O amigo delfonauta já ouviu falar do game America’s Army? Foi um jogo distribuído gratuitamente alguns anos atrás, bancado pelo governo estadunidense. A ideia era ser um FPS mais realista, visando mostrar para os jovens como guerra é legal e assim convencê-los a se alistar. Ato de Coragem é a versão cinematográfica deste game.
Se você já leu qualquer coisa sobre este filme, provavelmente leu que os personagens são interpretadas por militares de verdade. A história é fictícia, mas as táticas e armas são todas reais. Em outras palavras, temos aqui um filme de guerra cujo objetivo é ser mais autêntico.
UMA GUERRA FICTÍCIA DE VERDADE
Convenhamos, na melhor das hipóteses, os atores serem soldados não traria diferença nenhuma ao filme e, na pior, eles seriam incapazes de atuar. Para conseguir um ar mais autêntico, eu diria que o roteirista deveria ser militar, ou talvez até ter um consultor especialista nisso. Ainda assim, não sei por qual motivo, mas saber dessa peculiaridade do elenco me deixou um tanto ansioso para assisti-lo. E eu nem curto tanto filmes de guerra.
A história começa quando uma agente da CIA é raptada por terroristas. Um grupo de militares é incumbido de resgatar a moça e, ao fazer isso, acabam descobrindo que o buraco é bem mais embaixo.
Felizmente, os atores-soldados se deram muito bem no papel. Se em cenas levadas a diálogos é possível perceber sua falta de experiência, nos momentos mais voltados à guerra em si, a experiência que eles de fato têm faz diferença. A própria forma que eles se movimentam durante uma missão parece diferente do que o que costumamos ver no cinema.
A direção, ao contrário dos atores, se dá muito bem nos momentos mais parados. Temos alguns planos deveras criativos por aqui, bastante diferentes de qualquer coisa que já vimos antes. A influência de videogames é clara. A história tem um quê de Metal Gear Solid e tem vários momentos em primeira pessoa, nos quais você vê apenas a arma do soldado, exatamente como nos jogos Medal of Duty 42: Black Ops Warfare.
Infelizmente, nas cenas de ação, jogam tudo fora por optarem pelas câmeras mais tremidas da história, chegando inclusive a afetar a narrativa. Um bom exemplo disso é a cena em que a agente é raptada. Alguém toca a campainha, rola um tiro, a câmera fica tremendo por 20 segundos, e daí vemos a moça sendo carregada. É impossível dizer o que aconteceu durante esses 20 segundos, e se é para ser assim, por que não passar direto do tiro para o rapto? De qualquer jeito, é o próprio espectador que tem que montar a narrativa, então pelo menos economize tempo! =P
Isso se torna bem mais grave nas cenas de ação posteriores, que são bem longas e, graças a essa opção de filmagem, acabam ficando entediantes ao invés de emocionantes. E é uma pena, porque nas cenas em que os militares seguem um método de furtividade, e a câmera se comporta melhor, as coisas rolam muito, muito bem.
O filme funciona bem na maior parte do tempo, desde que você ignore o fato de que é tudo uma propaganda de guerra mais clara do que o Capitão América.
Isso, no entanto, se torna difícil quando o longa termina com a frase “dedicado a todos os soldados da liberdade, que lutam contra as forças do terror”. Isso chega a ser revoltante. Afinal, como todo mundo menos os estadunidenses sabe, o terrorista de um é o guerreiro da liberdade dos outros. E com certeza o povo dos países constantemente invadidos por estes “soldados da liberdade” não tem muito a agradecer por estar recebendo a visita forçada da democracia. Taí um ponto de vista que eu realmente gostaria de ver em um filme de guerra que se diz autêntico e realista. Você não? ^^
CURIOSIDADES:
– Outra relação com videogames: Ato de Coragem conta com colaboração do Tom Clancy. Você sabe, é aquele cara egocêntrico que faz um monte de jogos e coloca seu nome no título de todos eles. Trollbait, bitch!
– Este filme tem dois diretores e apenas um roteirista. Alguém conhece outros longas que têm mais diretores do que roteiristas?