A primeira vez que ouvi falar da história da estilista Zuzu Angel foi justamente quando o diretor Sérgio Rezende revelou ao Brasil que faria um filme sobre ela. Teve até uma coletiva que a gente cobriu, lembra? . Até então eu jamais tinha escutado algo sobre essa mulher, não sabia que seu drama acontecera dentro do contexto do regime militar brasileiro e o mais inacreditável disso é que eu tive bons professores de História do Brasil nos meus tempos de colégio e, ainda assim, nunca nenhum deles sequer mencionou o nome da estilista nas aulas que tive a respeito da ditadura.
Para piorar ainda mais essa falta de transmissão de conhecimento que acontece nas redes de ensino brasileiras, ainda afirmo que omissões deste tipo já aconteceram antes e cito como exemplo a história de Olga Benário Prestes, cuja vida dramática eu só fui conhecer mais a fundo depois do filme, pois até então tinham falado nas aulas apenas da Coluna Prestes e nada mais.
Estou dizendo isso porque estes são dois exemplos claros daquela velha história “de que o brasileiro tem memória curta” e acho que é um dos deveres do cinema brasileiro tentar trazer à tona assuntos já sepultados pela mídia televisiva e pela vida cotidiana. Acho um absurdo que histórias poderosas e verdadeiras como as destas duas personalidades não sejam ao menos citadas nas aulas de História do Brasil e espero que isso mude um pouco depois que ambas se tornaram as protagonistas de longas-metragens que carregam seus nomes como títulos.
Feito aqui o meu protesto, vamos àquilo que eu posso dizer do enredo, sem estragar nada para o curioso delfonauta. Zuzu Angel se foca na busca da estilista por seu filho capturado pela ditadura. Essas cenas são intercaladas com flashbacks que mostram como era o relacionamento entre eles. O filme trata basicamente do amor incondicional de uma mãe que faz o possível para saber o paradeiro do filho depois que o mesmo se torna comunista e é preso pelos militares.
Apesar de ter alguns enquadramentos típicos das telenovelas, tecnicamente Zuzu Angel beira a perfeição, com cenas bonitas e bem realizadas. Entretanto, artisticamente, ele já tem seus problemas, pois não consegue transmitir ao público toda a grandeza do sentimento materno, mesmo seguindo o “manual” de um bom drama. Afinal, a trilha sonora melancólica não é suficiente para emocionar e são poucas as cenas que tocam fundo no coração do espectador, dando a impressão de um filme sem alma. A meu ver, isso só tem um motivo: a atuação do elenco é irregular.
Irregular pelo fato de termos ótimas atuações batendo de frente com outras bem ruinzinhas. De um lado, temos Patrícia Pillar em um de seus melhores, se não for o melhor, papéis até hoje, como a protagonista do filme e, de outro lado, Daniel de Oliveira que, ao contrário do que fizera com Cazuza, inexplicavelmente não convenceu muito como o filho de Zuzu, o Stuart Angel Jones. No primeiro time temos uma Luana Piovani quase irreconhecível em uma atuação notável, falando exatamente no mesmo tom de voz de Elke Maravilha e, no outro um Alexandre Borges falando como fala em todos os papéis que faz e assim por diante. Sérgio Rezende pecou na direção dos atores, pois o filme está repleto de boas e más atuações e isso acaba deixando o elenco na média, ou seja, apenas no regular.
A história da luta de Zuzu Angel é o que segura o filme o tempo todo e faz dele uma obra que vale a pena ser vista, mesmo que seja apenas pelo interesse histórico. É uma pena, entretanto, que o resultado não tenha sido ótimo. Afinal, o diretor Sérgio Rezende, com o material que tinha nas mãos e com a Globo Filmes ao seu lado, tinha cacife para um filme bem melhor que este e não conseguiu fazê-lo. Quem sabe ele não precise de umas aulas com o Breno Silveira, que fez muito mais cinema com a história de Zezé Di Camargo e Luciano.