Mais um ano está acabando e um novo ano prestes a chegar, e como você já sabe, isso significa um novo especial de melhores do ano aqui no DELFOS. E como estamos sempre tentando inovar, desta vez não só vamos escolher os mais tremendões de 2012 nas mais diversas categorias, como vamos de fato aproveitar todo o sentido que o termo “especial de fim de ano” tem a oferecer. E o negócio vai longe: vamos adentrar janeiro com as seleções delfianas, sempre com pelo menos uma matéria por semana. Então não deixe de conferir.
A exemplo do ano passado, novamente coube a mim a responsabilidade de dar a largada neste especial, visto que o tema do meu apanhado parecia bem apropriado para começá-lo. Desta vez, uso minha matéria para explicar ao amigo delfonauta justamente porque eu desprezo a época de final de ano. Vejamos:
5 – QUANDO TODO ANO ACABA, IMEDIATAMENTE COMEÇA OUTRO
“Dããã, não me diga!”, você deve estar pensando ao ler este tópico. Mas calma, antes de me chamar de retardado (ou mentalmente prejudicado, se você for adepto do politicamente correto), acompanhe o raciocínio. “Oba, mais um ano está acabando. Ano que vem vai ser diferente, cheio de promessas e novas possibilidades!”.
Seja sincero, quantos novos anos realmente trouxeram algo de novo ou bom e não foram simplesmente repetecos do ano anterior, com a única diferença de que você acabou de ficar um ano mais velho? Pois é, o ano que começa não é tão empolgante assim. A meu ver, o ano que entra não merece ser celebrado como se fosse a última bolacha do pacote porque, bem, ele não é! Ele é só a bolacha atual, que está bem no meio do pacote.
E mais, como um grande entusiasta do fim do mundo, toda virada de ano é uma grande ducha de água fria. Espero ansioso como Lino na plantação aguardando pela Grande Abóbora, e ela nunca chega.
Onde está o apocalipse zumbi? A chuva de meteoros? As invasões alienígenas? Os buracos negros? Onde está o armagedom que tantos prometem e ninguém cumpre? Alguém se lembra do bug do milênio? Que grande decepção foi aquilo! Se você está lendo essa matéria, é porque os maias também falharam em suas previsões, e 2013 vai ser igualzinho ao anterior, sem mortos-vivos e com mais cabelos brancos. Que saco!
4 – É IMPOSSÍVEL ASSISTIR TELEVISÃO
Época de virada de ano é o inferno absoluto para quem, como eu, tem no ato de assistir televisão uma das formas preferidas de dar aquela relaxada e matar o tempo fazendo algo completamente improdutivo. A desgraça começa algumas semanas antes do Natal e só vai acabar semanas após o réveillon.
A TV aberta, que em épocas normais já é ruim, consegue ficar pior ainda no período. Dá-lhe especiais tosquíssimos de tudo quanto é tipo, nenhum com um mínimo de qualidade, culminando na coisa mais nefasta que eu já tive de aguentar na telinha: o Show da Virada. Um bando de artistas populares dos mais díspares gêneros fazendo playback vestidos de branco e agindo como se tudo fosse lindo e maravilhoso. E pior é que quase todo ano são sempre as mesmas figuras. Eu não aguento mais ver Ivete Sangalo e Capital Inicial dublando as mesmas músicas. Todo ano sinto como se eu tivesse voltado no tempo e isso me deixa muito paranoico.
Graças a Satã pela invenção da TV a cabo, certo? Errado. Porque época de final de ano é sinônimo de reprises. Incontáveis, infinitas, implacáveis reprises. Sendo este o período de hiato de férias de fim de ano dos seriados, é só episódio repetido. E, claro, todos os filmes exibidos são aqueles de Natal, com altas confusões do barulho passadas durante o período das festas, com muita neve e lições de moral. Isso vale também para a TV aberta.
Antes de passar ao próximo tópico, contudo, devo fazer uma ressalva. A exceção é o especial do Roberto Carlos. Tudo bem, todo ano é a mesma coisa, a mesma roupa azul e o mesmo setlist. Mas o cara é o rei e tem uma perna de pau. Ele é quase um pirata, então ele pode!
3 – TEM CONFRATERNIZAÇÃO DEMAIS
Outra que é meio óbvia, mas me irrita pra caramba. Nessa época todo mundo fica extrafeliz e simpático, desejando boas festas até para a quinta geração dos meus descendentes e antepassados, como se a humanidade fosse assim costumeiramente. Dia dois de janeiro, contudo, tudo volta ao normal. Essas mesmas pessoas podem passar com o carro por cima do meu pé, berrar que a culpa foi minha, e dizer que eu mereci. Parece coisa saída do O Médico e o Monstro.
Hipocrisia à parte, não me entenda mal, eu até gosto de confraternizar. Mas em quantidade limitada e em ocasiões de fato especiais, e não em algo tão trivial e corriqueiro como o fim de um ano e o começo de outro (ou o suposto nascimento do JC). Como já estabelecemos, isso tem todo ano, sempre na mesma data. Dessa forma, fica tudo forçado, vira carne de vaca, com ares de falsidade extrema.
Vamos comemorar o nascimento do menino de Belém, mas não a extração dos meus dentes do siso? Pô, essa é uma ocasião única na vida. Mas, aparentemente, algo que ninguém tem certeza se de fato aconteceu e, se aconteceu, foi há mais de dois mil anos e do outro lado do mundo, é mais importante. Pelo menos eu tenho os dentes para provar que a minha ocasião realmente rolou. E ninguém comemorou. Sacanas!
2 – É DEPRIMENTE
A essa altura você já deve ter percebido que eu não gosto desse período. Se não percebeu, minhas desculpas. Achei que estava claro, afinal, você está lendo uma matéria inteira explicando porque não gosto dele! Não só não gosto, como sempre fico deprimido. É inevitável, todos esses fatores já tratados no texto, aliado a outros que nem entraram aqui por falta de espaço, contribuem para me deixar mais ou menos assim:
Nada de zumbis, nada para assistir, pessoas sorridentes que eu nunca vi mais gordas me desejando um feliz Natal e próspero ano novo, reunião de família, peru requentado e farofa ressecada, espumante choco. O horror, o horror… E eu só queria ficar no meu canto, sozinho, curtindo minha melancolia. De preferência, pelado. Mas as convenções sociais me obrigam a usar roupas. Quem sabe ano que vem? Enquanto isso, vou levando, sempre no fio da navalha. E o fio da navalha está perigosamente próximo dos meus pulsos.
1 – TENHO QUE PENSAR NO ESPECIAL DE FIM DE ANO DELFIANO
Aí você me diz: ao menos nessa época o pessoal dá uma parada por conta dos feriados. Bom, não aqui no DELFOS, meu amigo. Por aqui não tem moleza e trabalhamos também nessa época. Ou você acha que nossos especiais de melhores do ano se escrevem sozinhos?
E não basta apenas ter de trabalhar quando todos os mortais normais estão de pernas para o ar, tomando uma cervejinha na sombra do meio-dia, ainda tenho de quebrar a cabeça pra isso.
Em anos anteriores, quando fazia minha lista de melhores filmes, tinha de relembrar tudo que havia assistido para fazer minha seleção. Isso não seria necessariamente ruim se também não tivesse de escolher o pior e a decepção. Isso é como reviver velhos traumas de guerra, delfonauta. Afinal, quem em sã consciência vai querer se lembrar de coisas como essa ou essa? Pois é, nós sofremos pela sua diversão.
E agora que nossa equipe cresceu e nosso especial está mais variado, tenho de rachar a cuca pensando numa boa matéria. Pensar é difícil. Ser criativo também. E eu sou preguiçoso e mal-humorado. Combinação letal, especialmente para essa época do ano. Em minha primeira tentativa, após muito sofrer, até que me saí bem.
Mas justo quando achei que esse ano ia escapar e ficar numa boa, assistindo ao especial do Robertão, o Corrales me intima a participar novamente (é a tradição, ele me disse) e criar uma nova pauta. Resultado: cá estou mais uma vez.
Por que o mundo me odeia? Por que ele não acaba antes? E depois ainda me perguntam por que não gosto de final de ano…