Um Amor Jovem

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Essa é uma daquelas cabines que eu, por muito pouco, não deixei passar. Afinal, trata-se de um filme independente que não tem nenhum apelo óbvio com o público do DELFOS e que muito provavelmente vai estrear em um circuito deveras restrito, o que fará que, mesmo aqueles delfonautas interessados em assistí-lo, tenham alguma dificuldade em fazê-lo.

Acabei decidindo pegá-la mesmo por puro interesse pessoal no filme. E esse interesse se deve ao fato de ser uma história de amor com roteiro e direção de Ethan Hawke. Não, eu não assisti ao filme anterior que ele dirigiu (Chelsea Walls, de 2001) e mesmo como ator admito que não me lembro de muita coisa com a sua presença. Contudo, ele participou de dois filmes dos quais eu realmente gosto muito e são, justamente, dois dos melhores filmes românticos que conheço. Portanto, existia uma possibilidade de Um Amor Jovem seguir a mesma linha.

Fazer filmes de amor é complicado. A maioria deles segue aquela fórmula pentelha do “cara conhece mina, cara perde mina, cara recupera mina e eles vivem felizes para sempre” e isso é deveras irritante. Contudo, os poucos que realmente conseguem ser sinceros e transparecer um pouco de sentimento, acabam sendo eternos. Nesse ponto, Um Amor Jovem não é tão bom quanto Antes do Amanhecer, mas isso não significa que é ruim, muito pelo contrário.

Logo no início, o protagonista/narrador William (Mark Webber) fala que tem 20 anos e que, quando fizer 21, estará de coração partido, em uma introdução que lembra bastante a do ótimo Beleza Americana. Obviamente, ele logo vai conhecer uma moçoila chamada Sarah (Catalina Sandino Moreno), se apaixonar por ela e eventualmente começarão a namorar. Essa é a primeira metade do filme e está repleta de ótimos diálogos dando aquela abordagem mais intelectual a algo que é primordialmente irracional, bem do jeito que eu gosto. Não, ao contrário de Antes do Amanhecer, este não é um filme focado apenas nos diálogos. Aqui existe uma história, mas as cenas em que os protagonistas são apenas um casal normal conversando são ótimas.

Obviamente, como o próprio protagonista deixa claro logo no início, ele terá seu coração partido em breve. Essa é a segunda metade do filme – e é ainda melhor do que a primeira. Gostei muito da forma como isso é apresentado. Para o meu cérebro masculino, por exemplo, a atitude da Sarah ao terminar o namoro, não faz sentido nenhum, por mais que ela tente explicar isso para ele (e para nós). Ainda assim, acredito que a maioria das moças que assistirem a esse filme vai entender – e talvez até concordar com ela. É aquela velha diferença entre os sexos e a completa incapacidade masculina em entender o misterioso cérebro feminino e sua confusa (para nós) forma de agir.

Isso tudo deixa o fulano com a maior cara de ponto de interrogação e ele fica tentando ganhá-la de volta, ou ao menos entender o motivo pelo qual as coisas chegaram a esse ponto. E aí entra outra coisa que achei genial no filme e que talvez seja algo que as moças não costumam entender sobre o universo masculino. É comum que os homens não pareçam tão apaixonados quanto as mulheres. Só que isso não significa que não sejamos. Assim, se uma garota termina com a gente desse jeito repentino, quando pensamos que o relacionamento vai bem, nós realmente sofremos e choramos, e fazemos loucuras que nem nós mesmos pensávamos de que éramos capazes. Tudo para não perder o grande amor da nossa vida.

É difícil escrever sobre isso, já que esse tipo de sentimento é realmente complicado de se expressar através da palavra escrita. E Um Amor Jovem expressa bem isso. Talvez não ajude as moças a entenderem os caras (assim como não me ajudou a entender as mulheres), mas acredito que os dois lados vão conseguir se identificar com o personagem do seu respectivo sexo.

Para completar, perto do final ainda temos uma belíssima cena que mostra William se reencontrando com o pai depois de muitos anos sem vê-lo. Pode-se argumentar que ela está meio solta na história e que poderia até ser excluída, mas ela é simplesmente linda e tem um diálogo emocionante que, admito, me tirou lágrimas.

Um Amor Jovem não é um filme divertido e nem tenta ser. Mas para quem gosta quando o cinema é utilizado para expressar sentimentos, é realmente uma pérola e um dos melhores do ano. Se você se encaixa nessa descrição, não perca!

Curiosidade:

– Em determinada cena, o protagonista fala que Sarah não é sexy como as outras pessoas, porque seu corpo não é firme e tal. Pô, eu sinceramente achei a Catalina Sandino Moreno deveras apetecível, talvez uma das moças mais lindas que vi no cinema recente. Talvez seja porque eu gosto de mulheres de verdade, não de porcelana. ^^

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
um-amor-jovemPaís: EUA<br> Ano: 2006<br> Gênero: Romance<br> Duração: 117 minutos<br> Roteiro: Ethan Hawke, baseado no seu próprio livro<br> Diretor: Ethan Hawke<br> Distribuidor: Dreamland<br>