Quando eu era criança, um dos meus desenhos favoritos era Snoopy, Charlie Brown ou seja lá como você preferisse chamar. Era uma das animações mais diferentes que existiam, protagonizada apenas por crianças agindo como pequenos adultos, com direito a crises existenciais e fartas doses de melancolia.
Claro, as aventuras fantasiosas do Snoopy e os efeitos sonoros dos adultos que nunca apareciam falando, garantiam a parte engraçada. Contudo, era o lado eternamente loser de Charlie Brown que tornava o negócio tão característico. Me lembro até hoje de um episódio onde Charlie ganhava uma competição pela primeira vez em sua vida e o prêmio era um corte de cabelo grátis. Santa ironia, delfonauta.
Enfim, décadas depois, a criação máxima do cartunista Charles M. Schulz está de volta, agora pelas mãos do estúdio de animação Blue Sky e com roteiro assinado pelos herdeiros de Schulz (Craig é filho e Bryan é neto de Charles). A nova animação funciona tanto para aplacar o saudosismo dos fãs das antigas como para apresentar os personagens para uma nova geração que talvez nunca tenha visto os desenhos antigos ou mesmo lido as tirinhas da Turma do Minduim.
A história é clássica. A Garotinha Ruiva acaba de se mudar para a casa da frente de Charlie Brown e ele gama instantaneamente. Porém, como todo nerd roots apaixonado por uma mina de cabelos vermelhos, ele treme na base toda hora que pensa em ir falar com ela e terá de reunir a coragem para superar sua vergonha e finalmente trocar uma ideia com a pequena.
Enquanto isso, seu fiel cãozinho Snoopy, além de tentar ajudá-lo a falar com a menina, viverá sua própria fantasia como o Ás Voador (pilotando sua tradicional casinha de cachorro) contra o temido Barão Vermelho. Todas essas tramas tradicionalíssimas do desenho, repaginadas e modernizadas pela animação por computação.
O desenho ficou extremamente bonito visualmente, porém mantendo a estética e as características do traço tradicional de Schulz, o que deixa sua assinatura visual dentro do que os fãs já conhecem.
A maioria das piadas também já é conhecida dos admiradores de longa data das animações e das tirinhas. Contudo, o filme não passa a sensação de mesmice e sim de nostalgia ao apresentar novamente situações tão consagradas. Claro, um pouco mais de criatividade não faria mal, mas ainda assim a ideia parece ser mesmo resgatar as velhas marcas registradas.
Nesse quesito, o filme faz bonito, com a presença de toda a turminha, tendo um grande grau de fofura, especialmente pelos divertidos barulhinhos que Snoopy e Woodstock fazem e com situações tradicionais, como a barraquinha de ajuda psiquiátrica, Schroeder tocando seu pianinho, Snoopy beijando Lucy para desespero dela, e por aí vai.
Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme (caramba, não podiam encurtar esse título nacional?) cumpre bem seu papel como uma animação que homenageia com muito carinho o legado de Charles Schulz, ainda que não acrescente nada de novo a ele. Contudo, se você quer relembrar os bons momentos de sua infância vividos ao lado dessa galerinha ou apresentá-la ao seu pequeno, pode assistir que vale a pena.
CURIOSIDADE:
– Eu sempre sentia uma raiva maldita da Lucy quando ela tirava a bola de futebol americano antes que o Charlie Brown pudesse chutá-la. Por isso, quando Family Guy sacaneou justamente essa clássica situação, ela virou um momento verdadeiramente catártico e hilário. Assista abaixo: