Você gosta de sentir aflição? Não me refiro à violência exacerbada e gratuita de um Paixão de Cristo, mas àquele tipo de violência não tão gráfico, mas muito mais impressionante? Convenhamos, é muito pior ver um homem cortando o próprio pé do que isso ser feito por terceiros. E esse é o grande trunfo da série Jogos Mortais. O Serial Killer não mata as pessoas, mas as obriga a fazer coisas horríveis. A primeira cena desta segunda parte, principalmente, é deveras assustadora.
O filme, no geral, não é tão diferente do primeiro. Tem inclusive ares de remake. Temos um grupelho de pessoas cuja vida está limitada a duas horas, presas em uma espelunca. Para escapar, eles precisam resolver uma série de enigmas, muitas vezes envolvendo coisas horríveis. Por outro lado, temos a polícia que tenta encontrá-los, não porque são heróis, mas apenas porque o filho de um dos policiais está entre eles.
Assim como no primeiro, a ação se desenrola alternando entre os dois lados. E, assim como no primeiro, quando estamos com as vítimas, o filme é fenomenal. Quando estamos com a polícia, é entediante. Isso se deve principalmente ao terrível personagem que colocaram como protagonista: um detestável detetive chamado Eric Mathews. E se o personagem já era ruim, ainda pegaram um insosso Donnie Wahlberg para interpretá-lo. E o pior é que tudo indica que o personagem será mantido na seqüência (Jogos Mortais 3 já foi anunciado). Todos juntos agora: “Nããããããããão!”.
Na verdade, a única cena boa do lado da polícia é quando o protagonista e o assassino batem um papo no melhor estilo Silêncio dos Inocentes. Tirando o fato de que John Kramer (na boa, não dá para levar a sério um personagem com esse sobrenome) está muito longe de um Hannibal Lecter.
Já do outro lado é onde fica a graça do filme. Mas nem isso é perfeito, já que existem poucos enigmas a serem resolvidos nos curtos 90 minutos de duração. Quando você está entrando no clima, o filme acaba, o que é realmente frustrante.
Como ligações com a primeira parte, temos “a vítima que sobreviveu”, interpretada pela deliciosa Shawnee Smith que fazia aquela série Becker, com o Ted Danson. Também temos de volta alguns cenários, como aquele banheiro onde a maior parte do primeiro filme acontece. Infelizmente, o diretor opta por achar que temos amnésia e, no momento em que o banheiro aparece, gasta uns 5 minutos do longa repetindo frases faladas no primeiro filme.
E enfim chegamos ao final. Como já sabemos a identidade do assassino desde o final do primeiro filme, estava claro para mim que não haveria surpresas. Eu estava errado. Jogos Mortais 2 tem um dos melhores finais de filmes de terror desde A Chave Mestra, com a diferença de que este é bom mesmo antes do final. O negócio é tão bom que eu saí do cinema pensando se não merecia levar o (rufem os tambores) SELO DELFIANO SUPREMO (tantantan). Após repassar o filme na minha cabeça contudo, vi que não é para tanto. É bão, mas deveria ser melhor.
Jogos Mortais 2 vai entrar para a história. Não como um ótimo filme (o que ele é) ou como algo assaz inovador (o que não é), mas como uma das seqüências mais rápidas da história. Ainda este ano, Jogos Mortais estreou nos cinemas tupiniquins e 11 meses depois, podemos desfrutar de outra empreitada tão boa quanto a primeira. Vamos torcer para que a série mantenha a qualidade. E fica a pergunta: onde diabos estava aquele maledeto arco-íris citado no início da armadilha?