Superman: Entre a Foice e o Martelo

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As Aventuras de Jerry Seinfeld e Super-Homem – Um encontro inusitado, mas divertido.

Há uns dois anos, quando vi essa minissérie nas bancas, fiquei louco para comprar. Achei a premissa muito interessante e adoro histórias que exploram uma dimensão paralela tanto do universo Marvel quanto do DC, pegando apenas a personalidade dos personagens e alterando todo o contexto em que vivem. Infelizmente, perdi a primeira edição e acabei desencanando de comprar as outras duas porque odeio ler “sagas” incompletas.

Qual não foi minha surpresa quando, enquanto passeava por um stand de uma famosa livraria na Bienal de Livros aqui em São Paulo, dou de cara com a mesmíssima minissérie completinha e com um preço camarada com 20% de desconto? Pois é, comprei na hora e agora divido com os delfonautas minhas impressões sobre essa, que é considerada por muitos fãs como a melhor história do homem de aço nas últimas décadas.

Em primeiro lugar, vamos comentar o roteiro que nos mostra o que aconteceu quando a espaçonave do nosso Kal-El (o nome Kryptoniano de você sabe quem. Não, não é o Voldemort) caiu em uma fazenda coletiva na Ucrânia em 1938 e não nos EUA em Smallville (Pequenópolis) como na cronologia original. O Super-Homem cresce com os mesmos poderes e a mesma maturidade, porém dentro dos rígidos conceitos do comunismo soviético e, conforme demonstra seus super atributos, se transforma no símbolo da superioridade do regime socialista sobre o resto do mundo e estabelece os parâmetros para a Guerra Fria que dividiu nossa civilização na segunda metade do século passado.

Do outro lado do planeta, o homem mais inteligente do mundo, Lex Luthor (aqui casado com Lois Lane), funciona como um assessor para o governo dos EUA em questões políticas, econômicas e militares e encara a derrota desse Super-Homem soviético como o grande desafio de sua vida e a provação de seu intelecto superior sobre os outros seres humanos.

Basicamente e sem revelar muito, esse é o roteiro geral: a briga entre Super-Homem e Lex Luthor, porém em um contexto bem diferente do que conhecemos, já que um representa os ideais do comunismo (e todos os seus vícios) e o outro representa o lado capitalista (e também sua ganância). O interessante é que não temos aqui mocinhos e bandidos. Ambos os personagens apresentam virtudes e defeitos exatamente como os lados históricos que representam.

Como não poderia deixar de ser (e aconteceu também em 1602 da Marvel), uma penca de personagens da DC aparecem, nem todos nas versões que conhecemos, mas com suas personalidades intactas, com uma exceção que comento abaixo. Jimmy Olsen, Lois Lane, Perry White, Guy Gardner, Hal Jordan, Bizarro, Brainiac, Mulher-Maravilha e o Batman. Esse último em uma versão bem diferente da que conhecemos e, se pensarmos um pouco, podemos concluir que não é o nosso Bruce Wayne.

Figuras históricas também dão as caras para complementar a ambientação e o autor, o famoso Mark Millar, também não poupa os defeitos de suas personalidades. Imagino que não deva ter sido fácil para o público estadunidense encarar os defeitos do presidente Kennedy (segundo pesquisa recente, o mais querido daquele país em todos os tempos), aqui mostrados de maneira explícita. É interessante observar também algumas coincidências como, por exemplo, o fato do nome “Stalin” (o líder e ditador da União Soviética entre os anos 20 e 50) querer dizer “Homem de Aço” em russo.

Sempre preferi a Marvel à DC, mas com a queda bruta na qualidade dos gibis da Casa das Idéias, resolvi dar uma chance para a concorrência e imediatamente me apaixonei pelas histórias do Batman, mas nunca tive muito contato com as sagas do Super-Homem, por isso não arrisco dizer se essa é de fato a melhor história do azulão nos últimos anos, mas com certeza posso afirmar que o que temos aqui é superior a tudo o que a Marvel fez na última década e fim de papo (ao ler esse ponto, surpreendido por tamanho disparate, o Corrales tem um enfarte).

Millar mostra conhecer muito bem a natureza de cada personagem e trabalha com todas as suas características psicológicas, mas isso não quer dizer que a história é perfeita. Na verdade, o grande problema de Entre a Foice e o Martelo é justamente o roteiro que varia entre momentos mágicos e monótonos, cheios de informações desnecessárias que apenas confundem a cabeça do leitor. No geral é bem estruturado e temos algumas cenas bem inspiradas, como a aparição da tropa dos Lanternas-Verdes (perfeito).

Infelizmente, a DC não optou por um estilo de ilustração mais realista, nos moldes de Alex Ross, que cairia como uma luva na história. Mas os desenhos de Dave Johnson e a arte final de Andrew Robinson são bonitos e corretos para o que o roteiro propõe (repare que o desenhista sempre enche os quadrinhos de detalhes ocultos e a expressão dos personagens é muito marcante).

A tradução também comeu bola ao batizar a versão nacional como Entre a Foice e o Martelo sendo que o original se chama Red Son (Filho Vermelho), um nome mais coerente com todas as metáforas encontradas.

Eu poderia passar páginas aqui divagando sobre todas as reflexões filosóficas e ideológicas que a história nos passa, especialmente em seu final onde parece que Millar chuta o balde, mas prefiro deixar todas as conclusões para os leitores e, se alguém quiser, podemos conversar mais a respeito por e-mail ou por comentários.

Uma minissérie bem legal para os fãs e simpatizantes de plantão. Só não leva o selo delfiano supremo pelos pequenos problemas de roteiro e desenhos acima mencionados, mas pode comprar sem medo.

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
superman-entre-a-foice-e-o-marteloPaís: EUA<br> Ano: 2003 (EUA) / 2004 (Brasil)<br> Autor: Mark Millar (roteiro) e Dave Johnson (desenhos)<br> Editora: Panini<br>