Quando você sai do cinema e, ao invés de pensar no filme que acabou de assistir, só consegue se perguntar o que o título dele significa, é porque tem coisa muito errada com a película.
Factotum – Sem Destino não chega a ser um desastre, mas também não se enquadra na categoria dos filmes nada, pois não mata o tempo de maneira minimamente satisfatória. É uma obra que simplesmente não faz a menor diferença se existe ou não, e a história simplesmente não tem nenhum potencial para prender a atenção do espectador.
Baseado no livro de mesmo nome de Charles Bukowski e em trechos de outros de seus textos, o filme conta a história de Henry Chinaski (Matt Dillon, cada vez mais parecido com o tremendão Bruce Campbell), alter ego do próprio Bukoswki. Henry, aspirante a escritor, mas que ainda não teve nenhum texto publicado, passa de um emprego tosco ao outro em questão de dias, pois sempre é demitido por não gostar de trabalhar (também, com os trampos que ele pega até eu faria a mesma coisa). Ele curte mesmo é passar os dias apostando nas corridas de cavalos e as noites enchendo a cara. E é isso.
Sério, o filme se limita a mostrar a vidinha besta e desinteressante de um homem pelo qual não dá pra ter simpatia nenhuma (mas que, por alguma razão inexplicável, não tem o menor problema em arranjar mulheres). Não tem como torcer para ele alcançar seus objetivos (mesmo porque ele parece não ter nenhum), e tampouco torcer para ele se dar mal, pois o figura não chega a provocar ódio. A única coisa que o protagonista e o filme causam é a mais pura indiferença.
Agora eu entendo o que o Modest Mouse quis dizer em sua música chamada Bukowski, que contém os seguintes versos, já devidamente traduzidos especialmente para você, caro delfonauta: Acordei esta manhã e me pareceu que cada noite fica um pouco mais como Bukowski / E é, eu sei que ele é uma leitura muito boa / Mas, Deus, quem gostaria de ser / Deus, quem gostaria de ser tão cretino (aqui eu dei uma aliviada, pois o DELFOS é um site família e evita palavrões)?
Acertaram em cheio. Pois é, Bukowski pode ser até uma leitura muito boa, mas este filme baseado em sua obra não é nada agradável. E se Henry Chinaski é mesmo uma versão romanceada do próprio Bukowski, então ele de fato era um cretino. Para aqueles fascinados por tipos considerados “escória” e sempre na pindaíba, este filme talvez (e talvez mesmo) tenha algum apelo. Se sua praia não for dar um passeio pelo lado selvagem, esqueça. Não vale a pena. E eu continuo sem saber o que é um factotum.