Para ser sincero, nunca gostei muito de Tommy Lee Jones como ator, porque ele me parecia interpretar sempre o mesmo papel. Só fui capaz de aturá-lo nos dois filmes sobre os Homens de Preto, mas nos outros, minha vontade era matá-lo sempre que ele aparecia com seu jeito folgado e cheio de marra. Em O Fugitivo ele era o investigador que perseguia Harrison Ford. Em U.S. Marshals – Os Federais ele só mudou de alvo, que passou para Wesley Snipes. Em Risco Duplo continuou na mesma, dessa vez atrás de Ashley Judd e, pra completar, em Caçado um dos piores filmes que já vi, ele persegue Benicio Del Toro.
Abro um parêntese aqui para explicar que Caçado não só é um filme chato, como tem erros patéticos como, por exemplo, quando Tommy Lee Jones sai completamente encharcado de um rio e, após correr por 5 metros, já é mostrado com os cabelos secos balançando ao vento (e olha que ele nem tinha a jaqueta com secador automático do McFly).
Pois bem. Devo confessar que, pela primeira vez, gostei da atuação do cara e também reconheço que, como diretor, ele não foi nada mal nessa sua estréia em um longa-metragem para o cinema (ele já tinha dirigido um filme para a TV). Este Três Enterros é uma obra bem bizarra, é verdade, pois oscila entre o drama e o humor negro de uma hora para a outra e, ao final, apesar da predominância dramática, o resultado é enigmático.
Sendo breve, a história é a seguinte: numa cidadezinha do Texas, Pete Perkins (Jones), fez uma promessa de que enterraria o amigo Melquiades Estrada em sua terra natal, ou seja, no México, caso o homem batesse as botas. O fato é que ele bate as botas rapidamente, com um tiro equivocado de um patrulheiro da fronteira. Após notar que a polícia local não quer encrenca com os patrulheiros, Pete decide fazer justiça com as próprias mãos e cumprir sua promessa. Paro por aqui para não estragar. E mais uma vez, repito, Tommy Lee Jones está muito bem. Parece até que encontrou um personagem que lhe serviu perfeitamente.
Outros pontos positivos: o roteiro é de Guillermo Arriaga (o roteirista do ótimo Amores Brutos e do tremendão 21 Gramas) e, assim como nesses filmes, aqui também a história é contada fora de ordem (o que eu particularmente adoro). A montagem pontua bem alguns momentos importantes que, às vezes são mostrados até a metade e, depois, o restante, fazendo o espectador ficar curioso por um tempo, até saciar sua expectativa. E, apesar do tom dramático, são ótimas as cenas de humor negro, principalmente em torno do patético personagem interpretado por Barry Pepper (o patrulheiro idiota e assassino).
Três Enterros é uma das provas da teoria do Corrales, que o roteiro é mais importante que a direção. Sou adepto dessa idéia também e ela me parece ainda mais clara ao notar como o bom trabalho do roteirista mexicano foi capaz de transformar Tommy Lee Jones em um cara que, daqui para frente, será mais digno do respeito de todos como um bom ator e diretor. Não seria mérito do próprio Jones? Também, mas se não fosse o roteiro de Arriaga, talvez a situação fosse bem diferente.