Delfonauta dedicado sabe de uma coisa: eu amo a Telltale Games. A ponto de ficar realmente triste quando ela morreu, e até escrever um sentimental obituário. Pois veja só, ela de fato faleceu depois de The Walking Dead: The Final Season. E deixou saudades. Mas parte de seus assets foram adquiridos pela LCG Entertainment, que reformulou a Telltale. Muitas pessoas não quiseram voltar, mas aparentemente 50% voltaram. Esta é nossa análise The Expanse: A Telltale Series, o primeiro jogo lançado após este terremoto.
ANÁLISE THE EXPANSE: A TELLTALE SERIES
Devo começar admitindo que ainda não assisti à série de TV The Expanse (deveria? É bacana? Dê sua opinião nos comentários!). Então meu primeiro contato com ela foi através deste jogo, como já aconteceu antes com The Wolf Among Us e Game of Thrones (ambas eu fui conhecer melhor depois de jogar). Mas permita-me já começar sem delongas: The Expanse, pelo menos neste jogo, foi a série da Telltale que menos falou comigo.
Ele traz muito do passado da empresa. Ainda é uma história episódica contada em cinco capítulos (felizmente agora lançados com um espaçamento MUITO menor) onde suas decisões, teoricamente, afetam a narrativa. É aquela ilusão de sempre, mas continua funcionando. O estilo gráfico é o mesmo, assim como a proposta de fazer uma prequência para a propriedade original.
A PREQUÊNCIA DE THE EXPANSE
Aqui a gente vê a Camina Drummer (Cara Gee reprisou seu papel), em uma caça ao tesouro que aconteceu antes da personagem entrar em The Expanse (a série de TV). Não vou me ater a muitos detalhes além disso para limitar os spoilers. Porém, o jogo acaba ficando auto-limitado por sua opção de personagens e linha do tempo.
Afinal, ele não pode deixar você fazer algo que contradiga a personagem original. Neste ponto, lembra o jogo da Michonne. Da mesma forma, o final é surpreendentemente sem opções. As escolhas sempre foram uma ilusão nos games da Telltale, mas chama muito a atenção quão pouco suas decisões de fato afetam a conclusão da história. Inclusive, no último episódio tem vários momentos em que parece que você vai precisar escolher algo, mas a protagonista simplesmente escolhe por você.
QUICKTIME EVENTS
Outras coisas tradicionais da Telltale também retornam, como as cenas de ação com quicktime events. Estas têm a novidade de você poder ativar um aviso antes de começaram, o que achei ótimo. Eu tenho mania de largar o controle durante cutscenes longas, e o aviso acabava servindo para me fazer pegá-lo de volta.
Tirando isso, as QTEs funcionam no mesmo esquema de sempre, solicitando que você aperte botões específicos para dar a sensação de que você está fazendo aquilo. Como boa parte das cenas de ação são tiroteios, os controles emulam os de um Call of Duty da vida, em que o L2 mira e o R2 atira.
ANÁLISE THE EXPANSE: NOVIDADES
Talvez a principal novidade, no entanto, seja a quantidade de gameplay. The Expanse não é apenas uma sequência de cutscenes, mas boa parte do seu tempo é um walking simulator. Neste aspecto, ele está mais para Fort Solis do que para os clássicos da Telltale.
Os cenários, especialmente quando você está livre para voar no espaço, são realmente largos. E tem muita coisa que você pode não ver se optar por seguir o caminho mais curto da história. Boa parte destes caminhos alternativos levam a troféus ou colecionáveis – que por sua vez geram mais troféus. Então The Expanse é muito mais um coletaton do que qualquer outro jogo da Telltale. Isso não vem em detrimento da história em si, mas certamente vai afetar aqueles que, como eu, têm TOC e sofrem em terminar um jogo sem ver tudo que ele oferece.
Além disso, sempre achei que o melhor da Telltale eram as cenas com decisões intensas. Sempre foi possível andar um pouquinho nesses jogos, mas estas sempre foram as partes mais curtas e menos interessantes. Aqui rolam até pequenos trechos de stealth, em que você deve desviar de luzes. Nada muito desafiador, claro, mas neste aspecto talvez The Expanse seja um tanto próximo de Beyond Two Souls, que também tinha este tipo de cena.
TELLTALE FORA DE FORMA, OU CRIANDO UMA FORMA NOVA?
Ao vermos os menus do jogo, a sensação é que The Expanse foi criado pela Deck Nine. O Google diz que Telltale é editora e compartilha os créditos de desenvolvedora com a Deck Nine. De qualquer forma, The Expanse é suficientemente diferente dos games anteriores para sentir que não foi feito pelas mesmas pessoas. É tipo um Creedence Clearwater Revisited, uma banda cover de respeito, que pode até ter uns membros originais, mas que não substitui aquilo pelo qual nos apaixonamos no passado.
The Expanse é o jogo mais fraco dentre os adventures modernos da Telltale, se contarmos todo o catálogo lançado por este nome. O foco em exploração tirou energia e timing da narrativa, assim como é pura perda de tempo ficar caçando colecionáveis para ganhar troféus.
Porém, se o analisarmos como o primeiro jogo da nova Telltale, que é o que de fato é, podemos considerá-lo um início promissor. A questão para o futuro é se a nova Telltale seguirá seu próprio caminho, ou se vai andar pelas grandiosas pegadas de sua progenitora. O que você prefere?