A história resenhada abaixo foi publicada no Brasil em Marvel Millennium: Homem-Aranha 97 a 100
O universo Ultimate andava meio mal das pernas nos últimos tempos. Apesar de Brian Michael Bendis manter o bom nível em Homem-Aranha (ainda que flertasse com o perigo de vez em quando. Saga do Clone, é com você mesmo), X-Men era uma porta giratória de escritores medíocres desde que Mark Millar largou o título e Quarteto Fantástico já nasceu como uma bobagem torturante de se ler.
E o que dizer então dos Supremos? Jeph Loeb conseguiu pegar uma das melhores HQs do século e, em seu terceiro volume, destruir sistematicamente cada coisa boa que ela tinha como se tivesse aceitado um desafio de provar que, com afinco e determinação, era possível acabar com a qualidade de algo que parecia intocável de tão bom. Nesse caso, bom trabalho, meu filho. Missão cumprida.
Desta feita, me parece estranho que, para dar uma chacoalhada no cambaleante universo Ultimate e também apertar o reset para uma nova fase, tenham chamado justamente o homem responsável por destruir sem dó nem piedade seu melhor título.
Ultimatum é uma minissérie em cinco partes, mas com interligações nos outros títulos da linha, que tinha tudo para ser a grande saga Ultimate já feita. Mas como foi escrita pelo Jeph Loeb, é apenas uma grande e fumegante bobagem. É incrível a capacidade que esse sujeito tem para estragar ótimas ideias. Saca só do que se trata a trama e veja se não tem potencial:
Abalado pelas mortes de seus filhos Wanda (que aconteceu em Os Supremos vol. III) e Pietro (e com toda sinceridade, nem me lembro dele ter morrido), Magneto resolve deixar de ser bonzinho e matar de uma vez todos os humanos do planeta. Para isso, ele coloca em prática seu plano apocalíptico de bagunçar os pólos magnéticos da Terra, gerando graves consequências climáticas. Assim, a Latvéria, por exemplo, congela, e a ilha de Manhattan é atingida por uma onda gigantesca, causando uma grande tragédia.
E como aparentemente todos os super-heróis do mundo moram em Nova Iorque, uma boa parcela deles já vai pro saco quando a cidade é atingida pelo vagalhão. Os sobreviventes, enquanto tentam resgatar o máximo de pessoas possível, se organizam para uma ofensiva final contra Magneto.
O potencial épico está todo lá. Temos um grande vilão finalmente mostrando tudo de que é capaz, temos mortes de personagens importantes, reviravoltas e surpresas na trama. Só o que não temos é empolgação.
Verdade seja dita, Loeb já mostrou que sabe escrever em Batman: O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria, Superman: As Quatro Estações e a trilogia das cores da Marvel (Demolidor: Amarelo, Homem-Aranha: Azul e Hulk: Cinza), mas fora dessas histórias revisionistas do passado, carregadas de nostalgia, ele simplesmente não funciona, vide sua passagem por Superman & Batman, talvez a maior concentração de momentos de vergonha alheia que eu já tive o desprazer de ler numa revista.
Em Ultimatum ele simplesmente não consegue passar a emoção pedida pela história. Assim, o que era para ser trágico fica vazio como um filme do Michael Bay, cada morte que deveria ser sentida ou surpreendente é apenas gratuita e a própria batalha final, que devia ser o grande momento hell, yeah da saga marca apenas pela grande violência e nada mais.
Todos os piores clichês que os quadrinhos de super-heróis possuem aparecem por aqui em um momento ou outro, sem exceções, incluindo a tradicional ponta solta para desdobramentos futuros. Só uma vez eu gostaria que alguém realmente tivesse as bolas para de fato terminar uma história de maneira definitiva. Seria pedir muito? Ainda mais numa saga onde o grande mote é justamente mudanças definitivas!
Mas por que tenho a estranha sensação de que dentro de alguns meses muitos dos apresuntados nessa trama vão começar a voltar dos mortos miraculosamente? Até porque, como o universo Ultimate vai continuar, se uma parcela do povo não ressuscitar, vamos ficar com sérios desfalques no elenco.
Para não dizer que não falei nada de bom a respeito da saga, ressaltarei dois pontos positivos. O primeiro é a participação do Homem-Aranha, que fica restrita aos resgates em Nova Iorque. Assim, ele praticamente não aparece no Ultimatum propriamente dito, ficando mais no seu próprio título e nas mãos de Brian Michael Bendis, que sabe como tratar o personagem.
O segundo é a caprichada arte de David Finch, que combina muito bem com a estética desse universo e é a única coisa que realmente se salva na minissérie. Minissérie essa que, por sinal, reflete bem o que foram esses últimos meses de universo Ultimate: uma sucessão de acontecimentos fracos e sem imaginação. Torço para a nova fase conseguir ser melhor do que isso.