentidão geral para fazer as coisas andarem, acaba prejudicando bastante um filme que poderia até ser bem legal.
Quando funciona, no entanto, ele funciona bem. Não dá para não compartilhar da raiva do protagonista quando a polícia começa a sugerir seu envolvimento na coisa toda. Lembrou até, em parte, outro filme recente no qual isso também acontece. Refiro-me, claro, a Garota Exemplar, mas o filme de David Fincher é superior a este em todos os aspectos, com a possível exceção da trilha sonora.
À Procura ainda é acima da média, simultaneamente interessante e emocionante, mas carece de maior coesão e de uma mão mais firme na direção. É o tipo de filme que na TV até desce bem, mas no cinema fica mais difícil de recomendar.