4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

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De alguns filmes, esperamos puro entretenimento, os tradicionais “cinema pipoca”. De outros, algo mais. Uma discussão, algum sentimento especial, quem sabe até alguma originalidade? Esses são os que passam no popularmente conhecido por circuito cabeção.

Se você constata que o objeto de análise desta resenha é um longa romeno falando sobre um tema espinhudo como o aborto, é claro que não vamos esperar explosões, frases de efeito ou palavras como “fanfarrão”. Infelizmente, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias também falha ao nos trazer as boas qualidades do cinema cabeção.

A sinopse oficial dá a entender que é quase um suspense e que o aborto é o tema principal do negócio. Isso é falso. Trata-se de um dramalhão, onde o aborto é apenas um estopim para os sentimentos da protagonista – que não é a futura ex-grávida.

Para começar, a tal operação só entra em pauta lá pelos 40 minutos de projeção. Até então, é apenas a história de uma moçoila tentando alugar um quarto de hotel em uma cidade onde parece que todo mundo é ainda mais antipático do que em São Paulo. Quando isso finalmente acontece, o filme se torna excelente e bastante “didático”. Ou o delfonauta sabia que abortar depois dos cinco meses é considerado homicídio pela lei (se bem que isso pode ser diferente nas leis tupiniquins) ou mesmo como o procedimento em si é realizado? Sem falar que o momento em que o “médico” diz para não jogarem o feto no vaso sanitário “nem mesmo em pedaços” é deveras chocante.

Depois que a operação acontece, o filme retoma seu andamento arrastado e chatonildo, com mais um monte de cenas que nada acrescentam à trama principal. Um plano, em especial, deve durar uns 20 minutos e fica com a câmera parada na protagonista (que não fala nada) durante um jantar inteiro enquanto as outras pessoas ficam conversando sobre coisas banais. Por Torquemada, acredito que esse possa ser um dos planos mais chatos, arrastados e inúteis da história do cinema. E olha que eu assisti a 2001 (em fast-forward, mas assisti).

No final das contas, este é um longa que poderia ter levado a nota máxima se fosse um média, ou um curta. Se fosse focado no aborto e na discussão sobre os motivos para a sua ilegalidade, poderia ser ótimo. Como é focado em um dramalhão arrastado, e eu estou me sentindo particularmente bonzinho, leva a metade dos Alfredos possíveis. E, se você quer uma discussão mais aprofundada sobre o tema, sugiro este texto.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
4-meses-3-semanas-e-2-diasPaís: Romênia<br> Ano: 2007<br> Gênero: Drama<br> Duração: 113 minutos<br> Roteiro: Cristian Mungiu<br> Diretor: Cristian Mungiu<br> Distribuidor: Lumière<br>