Clint Eastwood parece ter entrado numa fase de sua carreira onde está interessado em retratar heróis da vida real. Afinal, foi assim com seu longa anterior, Sully, onde ele contava a história de um piloto de avião que fez uma aterrissagem forçada milagrosa, salvando todos a bordo.
E é assim com seu novo trabalho, 15h17: Trem para Paris. Em 21 de agosto de 2015, uma tentativa de ataque terrorista em um trem destinado a Paris foi frustrada quando três turistas estadunidenses conseguiram render o agressor armado e ainda auxiliar um passageiro ferido.
Talvez a coisa mais interessante a respeito do filme é o fato de que Eastwood escalou Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler, os três heroicos estadunidenses, para interpretarem a si mesmos! Assim, a coisa vira praticamente uma reconstituição dramatizada do acontecido em 2015.
Só que aí também entra o grande erro do filme. Não, não me refiro a escalar sujeitos comuns sem experiência de atuação para estrelarem um longa-metragem. Considerando-se tudo, até que os três se saem razoavelmente bem nesse campo (afinal, estão fazendo o papel deles mesmos), com Anthony Sadler sendo o mais desenvolto do trio.
O grande problema é que este é um dos maiores casos de propaganda enganosa que vi em tempos recentes. O pôster, a sinopse oficial, as propagandas de TV, tudo leva a crer que seria um misto de drama/suspense centrado justamente no que os fez famosos, a tentativa de ataque terrorista e a ação deles para evitar uma tragédia.
Só que não. Somadas todas as cenas no trem, elas não chegam a dar 20 minutos dos 94 de duração do filme. O resto do tempo é gasto contando como os três se conheceram na escola, como sempre acabavam na diretoria e posteriormente, já adultos, sua viagem como mochileiros por várias cidades europeias até entrarem no fatídico trem rumo a Paris.
Eu não sei quanto a você, mas eu acho que a coisa que todo mundo quer ver não são três caras perambulando por pontos turísticos europeus e sim como eles enfrentaram um sujeito armado e o dominaram.
Eu fiquei com a maior impressão de que isso poderia render um ótimo curta-metragem só com as partes que importam, mas foi esticado com pura encheção de linguiça para render um longa.
15h17 – Trem para Paris acaba resultando num filme bastante enganador para quem for assisti-lo com base no material promocional, podendo resultar da decepção à pura raiva mesmo. Também é um dos mais fracos e narrativamente equivocados de toda a carreira como diretor do tio Clint.
Não chega a ser ruim de assistir, já vi bombas bem piores, mas o inexplicável foco da trama em coisas que não interessam ao invés daquilo que deveria ser a peça central faz com que fique difícil de achar alguém a quem recomendar. Agora, resta saber se o diretor vai fazer mais um com essa temática e assim fechar uma trilogia dos heróis da vida real. Só espero que, caso aconteça, seja superior a este aqui.