Treze anos depois do game feito pela saudosa Telltale Games, Guybrush Threepwood, poderoso pirata, volta aos videogames pelas mãos de dois dos três criadores originais. Só Tim Schafer ficou de fora, pois Ron Gilbert e Dave Grossman retornam em 2022 a uma de suas criações mais queridas. Bem-vindo à nossa análise Return To Monkey Island.
ANÁLISE RETURN TO MONKEY ISLAND
Se você nunca leu o DELFOS antes, tem algumas coisas que você precisa saber. Primeiro, eu dei a The Curse of Monkey Island, o terceiro game da Ilha dos Macacos, o posto de melhor jogo de todos os tempos. Eu realmente gosto muito desses personagens e do humor inocente e bobinho da série.
Segundo, eu acho que este gênero, os populares adventures point and click, simplesmente não têm o mesmo apelo do passado. Não acho que este tipo de gameplay envelheceu bem e, embora eu ainda tenha o hábito de jogar e analisar novos games do gênero, não acho que é possível um real revival, como tivemos com os beat’em ups. Este tipo de gameplay evoluiu para as histórias interativas que popularizaram a Telltale e a Quantic Dream, e hoje moram apenas na nostalgia.
Com este adendo, devo esclarecer que é ótimo ver novamente esses personagens, alguns com seus atores originais de volta. Mas sinceramente preferia assistir a uma animação com eles do que jogar um novo Ilha dos Macacos. Simplesmente não me agrada mais ficar clicando em tudo interativo no cenário para ver o que dá para pegar, e depois ficar usando cada item do inventário em tudo que aparece para ver onde encaixa.
ILHA DOS MACACOS MODERNO
A boa notícia é que os criadores parecem concordar comigo. A experiência de Return to Monkey Island é bastante customizável. Tem um modo casual, com puzzles mais simples para quem quiser curtir mais a história. Tem um modo hard, com a experiência completa. E ainda há opção de jogar a “versão dos escritores”, que aumenta a história e a quantidade de personagens, mas que com isso diz ficar com um timing pior.
Para esta análise, optei jogar a “versão de cinema”. Ou seja, modo casual, sem ativar a versão dos escritores. Talvez em algum momento do futuro, volte a ele para a “versão estendida”, mas achei que para esta primeira mergulhada na história, esta parecia ser a melhor opção.
ANÁLISE RETURN TO MONKEY ISLAND: HISTÓRIA
O principal em qualquer point and click é a história. E Gilbert divulgou que Return to Monkey Island continuaria do final de Monkey Island 2. Isso é verdade. O tutorial do novo game pega daquele ponto estranho, com as versões infantis de Guybrush e LeChuck. Mas é apenas um tutorial que explica o que diabos vimos naquele jogo de 30 anos atrás.
A história em si acontece depois de todos os outros jogos da série. Muitos anos depois da sua última aventura, nosso pirata preferido, Guybrush Threepwood, percebe que ele nunca encontrou o Segredo da Ilha dos Macacos. Caramba, este era o título do primeiro jogo. Não dá para ficar assim. Então ele embarca em uma nova jornada, com o objetivo de encontrar o segredo. Mas adivinha só!
O vilão LeChuck teve a mesma ideia. Pois é, parece que ele finalmente desistiu de tentar casar com a Elaine, e agora também quer concluir sua carreira fazendo o que Guybrush nunca conseguiu.
GILBERT E GROSSMAN
É um setup inteligente. Ao mesmo tempo, permite que Gilbert e Grossman encerrem aquele cliffhanger bizarro que nunca tiveram possibilidade de terminar. E consegue manter toda a série como parte da cronologia, permitindo trazer de volta alguns dos personagens mais queridos que surgiram nas continuações.
Em especial, claro, Murray, a demoníaca caveira das trevas, está de volta com seu ator original (Denny Delk). Devo dizer que seu retorno ainda não é tão legal quanto sua participação em Curse of Monkey Island. Mas é muito melhor do que as aparições que o personagem fez depois disso.
Aliás, muitos personagens dos games anteriores voltam, em especial dos dois primeiros. Temos Otis, Carla, Stan, Wally. Há uma grande chance que seus preferidos estejam no jogo, mas admito que senti muita falta dos canibais vegetarianos da Ilha dos Macacos. Será que eles aparecem na versão dos escritores?
ANÁLISE RETURN TO MONKEY ISLAND E O GAMEPLAY
O gameplay é uma versão mais moderna dos adventures de outrora. Você controla os movimentos do Guybrush com a alavanca esquerda, mas com a direita pode mover o cursor entre os objetos interagíveis. O que eu não gostei é que, para os interagíveis aparecerem, você deve estar segurando o L e o R.
Deveria ter uma opção para iluminá-los permanentemente, ou pelo menos segurando um único botão. É comum você entrar em uma nova tela com dezenas de interagíveis e, mesmo segurando os botões, os ícones sumirem enquanto você está navegando para clicar neles. É bem chatinho. Também há uma certa falta de polimento, como legendas que aparecem em cima de outras ou em cima dos textos de interação.
O QUE SE ESPERA DE UM MONKEY ISLAND
De resto, o gameplay é o que você espera dele. Você explora cada tela, pegando tudo que conseguir. Conversa com todo mundo. Finalmente, resolve os puzzles descobrindo o que usar em cada ponto. Pelo menos no modo casual, Return to Monkey Island é bem sossegado, sem aqueles quebra-cabeças cabeçudos de outrora (imagino que estes estejam no modo difícil, para quem quiser). A coisa só fica um pouco mais cascuda na Parte 4, quando praticamente todas as telas fazem parte da exploração ao mesmo tempo.
Ainda assim, Return to Monkey Island traz uma ferramenta de dicas embutidas. A qualquer momento, você pode abrir um livro, onde há explicações de como alcançar todos seus objetivos atuais. É uma mão na roda!
Mesmo quando estes jogos estavam no auge, eu não gostava de ficar andando de um lado para o outro usando todos os itens que tinha em tudo que era lugar. E daí, quando “dava certo”, eu sentia que “nunca pensaria nisso”. Mesmo em jogos mais modernos, como Broken Age, eu sempre precisava sair do jogo para procurar soluções na internet. Return to Monkey Island, por outro lado, é autossuficiente, e isso o deixa muito mais agradável.
ANÁLISE RETURN TO MONKEY ISLAND: HUMOR E PERSONAGENS
Este é o real prato principal aqui. Eu adoro esses personagens, e os atores são fantásticos. Em especial Dominic Armato como Guybrush é perfeito. Ele consegue sempre passar uma ingenuidade que faz com que Guybrush continue simpático mesmo quando faz coisas que não são legais.
Aliás, este é um dos pontos que mais gosto em Ilha dos Macacos. Assim como em Corra que a Polícia Vem Aí, é um humor bem bobo, mas totalmente sem maldade. É tudo inocente, feito sem intenção de prejudicar ninguém e, mesmo quando prejudica, os personagens não se importam muito com seus predicados.
É um humor infantil, que agrada muito as crianças, mas também aos adultos com ilhas da bobeira desenvolvidas. Verdade, Return To Monkey Island não me fez gargalhar com a potência ou frequência dos primeiros jogos. Mas, por outro lado, eu também não tenho mais 11 ou 12 anos. Ainda assim, me diverti bastante com a história e ri bastante. O texto do jogo ainda é muito bom, ainda que hoje em dia eu o valorize de uma forma totalmente diferente do que quando era criança (mais ou menos como acontece com Calvin e Haroldo). O problema é o final.
THE SECRET OF MONKEY ISLAND
O jogo até tira sarro do fato de que Ron Gilbert e Dave Grossman são péssimos para criar finais. Mas a sensação é que eles nem tentaram fazer algo legal na conclusão. A coisa é tão sem sentido quanto o final do segundo jogo – e muito parecido, aliás. E o “segredo” em si é spoilerado nos primeiros minutos se você prestar atenção.
Mais grave do que isso, vários personagens importantes, como Wally e a Moça do Vodu, não têm histórias concluídas. Estes personagens são largados no meio de uma linha narrativa que nunca chega ao fim. E sinceramente não acho que são sementes para um próximo jogo, pois a essa altura acredito que seja muito difícil que de fato tenhamos outra chance de voltar à Ilha dos Macacos.
VISUAL
Por fim, queria terminar falando do visual. Historicamente, Monkey Island estava na vanguarda da tecnologia da época, pelo menos até o terceiro jogo. Monkey Island era o The Last of Us dos anos 90, pelo menos graficamente. O terceiro, em especial, tem um visual de desenho animado que muito pouco deixa a dever a um longa metragem de cinema. É o estilo que eu esperava ver em um novo Ilha dos Macacos.
Porém, os criadores optaram por um estilo diferente, o que gerou assédio e abuso por parte dos sempre compreensíveis fãs na internet. Eu também não gostei quando vi. É diferente do que esperava e do que gostaria. O que não significa que seja feio.
Return To Monkey Island tem um visual em que os bonequinhos parecem feitos de papel. Imediatamente, me lembrou do estilo de Guacamelee. Jogando, senti até mais semelhanças com os games de South Park. É um estilo que me agrada, e certamente é um jogo muito bonito. Particularmente, eu ainda prefiro o jeitão “desenho animado de alto orçamento” para Monkey Island, mas admito que, ao jogar, achei tudo mais bonito do que esperava após a primeira impressão de quando vi o trailer.
DE VOLTA À ILHA DOS MACACOS
Foi legal voltar à Ilha dos Macacos? Cara, eu adoro esses personagens! Guybrush e sua turma estão entre as maiores memórias afetivas da minha infância. E eles ainda são muito bons hoje em dia.
Porém, o videogame Monkey Island não traz mais o mesmo envolvimento de outrora. As melhorias de qualidade de vida e os puzzles mais casuais presentes em Return To Monkey Island ajudam a tornar o game mais prazeroso. Mas não mudam o fato que hoje em dia eu preferia ver estes personagens em uma animação não interativa. Ou, talvez, em uma história interativa como aquelas criadas pela Telltale e Quantic Dream.
E você? Também lembra com carinho desses personagens? Acha que o estilo point and click ainda dá liga em 2022? Me delfone com vontade nos comentários!