Existem jogos que, logo que são anunciados, criam uma baita expectativa e você imagina que não tem como dar errado. Tudo conspira direitinho para mais um sucesso de público e crítica quando falamos do remake de um clássico de 18 anos atrás, Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles In Time. Originalmente visto nos fliperamas, mas também com uma bem sucedida conversão para Super Nintendo no ano seguinte, em 1992.
Era simples: o jogo original da Konami reunia um ótimo beat´em up com personagens carismáticos do primeiro desenho animado, que ainda fazia um baita sucesso na época. Podia não ter o charme do arcade pioneiro de 1989, mas ainda era divertido pra caramba e fez parte da infância de muita gente!
Agora em 2009, com a onda dos remakes em evidência, a Ubisoft, que detém os direitos sobre os jogos das Tartarugas Ninja há alguns anos, preparou a novidade sobre o relançamento do clássico para a Live do Xbox 360, deixando todos os jogadores trintões (me incluo no pacote) em polvorosa. Para nos empolgar ainda mais, os caras ainda anunciaram que o jogo seria todo refeito e atualizado. Tudo com o selo de uma das empresas mais competentes da nova geração de consoles (já jogou o novo Call Of Juarez deles? Faça isso AGORA).
Não tinha como dar errado, né? Mas deu…
Para começo de conversa, é bom deixar claro que o “novo velho TMNT” – ao contrário do que a maioria dos sites por aí afirmam – é um remake do original de fliperama e não da versão de Super Nintendo.
Para os que jogaram as duas versões, fica bem clara a superioridade do console, que trazia uma fase inteira a mais (Tecnódromo) e chefes diferentes bem mais criativos e carismáticos (Bebop e Rocksteady piratas, Rei Rato, o Destruidor na fase do Tecnódromo, Slash e por aí vai). O único senão da versão caseira era permitir apenas dois jogadores simultâneos contra os clássicos quatro do fliper, presentes aqui também no modo online. Não que esta versão seja ruim, mas ela traz chefes menos conhecidos saídos diretamente dos gibis, era bem mais difícil (o termo certo seria “menos equilibrada”) e curta também. Um típico papa-fichas, com certa diversão, mas muita frustração, como a maioria dos fliperamas da época.
O correto seria pegar a versão refeita de Super Nintendo, atualizar os gráficos e incluir a opção para quatro jogadores. Pronto, perfeito para nós, saudosistas, mas infelizmente não foi o que aconteceu.
Tirando a opção pela versão errada, o que restava ainda era um bom beat´em up da primeira metade dos anos 90, mas aí entramos mais a fundo na idéia do “remake”. O que é um “remake”, propriamente dito?
Quando falamos, por exemplo, de cinema, temos a idéia de uma refilmagem com novos atores, efeitos especiais modernos, mas exatamente a mesma história do original, senão vira uma adaptação. Particularmente, o público mais ligado em cinema não curte “remakes” e, na imensa maioria das vezes, eles têm todas as razões do mundo: não me lembro de um que tenha superado o original.
No caso dos videogames, a idéia não é usada com tanta freqüência, mas parece que de uns anos para cá, virou modinha. Temos, por exemplo, um dos melhores jogos da história, The Secret Of Monkey Island, ganhando repaginação esse ano. Voltando um pouco no tempo, teve também o remake dos três primeiros jogos da série Super Mario Bros de Nes, que saíram no Super Mario All Stars de Super Nintendo e também tiveram apenas os gráficos e sons atualizados para 1993. Outro exemplo mais recente: o clássico Castlevania X original de PC-Engine de 1993 também ganhou há dois anos uma maquiagem em sua versão para PSP.
Em todos estes casos, as mudanças ocorreram apenas na parte técnica, mas em Turtles In Time, as coisas foram mais profundas e, infelizmente, não para melhor.
Começando com o óbvio. Os gráficos sofreram uma atualização e migraram do 2D em perspectiva original para um 3D de um ângulo diferente. Esta mudança, em termos de beleza e mesmo que não agrade a todos, foi positiva e os novos modelos poligonais, tanto das quatro tartarugas quanto dos inimigos, estão mais animados, com muitos detalhes, novos movimentos e expressões. No entanto, o novo ângulo da câmera escolhido em algumas fases é muito próximo ao chão e fica difícil diferenciar personagens com a tela cheia de inimigos.
Algumas novidades chegam a impressionar, como logo na primeira fase, onde o robozão do Krang aparece disparando lasers pelos olhos. Lembro que no original, soltávamos apenas um comentário “olha, o Krang!”, mas jogando agora soltei um “caraaaaaaaca, olha esse Krang!”, porque realmente criaram uma entrada triunfal para a criatura e isso acontece, felizmente, em outros momentos também.
O estilo dos personagens, no entanto, deixou o lado mais cômico do desenho animado dos anos 90 (e do jogo original) de lado para se transformar em algo “dark”, bem na linha dos jogos atuais, mas exagerado em se tratando de quatro tartarugas praticantes de ninjitsu. Sim, eu sei que a aura das HQs onde os personagens nasceram era mais negra mesmo e os criadores, Kevin Eastman e Peter Laird, preferem desta maneira, mas convenhamos que o público alvo deste Turtles In Time são os fãs daquele desenho animado antigo e não faz sentido essa linha séria para um remake, caramba!
Chega a ser até meio bobo uma tartaruga com faixa laranja nos olhos, fazendo cara de mau como se estivesse a ponto de cometer um genocídio, gritar feito uma mocinha quando passa por cima de um espinho. Não combina! Até nas cutscenes, colocaram tartarugas malvadas e cenários escuros (repare nas nuvens apocalípticas na hora em que a Estátua da Liberdade é seqüestrada)! Tenha dó! Isso afetou também diretamente a nova palheta de cores que ganhou apenas tons escuros e pastéis, contra o jogo original vivo e colorido.
Sim, eu sei que na versão de Super Nintendo tinha uma opção para você escolher entre gráficos estilo “animated” ou “comic”. Esta última opção deixava o jogo justamente mais escuro e sério, baseado no gibi mesmo, mas não conheço uma única pessoa que acionava isso quando iria jogar.
O som é uma decepção. As vozes dos personagens e chefes ganharam novas dublagens e entonações (as frases ainda são as mesmas, mas com os dubladores do desenho mais recente, de seis anos atrás) e ficaram boas, tirando o Metalhead que parece dublado pelo Max Cavalera. Já as músicas – antes ótimas – foram todas alteradas para uma nova trilha sonora genérica. Isso já havia acontecido com o outro fliperama das tartarugas que aparecia como bônus destrancável em um dos jogos mais recentes, mas aqui não faz o menor sentido. Afinal não é um extra, é “o jogo” em si e inclusive não foi de graça, custou 10 doletas, pô!
A trilha sonora original era fantástica, empolgante e combinava perfeitamente com o clima todo da aventura épica, com um tipo de som para cada fase. Aqui, não, as músicas novas são absolutamente esquecíveis. Belo ponto negativo e não dá para entender! Será que a Konami não achou as gravações originais ou o compositor não autorizou a utilização pelo pessoal da Ubisoft? Nem a clássica Pizza Power dá as caras aqui.
Quanto à jogabilidade, a idéia continua a mesma, com um botão pulando, outro atacando e um último para o especial, como nos belos tempos. Você ainda joga os inimigos na tela, bate eles de um lado para o outro e dá ombradas, mas o novo formato em 3D parece que não foi lapidado corretamente e muitas vezes perdemos a noção se o ataque vai ou não acertar os inimigos. O golpe agora, porém, alcança até oito posições diferentes graças às três dimensões, mas o dos inimigos também, o que não facilita muito as coisas.
É importante lembrar que a jogabilidade também veio da versão original arcade, então acertar um combo inteiro nos inimigos é praticamente impossível sem levar uma bifa e perder life, ao contrário da versão mais tranqüila do Super Nes. Quando falamos de um ou outro inimigo, tudo bem, mas ao enfrentarmos oito soldados de uma só vez, as coisas não ficam nada divertidas.
Quando se joga em quatro jogadores pela Live, a confusão na tela é absurda, tanto que os programadores criaram um botão “estou aqui” para você localizar sua tartaruga. Parece besta, mas quebra um bom galho! A dificuldade é ajustável, mas o jogo – no geral – complica apenas nas últimas fases, com exceção de um ou outro chefe mais apelão. A duração é de mais ou menos 1 hora e, aliás, este é outro ponto negativo, pois algumas coisas funcionam bem para um jogo de fliperama, mas a sensação não é a mesma ao se jogar no conforto do seu lar. Turtles In Time é muito curto e os caras ainda me jogam uma boa fase extra da versão Super Nintendo fora.
Isto posto, vale lembrar que este é um jogo com quase duas décadas de vida, portanto não espere inimigos variados. São os mesmos foot soldiers de cores diferentes, alguns soldados de pedra e monstros da pizza na fase do esgoto e é isso. Ninguém quis reinventar a roda: é o jogo original com uma nova roupagem, mas a premissa básica de destruir inimigos, avançar a tela para a direita até chegar ao chefe continua intacta. Sim, pode parece enjoativo hoje em dia, mas esse tipo de game foi o supra-sumo entre o final dos anos 80 e começo dos 90.
Enfim, vale jogar pela curiosidade do remake em si, mas depois de zerar a primeira vez, não sei se estou tão disposto a jogar de novo. Sim, jogar com mais três amigos pode ser divertido na primeira meia hora, mas depois acaba cansando também. A impressão é que conseguiram estragar a sensação de jogar um clássico e prefiro a experiência original no meu bom e velho Super Nintendo. Por sinal, sem riscos de 3RL.