Therion – Gothic Kaballah

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Há alguns dias eu conversava com o Corrales sobre o Therion e comentei que é impossível você gostar ou odiar um álbum deles na primeira audição. Diversos fatores justificam meu pensamento: o som intrincado, as mudanças profundas entre um disco e outro ou simplesmente o tempo normal que você leva para se acostumar com as novas composições.

Toda essa introdução foi apenas para dizer o quão difícil é a tarefa de escrever a resenha de Gothic Kaballah, novo álbum dos suecos. Passei uma semana ouvindo o CD duplo e até agora não consegui tirar uma conclusão definitiva. Ele é bom ou ruim?

Mesmo na mídia dita especializada, as opiniões são bem divergentes. Vi notas 10 e 7, muitos elogios e também algumas críticas. Ainda não tenho uma posição final (acho que só o julgamento do tempo irá sanar minhas dúvidas), mas já alcancei algumas respostas: esse é o álbum mais fraco desde o Vovin, o que não significa um horror, pois o Therion é um dos poucos nomes do Metal que mantém boa regularidade em seus trabalhos recentes.

A idéia de lançar um álbum duplo é uma faca de dois gumes e parece que virou uma marca da banda. Em Sirius B / Lemuria, a idéia inicial era este formato, mas a gravadora optou por não correr o risco (no final das contas lançou apenas uma edição especial dupla, mas os álbuns eram separados). Agora eles compraram a briga e a decisão foi correta pois, se no trabalho anterior, os dois álbuns são distintos e trazem emoções díspares aos ouvintes (quem curte um som mais pesado, fica com o Sirius B, quem prefere algo mais complexo, adotava o Lemuria), em Gothic Kaballah, ambos os discos partem da mesma temática e o estilo é o mesmo (com larga vantagem para o segundo CD), mas se você espera um instrumental complexo, esqueça.

O primeiro álbum começa muito bem com Der Mitternachtlöwe, faixa rápida mas bem característica do Therion. O susto aparece no som seguinte – que dá nome ao disco – e conta com os vocais de Mats Léven. É até uma boa composição, mas totalmente voltada ao Metal Melódico e vai assustar os fãs. Infelizmente, a grande maioria das músicas do primeiro CD fica nesse “Melódico Sinfônico” batido e a impressão não é das melhores.

Um dos fatores que chama a atenção até aqui são os novos vocais que aproximaram irritantemente a banda ao Nightwish insosso dos últimos álbuns (sinal da cruz 10 vezes) ou até mesmo do Sonata Artica. Até curto os vocais de Mats Léven (que por sinal está cantando de forma muito parecida à do Dedé Matos), cara experiente que passou por boas bandas como o Malmsteen e At Vance mas, verdade seja dita, desfigurou totalmente o som do Therion. Voltando um pouquinho no tempo, é fácil lembrar da participação de Hansi Kürsch do Blind Guardian em Flesh Of The Gods no Deggial. Ótima faixa que, apesar de contar com vocais “melódicos”, não descaracterizou o estilo em questão.

Será que o fato do nosso amigão Christofer ter liberado uma maior contribuição dos integrantes da banda tem algo a ver com isso? Sou totalmente contrário a ditaduras, mas especificamente no Therion, talvez esta abertura não tenha rendido bons frutos.

O primeiro CD termina sem maiores destaques e o problema do disco fica claro: uma faixa puxa para Nightwish, outra para qualquer coisa atual de Metal Melódico, tem outra que é igualzinha a Symphony X, mas quase nenhuma música lembra o Therion de fato e esta é a grande hipocrisia da história. Sim, os corais estão lá, as partes orquestradas também, vocais femininos alternando com masculinos e até mesmo a temática mística que sempre rondou os trabalhos da banda, mas tudo aparece sem o fôlego dos álbuns anteriores.

Para alívio dos fãs, o segundo CD é bem melhor e traz pelo menos dois ótimos destaques: The Wand of Abaris e Adulruna Rediviva. A primeira é uma faixa muito interessante no estilo mais climático do Lemuria e a segunda é uma peça longa e ousada com quase 15 minutos de muitas viradas, orquestrações e criatividade, exatamente o que eu ou você esperávamos deste álbum logo que soubemos de seu lançamento.

Se a banda fosse mais econômica e juntasse os dois CDs, conseguiríamos extrair facilmente um bom disco, mas a megalomania falou mais alto e, infelizmente desta vez, as mudanças de estilo pro melódico não deram certo.

Tudo bem que não existe comparação entre o primeiro álbum, Of Darkness…, totalmente Death Metal cru, com a obra prima Lemuria, por exemplo, mas é fato conhecido que os caras adotaram certo direcionamento a partir do Theli e lapidaram o som nesses últimos 11 anos, sem perder a identidade e focando na evolução. A minha preocupação é que o passo dado em Gothic Kaballah ruma perigosamente para o lado mais Pop do Heavy Metal e nada justifica essa decisão.

Não vejo nenhum problema em tornar acessível sua sonoridade (fato que já fora sentido nos álbuns anteriores), mas se aproveitar dos últimos clichês da música pesada e tornar isso a sua nova base, mostra que tem alguma coisa muito errada e o Therion, criador de um estilo único, não precisa disso.

Alheio à parte negativa, tenho de comentar o encarte de Gothic Kaballah, muito bonito e bem feito (como de costume), mas a banda está com visual e maquiagem exatamente igual às caracterizações do Celtic Frost dos bons tempos, justamente o grande nome do Metal pagão que inspirou a criação do Therion lá no final dos anos 80. Tomara que Christofer Johnsson olhe bem para estas fotos e se inspire novamente para a composição do próximo álbum de estúdio. Os apreciadores da boa música, seja ela pesada ou não, agradecem.

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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
therion-gothic-kaballahAno: 2007<br> Gênero: Metal Sinfônico<br> Artista: Therion<br> Número de Faixas: 15<br> Gravadora: Nuclear Blast<br>