Dentro de sua curta, porém respeitável filmografia, aquele que é tido como o filme menor de Paul Thomas Anderson é a comédia Embriagado de Amor, de 2002, e estrelada pelo Adam Sandler. Agora, ele volta a fazer um longa mais focado no humor, mas novamente o resultado passa longe de seus trabalhos de temáticas mais sérias e densas. Estou falando, claro, de Vício Inerente.
Baseado em um romance de Thomas Pynchon, o longa conta a história do detetive particular maconheiro Doc Sportello (Joaquin Phoenix, ostentando suíças monumentais), que se vê tendo de investigar o sumiço de uma ex-namorada e a ligação desta com um ricaço local. E claro, isso é só a ponta do iceberg, pois se aprofundar mais na história levaria umas dez páginas de texto.
Isso porque a trama vai dar um monte de reviravoltas e Doc vai encontrar muita gente estranha pelo caminho. Não só essa sinopse, mas o filme em si, tem um certo clima que me lembrou O Grande Lebowski, afinal, temos um sujeito com uma afinidade toda especial por maconha, coisas estranhas vão acontecendo ao seu redor e ele vai interagir com uma galeria de figuras bizarras.
Contudo, o humor e a qualidade das duas obras são totalmente diferentes, visto que o longa dos irmãos Coen é um excelente filme de comédia bem mais aberta e neste caso o lance é bem menos abertamente humorístico. Ele não é feito para arrancar risadas, e sua qualidade também não é lá aquelas coisas.
Ok, chamar isso de comédia talvez seja um exagero, mas de fato é o gênero que mais se aproxima. Temos aqui um daqueles típicos filmes estilo indie, de díficil classificação e que passa do ponto na autoindulgência. São inúmeras reviravoltas de roteiro, tantas que este é do tipo que se você piscar, é capaz de perder o fio da meada e ficar boiando.
Até aí tudo bem, mas exagera demais na sucessão de idas e vindas. Isso, aliado à sua duração excessiva, custou bem caro ao longa. Para ser exato, todo um Alfredo. Pois até estava gostando do negócio no começo e considerando lhe dar três dragões vermelhos. Porém, à medida que ele fica patinando na sua estrutura de apresentar constantemente situações WTF, vai se tornando rapidamente cansativo, até cair no enfadonho. Logo, suas quase duas horas e meia de duração apenas pioram isso.
Esse é um erro bastante comum a esses cineastas mais autorais: estender além do necessário a duração de seus filmes. Se é por ego ou por covardia de seus editores em lhes dar a real eu não sei, só sei que na esmagadora maioria das vezes esse tipo de produção é desnecessariamente longa e ganharia muito com a perda de vários minutos. É o caso aqui. Tivesse uns 100 minutos de duração, ficaria enxuto, despretensioso e muito mais divertido. Mas acabou uma obra inchada, cheia de gordura, repetitiva e cansativa.
É uma pena, pois no geral gosto do trabalho do Paul Thomas Anderson, e tecnicamente este filme é muito bem orquestrado (e a ambientação no ano de 1970 deixa tudo ainda mais estiloso), como tudo que ele faz, mas parece que contar uma história mais leve e humorística definitivamente não é o seu forte. Assim, considero Vício Inerente o pior longa de sua filmografia, uma verdadeira decepção. Torço para que ele volte à velha forma em breve, mas enquanto isso, fica difícil de recomendar este para qualquer um que não seja um fã hardcore do diretor. E mesmo para estes, é melhor já ir com a expectativa lá embaixo, pois assim talvez uma sessão do filme acabe por se tornar mais aprazível.