Um dos gêneros mais queridos pelos jogadores de videogame e computador é a simulação aérea. Sejam eles simuladores complexos de vôo (como a série Flight Simulator da Microsoft) ou simples jogos de ação (como a antigas séries, Top-Gun, a franquia oficial do filme para o Nintendo 8 Bits, ou sua contra-parte, After Burner, da Sega), este é um estilo que sempre teve o seu nicho de jogadores garantido, geração após geração. Posso dizer com muito orgulho que me enquadro na lista dos fanáticos por jogos de combate aéreo, em especial os da Segunda Guerra Mundial, a chamada era de ouro da aviação, onde tudo dependia da habilidade dos pilotos nas batalhas e não de bugs nos computadores das aeronaves e miras automáticas.
Agraciado como uma das boas surpresas de 2004 no gênero, o jogo de PC, Wings of War, chegou ao mercado de mansinho, ganhou o seu destaque e fui conferir se ele realmente vale o dinheiro investido.
A primeira particularidade de Wings of War é que ele se baseia na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) e não na Segunda, como a maioria esmagadora dos jogos de aviões e de guerra em geral. Se o jogo realmente levasse a sério sua licença histórica, teríamos aviões muito frágeis (estamos falando da primeira década da aviação), pouco poder de fogo e muita, muita dificuldade em se manter os biplanos no ar enquanto teríamos de desviar das artilharias e dos ases inimigos (o famoso Barão Vermelho – e não estou falando da banda brasileira – lutou e morreu na Primeira Guerra). Infelizmente, através deste aspecto entramos na segunda particularidade do jogo, já que ele reduziu todo o potencial destes primeiros anos de aviação para uma mera jogabilidade “arcade”, sem nenhum traço de realismo e muito, muito tédio.
Quero deixar bem claro, antes de qualquer coisa, que não sou contra jogos que fogem um pouco do realismo para deixar a jogabilidade mais divertida. Um grande exemplo é a série Air Combat de Playstation 2 (mas que começou nos fliperamas em 1993 e passou até pelo primeiro Playstation), que sacrifica totalmente as dificuldades em prol da diversão. Porém, estamos falando de caças modernos com equipamentos eletrônicos de última geração e não dos pioneiros da aviação, em especial do combate aéreo. Infelizmente, essa mistura não casou legal e o “frágil” avião de madeira e ferro se comporta como um verdadeiro F-14 Tomcat do filme Top Gun. Você pode fazer qualquer tipo de manobra que ele nunca entrará em “stall” (a potência dos motores não compensa a altitude desejada) ou você pode meter o bico do bicho no chão que, se a barra de energia estiver cheia, ele irá quicar de novo para o ar. Obviamente que alguns destes fatores podem ser alterados pelos modos de dificuldade da tela de opções, mas a grande maioria permanece intocável e tira toda a graça de se pilotar os antigos bólidos.
A “simplificada” excessiva da jogabilidade também encontra reflexos nas missões encontradas ao longo da jogatina: você começa como um piloto francês novato (nada de escolher se você quer ser o mocinho ou o bandido da história, que por sinal é bem linear e não reproduz em nada o clima da Primeira Guerra) em uma base aérea na frente de batalha.
A primeira missão é um tutorial básico que ensina como decolar, pousar, atirar, tirar fotos e lançar bombas. A partir da segunda fase, temos os primeiros contatos com os aviões e veículos inimigos e basicamente se define como o jogo caminhará até o seu final. Todas as fases são bem longas, com mais de 10 submissões que se resumem sempre a abater aviões inimigos, destruir alvos terrestres (artilharia antiaérea, blindados, caminhões e instalações), escoltar aviões bombardeiros (mesmo que eles não existissem naquela época como são mostrados) até o seu destino, tirar fotos de bases inimigas (outro maltrato com a história já que esse tipo de missão apareceu apenas no final da Primeira Guerra pela dificuldade de manuseio das câmeras fotográficas nos aviões). Pode ter certeza: em todas as fases você encontrará todos estes tipos de missões o que torna o exercício de se chegar ao seu final um verdadeiro teste de paciência pois as missões não variam nunca e os diversos aviões que você pilota no jogo inteiro respondem exatamente da mesma forma. Nas fases você também pode encontrar upgrades escondidos para o motor, a metralhadora e o escudo (sim, seu avião também tem uma espécie de campo de força a la Star Wars).
Paralelamente às missões principais (eu já disse que elas não variam nunca?), você pode aceitar ou não algumas missões paralelas, que basicamente se resumem a duelos 1×1 contra ases inimigos, corridas até um determinado ponto do mapa ou bombardeios em determinados pontos. Os prêmios para estas missões também são os já citados upgrades.
A parte técnica de Wings of War é o grande destaque e, provavelmente, o que chamou tanto a atenção dos que idolatram o jogo. As texturas são muito bonitas, o jogo não é pesado e os modelos das aeronaves e dos veículos são extremamente bem feitos, mesmo que algumas animações, como as explosões, pareçam um pouco artificiais. Os sons são interessantes, mas novamente temos uma falha histórica estúpida já que os pilotos se comunicam o tempo inteiro por rádio, fato impossível naquela época. Lembre-se que estamos falando do começo do século XX. Para efeito de curiosidade, a maioria das comunicações dos aviões na época era feita através de bandeiras com cores ou símbolos para sinalizar as situações. Eu até concordo que implementar um sistema de “bandeiras” no jogo seria pedir demais, mas precisava também adiantar a invenção dos rádios comunicadores?
Essa falha histórica acontece no jogo inteiro com modelos de tanques, blindados e caminhões, que só dariam as caras décadas depois, pipocando na tela. Em alguns momentos temos a impressão de estar jogando alguma paródia do Monty Python, para falar a verdade. É tudo falso demais.
A minha dica é: quer jogar alguma coisa sem compromisso histórico? Apenas por algumas horas de diversão? Então Wings of War é o seu jogo. Caso contrário, busque nas lojas de usados, uma antiga cópia de Red Baron II (de 1998), esse sim um grande jogo que respeita sua licença histórica e também roda suave nos sistemas modernos.