Volver

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Admito que eu tinha um certo medo desse filme. Deixe-me explicar o motivo. Quando estava fazendo a minha primeira faculdade (sim, hoje estou fazendo a segunda e sim, aparentemente eu sou masoquista), tinha uma aula cujo professor vivia passando trechos de filmes do Almodóvar. Eles eram sempre muito chatos e a aula em que eles eram apresentados idem. Logo, acabei associando o diretor espanhol a cinema “de arte” e, conseqüentemente, chato.

Acontece que, trabalhando com jornalismo cultural, você acaba assistindo muita coisa que você normalmente não assistiria. Por um lado, isso faz com que você odeie ainda mais o que já odiava antes (no meu caso, as comédias românticas), mas por outro pode mudar alguns conceitos. Por exemplo, eu acabei descobrindo que boa parte desses filmes “de arte” não são chatos, são muitas vezes até bem legais. Portanto, decidi aproveitar o lançamento do “novo Almodóvar” para criar um conceito mais embasado sobre o trabalho do cara, afinal, nunca tinha assistido a nenhum filme dele por inteiro. E, amigo delfonauta, eu juro que fui com a cabeça o mais aberta possível e crente até de que iria gostar bastante do filme, mas não deu. Eu tentei, tentei e tentei, mas achei o bagulho muito chato mesmo. E não aquele chato do tipo “não entendi nada” que costumamos ligar a filmes “de arte”, pelo contrário, o filme é até bem próximo dos pipocas estadunidenses em estrutura de roteiro e coisas do tipo. Só que a condução da história é muito chata. Chata do tipo comédia romântica, manja?

Penélope Cruz é Raimunda, a protagonista. Claro que saber disso não ajuda muito, mas é por isso mesmo que a sinopse não acaba aqui. A-há! Por essa você não esperava, né? Pois então, ela tem uma filha de 14 anos e um marido, que não é pai da filha. Sacou? Pois então, o tal marido que não é pai, tenta se aproveitar sexualmente da menina. Daí a mina pega uma faca e mata o cara. Simples assim. Sério, delfonauta, o que anda acontecendo com as meninas de 14 anos de hoje em dia? Se eu já estava com medo delas por causa desse filme, depois do de hoje dou graças a Deus por não estar mais na oitava série. Mas não é só. Para completar a confusão, a mãe de Raimunda, que estava morta, reaparece para a irmã dela e começa a ajudá-la no trabalho.

Parece interessante, né? E até é. São duas histórias completamente diferentes e igualmente interessantes, mas nenhuma delas é devidamente desenvolvida. O filme dá várias voltas e não chega a lugar nenhum. E depois que acaba, você começa a pensar o que realmente aconteceu de fato e vê que não foi quase nada. Então no que diabos foram gastos os 121 minutos do filme? Sinceramente, no que foram gastos eu não sei, mas nem pretendo volver a assistir a Volver (eu adoro trocadalhos) de novo para descobrir. Se você gosta de Almodóvar, talvez valha a pena assistir. Afinal, o nome do cara não é mais de um diretor, mas praticamente uma marca. Aí depois você volta aqui e me diz se é tão bom quanto os outros ou se esse é piorzinho mesmo. Quem sabe a sua opinião não vai ser a que me convence a dar mais uma chance para o cara? Afinal, o público também influencia a opinião dos jornalistas, por que não? 😉

Nota: a imagem que ilustra essa matéria veio no Presskit, mas não está em nenhuma cena do filme. Mesmo assim, achei que o delfonauta gostaria mais dela do que do pôster, então aí está.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
volverPaís: Espanha<br> Ano: 2006<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 121 Minutos<br> Diretor: Pedro Almodóvar<br> Distribuidor: Fox<br>