O meio da política é sujo, complicado e bastante estressante para todos os envolvidos. É também o tema de Viva a Liberdade, que poderia ser ou um drama pesadão sobre os meandros políticos italianos ou uma comédia escrachada sobre as figuras tão controversas do poder na terra dos renascentistas.
No final das contas, acaba não sendo nenhum dos dois, e isso é bom. Sim, é uma comédia e também um drama, mas sem pesar a mão, preferindo seguir uma via mais leve e sutil na forma de misturar esses dois elementos.
Enrico Oliveri é uma das principais figuras do partido de oposição italiano. O cara também está de saco cheio do trabalho e um dia resolve simplesmente sumir do mapa, indo se refugiar na casa de uma antiga amiga em Paris. Desesperado com o sumiço, seu assessor toma uma atitude pouco convencional para aplacar os ânimos do partido e ao mesmo tempo não ter de abrir o jogo sobre o desaparecimento ao público.
Ele recruta o irmão gêmeo de Enrico, Giovanni, para se passar pelo político até que o fujão decida retornar e retomar as atividades. No entanto, vale dizer que Giovanni passou anos num hospício e por isso não é exatamente a figura mais normal e séria do mundo.
Por essa sinopse realmente dá para imaginar que ela poderia render uma produção abertamente cômica com loucas confusões numa troca de identidades do barulho. Mas o caminho tomado de fato, com delicadeza, para arrancar sorrisos e não gargalhadas, funciona tão bem quanto ter feito o que se poderia considerar o mais óbvio.
Giovanni, por sua atitude de não dar a mínima para como se portaria um político convencional, e por ser um profundo conhecedor de poesia e filosofia, passa a fazer muito mais sucesso do que Enrico jamais conseguira, transformando-o num sucesso nas pesquisas carismático e com o dom de fazer excelentes discursos.
Já o próprio Enrico parece muito mais feliz na França, levando uma existência anônima e convencional. O que diz muito ao suposto papel que caberia a cada um na vida. Sem contar, claro, as críticas implícitas (e também explícitas) à situação política italiana.
Eu nunca gostei de política, e tampouco de filmes sobre o tema ou habitados nesse universo, por isso me surpreendi positivamente com este aqui. Muito por conta da já citada maneira leve e elegante com a qual ele é conduzido. Por causa disso, pode acabar surpreendendo você também, ainda que não seja um programa imperdível ou mesmo indicado para ser visto numa sala de cinema. No final das contas então, a decisão cabe a você. Eu, como todo bom político, ficarei em cima do muro.