Os gringos têm uma relação bem curiosa com a cultura estrangeira. Tenho a sensação de que o mundo inteiro pensa que todo dia é Dia de Los Muertos no México, de tanto que a estética desta data é utilizada na cultura pop. Viva – A Vida É Uma Festa é mais um representante desta longa tradição, que já passou por videogames (três exemplos de sopetão: Grim Fandango, Guacamelee! e LittleBigPlanet), cinema, e até pelo heavy metal.
Seria como se os gringos resumissem o Brasil ao Carnaval. Hum…
Contudo, não tem como negar. A estética e a filosofia por trás do feriado mexicano são muito bonitinhos e se encaixam perfeitamente em várias interpretações pop. Afinal de contas, não cabe à cultura pop interpretar e reinterpretar os mesmos arquétipos culturais?
CADÊ O CURTA?
Ao contrário do que acontece em todos os lançamentos da Pixar, Viva – A Vida É Uma Festa não abre com um curta. Ou pelo menos isso não aconteceu na sessão de imprensa de São Paulo.
Isso significa que vamos direto ao prato principal, então também é o que faremos nesta resenha. O filme conta a história de Miguel, um raparigo mexicano cuja família é a única do país que odeia música. Daí adivinha só: ele sonha em ser músico. Twist!
Isso causa conflitos em sua família e Miguel eventualmente cai na dimensão dos Mortos. O problema é que se ele não voltar para o mundo dos vivos até o amanhecer, vai ficar preso por ali, rodeado por um monte de esqueletos simpáticos. Pois é, A Vida É Uma Festa é quase um De Volta Para o Futuro na cultura mexicana.
A história é bastante batida, e segue tintim por tintim tudo que você imagina que vai acontecer. Inclusive, repete detalhes que a própria Pixar já usou mais de uma vez em seus filmes. Isso fez com que o desenho demorasse bastante para me animar.
MAS…
Mas ele conseguiu. Já falei sobre quão bonitinha é a estética do Dia de Los Muertos e isso, nas talentosas mãos da Pixar, provavelmente os maiores criadores de fofura do mundo contemporâneo, faz tudo brilhar. Sem exagero, talvez tenhamos aqui o lançamento do estúdio mais bonito e mais colorido. É o tipo de obra que enche os olhos e merece ser visto na maior tela que você conseguir achar.
Além disso, a Pixar pode não ser lá muito criativa, mas eles são mestres de narrativa. Some isso à forma e à importância que os mexicanos dão para lembrar seus entes queridos que partiram, e temos um filme realmente tocante. A primeira vez que Miguel encontra seus familiares mortos, por exemplo, é emocionante. Mas quero ver o mais macho dos marmanjos aguentar não chorar no final, que é exatamente o que você espera, mas é feito de forma tão bonita que, admito, a Pixar me fez chorar pela terceira vez (as duas anteriores foram Up – Altas Aventuras e Toy Story 3).
Se você está com a sensação de que este é um filme mais triste e sentimental do que o que costuma vir do estúdio… bem, você está certo. Apesar de haver algumas piadas, eu classificaria a história como um drama, e um que emociona bastante.
Apesar de achar que o Dia de Los Muertos é usado demais na cultura pop, eu normalmente gosto bastante das coisas inspiradas por ele. A gente aqui no Brasil não encara os antepassados perdidos com a mesma alegria e reverência que os mexicanos. A gente só tem a saudade, mas a parte triste da saudade, quando a realmente deveria focar nos bons momentos que passamos com essas pessoas. Afinal, se alguém foi importante para nós, é porque sua presença deixou nossas vidas mais felizes. Pausa para um cachorrinho fofo.
VIVA – A VIDA É UMA FESTA
Não compare Viva – A Vida É Uma Festa com as obras mais geniais da Pixar, como Wall-E. Aqui o gênio não está na criatividade, mas em conseguir emocionar a ponto de colocar um caroço na garganta de qualquer um que já perdeu pessoas queridas. A história é bem básica e previsível, mas a narrativa, como é tradicional do estúdio, é fantástica. Se você procura por algo que não surpreende, mas emociona, com certeza vai gostar muito da aventura mexicana da Pixar.