Quando eu comprei meu Xbox 360, eu queria ter logo pelo menos um jogo fofo. Sabe como é, por mais que eu goste de serrar monstros ao meio, nenhum console vive só disso. Todo mundo precisa de um Sonic ou Mario para se divertir, certo?
Pois então, falei com mó galera para que me indicassem algum e todo mundo parecia só conseguir pensar em dois: Kameo e Viva Piñata. Como nunca curti esses jogos do tipo Sims ou Sim City, acabei optando pelo jogo de ação. O problema é que, por mais que Kameo seja legal e divertido, ele não é tão fofo quanto um Sonic. Tem até alguns bônus por brutalidade e carnificina, por exemplo.
Portanto, a sede por algo fofo continuou. E como aparentemente não existia mais nenhum bom representante para o console, acabei experimentando Viva Piñata. E me surpreendi bastante com a diversão que ele me proporcionou. É seguro dizer que nunca me diverti tanto com algo do gênero, nem mesmo com Sim Theme Park (que até então era meu preferido).
Em Viva Piñata, você é um jardineiro. Conforme você vai plantando coisas, vai atraindo algumas piñatas (se você não sabe, são aqueles bichinhos de papel que as crianças enchem de porrada para liberar os doces que ficam dentro delas), que aqui são animais vivos. E fofos. Algumas piñatas atraem outras e assim por diante. Tudo começa com uma minhoca. A minhoca atrai um passarinho. Daí em diante, depende das suas decisões, mas se você e um amigo começarem juntos, em cerca de uma hora, vão ter jardins completamente diferentes.
Depois que você atrai os bichinhos e eles decidem morar no seu jardim, o próximo passo é fazer eles namorarem. As minhocas, por exemplo, só precisam ter um pouco de privacidade (que é fácil de conseguir comprando uma casinha para elas) e lançar um olhar safado para o seu futuro parceiro. Outros mais avançados, como o leão, precisam usar uma coroa. E outros, como o passarinho, precisam comer outras piñatas (no caso desse, uma minhoca). E aí é que começa a ficar complicado.
Quando você começa a jogar, você vai dar nome para seus bichinhos. Minhas primeiras minhoquinhas se chamavam Ñaña e Cica (nem me pergunte o motivo). Depois de dias de orgias entre elas, onde Ñaña já tinha transado até com seus bisnetos, comecei a querer fazer outros bichinhos namorarem. Mas, mas… como poderia dar a pobre Cica de comida para o passarinho? Até porque as minhoquinhas são muito mais fofas que os pássaros.
Só que não é só de minhocas que um bom jardineiro vive e logo tive que começar a incentivar a comilança no meu jardim. E as pobres Ñaña e Cica viraram comida de passarinho. Literalmente. E o mais assustador, quando elas são assassinadas pela piñata maior e mais forte, sai vários doces de dentro delas. E todas as piñatas do jardim saem correndo para comer os restos mortais da falecida. Até mesmo seus filhotes. E isso porque esse jogo deveria ser infantil, hein? Vejamos, aqui temos incesto e canibalismo. E pior, feito por bichinhos fofos. Sinceramente, fiquei muito mais assustado com Viva Piñata que com Gears of War, não consigo entender porque esse é livre e o outro é proibido para menores de 18 anos.
Mas voltando ao jogo, cada vez que você faz algo de bom para o jardim, você ganha experiência e, conseqüentemente, sobe de nível. Subindo de nível, você ganha upgrades para a sua pá e seu regador e, a cada 10 níveis, o espaço do seu jardim cresce (isso só acontece duas vezes, no nível 20 você alcança o tamanho máximo). Para cada tipo de piñata, você tem cinco prêmios, ou seja, cinco chances de ganhar experiência. Quando ela é avistada pela primeira vez, quando ela visita seu jardim, quando decide morar com você, quando namora pela primeira vez e, finalmente, quando você tem sete membros da espécie morando lá (não interessa se frutos de uma orgia generalizada ou simplesmente compradas).
Isso significa que, nos seus primeiros dias com o jogo, o jardim vai evoluindo de forma aleatória e todas as piñatas que você atrai são obra do acaso. Depois de um tempo, contudo, você não vai mais poder contar com o acaso. Se você quer ter elefantinhos ou hipopótamos passeando pelo seu quintal, terá que construir jardins especificamente para eles, pois esses bichos maiores definitivamente não moram em qualquer lugar. O hipopótamo, por exemplo, precisa de uns 70% de água no terreno e mais ainda se você quer que ele namore. Já o cisne só vai aceitar morar no seu jardim se o negócio valer mais que uma determinada quantia em dinheiro. Pois é, bem interesseiro, né?
O fato é que, por mais que você se apegue às piñatas mais fofas, como os ratinhos Mousemallows, o castor com cara de louco Sweettooth ou o patinho com cara de louco Quackberry (sim, eu gosto de bichinhos com cara de louco – acho que me identifico com eles), você logo vai parar de dar nome para todos eles e vai dar o pobre Mousemallow de comida para a serpente Syrupent, afinal, essa é a única forma de convencê-la a morar com você. E, para atrair outro Mousemallow, você só precisa de algumas florzinhas, então eles são facilmente substituíveis.
E aí entra o principal defeito do jogo. Para obrigar você a manter vários jardins, existe um limite muito baixo de piñatas que podem habitar um local ao mesmo tempo. Isso é um saco, pois muitas vezes você está promovendo uma orgia entre seus habitantes, a fim de conseguir o prêmio de Master Romancer para várias espécies (o que é dado quando você tem sete bichinhos da espécie em questão), e daí você recebe uma mensagem dizendo que seu jardim está cheio. Você olha ao redor e ainda tem espaço de sobra. Sinceramente, isso é um saco, pois você nunca sabe quanto falta para lotar. No diário tem um lugarzinho que mostra o espaço do jardim, mas não dá para entender aquilo e o manual não ajuda em nada (aliás, há muito tempo que manual de videogame é basicamente decorativo). Todas as vezes que recebi a mensagem de lotado, olhei lá e tinha quase metade do “aparente” espaço disponível vazio.
Depois do meu caótico primeiro jardim (e acredite, seu primeiro também vai ficar assim), eu decidi criar um jardim reprodutor, mais conhecido como bordel. Lá é onde eu coloco minhas piñatas para fazer amor gostoso perto da lareira sem parar até eu ter o suficiente para o Master Romancer. Daí eu vendo as excedentes, guardo apenas um casal e mando a casinha e o casal para um outro jardim chamado “Piñatas Usadas”, para onde vão as aposentadas que já cumpriram seus objetivos.
O problema com isso é que o sistema para você mandar coisas para si mesmo é exatamente igual ao para mandar para qualquer outra pessoa do mundo: você precisa comprar uma caixa, colocá-la no jardim, enfiar as piñatas nela e enviar. Depois comprar outra caixa, colocar a casa e enviar. Sim, pois em cada caixa, você pode colocar apenas um tipo de item, ou seja, se você quer mandar duas piñatas e uma casa, precisa de duas caixas. E não dá nem para comprar um monte de caixas, pois o sistema deixa você ter apenas uma por vez no seu jardim. É um saco e, quando você quer fazer isso com várias coisas (tipo quatro espécies de piñatas e suas respectivas casas), demora muito tempo. E depois para desempacotar também é uma por vez. Isso quando não falam que você não pode abrir a caixa porque não tem espaço no jardim, o que é mais comum do que a gente gostaria, o que fez com que eu tivesse que criar vários jardins de “Piñatas Usadas”.
Isso é suficientemente chato, mas ainda tem outras coisas pentelhas. Alguns tipos de piñatas, por exemplo, não podem conviver no mesmo jardim (como a vespa Buzzlegum e a formiguinha Raisant) e saem na porrada a toda hora. E sempre que elas saem na porrada, uma fica machucada. E daí você tem que gastar grana em médico. E pior, muitas vezes você não consegue encontrar a piñata doente ou simplesmente esquece dela. Daí vem um bastardo chamado Dastardos que quebra a coitada. Mas fica pior: depois de um determinado nível, um tal de Professor Pester aparece. E o desgraçado vai e quebra sempre a sua piñata mais valiosa. Tem um achievement para quem consegue fazer uma única piñata valer 10 mil moedas e acredita que o desgraçado matou a bichinha quando ela estava valendo mais de nove mil? Triste, delfonauta, muito triste. Eu quase chorei quando vi os bichinhos correndo para comer os restos mortais da pobre cobra de quatro cabeças falecida.
Uma coisa que enche muito o saco é a quantidade de loadings. Todos são bem curtos, mas ter que esperar dois ou três segundos quando você quer apenas ver de que planta é determinada semente é um saco. E, como você fica quase o tempo todo entrando e saindo de lojas, menus e do seu diário, vai ter que agüentar esses dois ou três segundos quase o tempo todo. Para piorar, sempre que o game salva (usando um autosave), ele também pára por alguns segundos e isso prejudica bastante, principalmente quando você está tentando mandar as piñatas fazerem algo.
Você também tem uma espécie de guia espiritual, a Leafos, que dá dicas. Mas boa parte das dicas que ela dá são erradas ou, pior, prejudicam seu jogo. Ou seja, o melhor é você nem tentar falar com ela. E muito menos tentar entender porque a Rare achou que seria uma boa idéia colocar um personagem para mentir para você.
Pelo menos uma coisa que não será problema nesse jogo é o dinheiro. No começo, pode parecer complicado, mas é muito fácil ganhar dinheiro aqui. Uma boa dica é comprar uma tocha da primeira loja que abre nos arredores, pegar o Taffly (que aparece no seu jardim a toda hora, desde que você tenha algumas flores) e mandá-lo ir até a tocha. Ele vai se contorcer, pegando fogo. Molhe-o com seu regador e assista à transformação. Ele vai virar um Reddhot, que vale 2100 moedas, o que é uma fortuna no início do jogo. Depois que a caçadora aparecer, você pode encomendar entregas expressas de Tafflys por 600 moedas a cabeça e faturar 1500 por cada um fazendo essa diquinha. Foi assim que eu fiz minha fortuna. Depois que você conseguir o achievement de riqueza (que vem quando você acumula 20 mil moedas), dinheiro não será mais problema. Ou, pelo menos, não foi para mim.
E, falando em mandar a piñata para a tocha, isso é um problema sério também. As piñatas simplesmente não são obedientes como deveriam. Sem falar que é um trabalhão para selecionar algumas delas, principalmente as voadoras. Sério mesmo, depois de uma semana jogando isso aqui, você vai odiar todos os bichinhos que voam, por mais fofos que eles sejam.
Apesar desses problemas que incomodam bastante, não dá para negar que Viva Piñata é um jogo maravilhoso. Os gráficos rivalizam com Gears of War entre os melhores do console e ganham pontos por serem coloridos ao extremo e lindíssimos. É uma pena que boa parte do jogo aconteça à noite, já que a beleza dos gráficos só brilha em todo seu esplendor de dia.
Outra coisa que atrasou a minha compra foi o fato de a versão tupiniquim ser dublada. Normalmente, eu acho a dublagem brasileira fraca, pois sempre parecem pessoas lendo, não atuando, mas acho pior ainda a tradução que os caras fazem e a de Viva Piñata não é exceção. Isso fica claro logo na primeira tela, onde aparece a frase “Todos o direitos reservados”. Se não checaram nem a tela título, que dirá de frases do meio do jogo? As vozes não são tão legais quanto as originais (e a atuação é pior ainda), mas a tradução é ridícula. Por exemplo, eles traduzem a expressão “hold down” (segurar) como “segurar para baixo”. Lembro que no manual de Kenseiden, do Master System, tinha exatamente esse mesmo erro, o que me deixa bem triste em ver que até agora, quase 20 anos depois, não aprenderam isso. E, na época em que eu jogava Master, fiquei bem confuso com isso, do tipo, “como posso segurar o botão 1 para baixo?” e ficava desesperadamente tentando segurar o direcional para baixo enquanto apertava o botão 1 e nada acontecia.
Felizmente, e isso não vi absolutamente ninguém falar em nenhum lugar, aparentemente todas as versões do Viva Piñata vêm com todas as dublagens inclusas. Descobri isso por acaso, quando li em algum fórum que a versão japonesa tinha as vozes em português do Brasil e resolvi arriscar. E posso garantir: a versão nacional tem, pelo menos, as dublagens brasileira e estadunidense. O jogo detecta a língua que você escolheu para a sua Dashboard e utiliza a mesma para as vozes. Isso é ótimo, pois permite que aqueles não versados na língua de Shakespeare desfrutem da versão tupiniquim enquanto os que manjam de inglês podem escolher a que preferem.
É engraçado, mas em todas as resenhas que eu li sobre esse jogo, sempre fala algo como “não deixe a fofura do jogo impedir que você o compre”. Isso não faz sentido. Poxa, parte do que me atraiu para ele foi justamente a fofura. Para mim, parece coisa de caras inseguros que são incapazes de admitir que gostam de um jogo mesmo ele sendo colorido e bonitinho (ou seria mais correto dizer por causa disso mesmo?). Felizmente, não tenho esse tipo de insegurança e gosto tanto de Sonic e companhia hoje quanto gostava na minha infância. Aliás, ao contrário da forma como é divulgado, este não é um game infantil. Sinceramente, é difícil demais para que crianças consigam jogá-lo apropriadamente. Mas, pelo que vi até agora, elas adoram ficar assistindo. O som também é fenomenal. As músicas são simplesmente lindas e é uma pena que não toquem o tempo todo. Na maior parte do tempo, você fica apenas com os sons do jardim ao seu redor.
Finalmente, Viva Piñata é um jogo perigoso. Perigoso porque tem um poder de absorção imenso. Mais de uma vez, eu estava esperando para assistir alguma coisa na TV e resolvi colocá-lo para jogar por uma meia hora até que o programa começasse. O problema é que eu simplesmente não conseguia parar e, quando ia ver, algumas horas já tinham passado e já era de madrugada.
Para completar, ele chega a ser ao mesmo tempo relaxante e estressante. É relaxante quando tudo está indo bem, mas dá vontade de quebrar o controle quando o Professor Pester aparece e você não o vê a tempo de suborná-lo. Ou então quando as suas piñatas não param de brigar.
No fim das contas, eu que tinha medo de comprar esse jogo porque não era de um gênero que me agradava, acabei encontrando nele meu segundo game preferido de 360 (o primeiro é Gears). Portanto, recomendo que você o compre agora mesmo, pois acredito que possa se surpreender tanto quanto eu.