Geralmente, quando um casal com filhos está em vias de se separar, a maior discussão é com quem vão ficar as crianças, quem terá a guarda e tudo mais. Mas o casal russo Zhenya e Boris, protagonistas de Sem Amor, vai na contramão dessa tendência.
Prestes a se divorciarem, mas ainda morando juntos enquanto não vendem seu apartamento, eles estão naquela fase onde qualquer coisinha vira uma discussão gigantesca. E eis que uma dessas discussões gira em torno do filho de 12 anos deles, Alyosha. Só que com um pequeno twist.
Afinal, nenhum dos dois quer ficar com o moleque após a separação! Ambos já arranjaram novos pares e não querem a guarda da criança para não estragarem suas novas vidas. Eu sei que a Rússia é um país gelado, mas esse casal é tão frio que discute a possibilidade de abandonar o menino num orfanato, para que ele vire um problema do sistema.
Um belo dia, tal qual num conto de fadas macabro, o desejo deles se realiza e Alyosha desaparece. Daí, óbvio, eles se dão conta de que o garoto faz falta. Procuram a polícia, passam a contar com a ajuda de uma ONG especializada em crianças desaparecidas para ajudar nas buscas, a coisa toda. Só que suas personalidades não melhoram, nem mesmo diante dessa situação.
O filme é um estudo de personagens, focando-se no casal, em sua total amoralidade com qualquer um que não se encaixe em seu projeto de vida. São indivíduos que olham apenas para o próprio umbigo. Que eles passem grande parte do tempo completamente absortos em seus smartphones, é apenas mais um pequeno detalhe para reforçar essa ideia.
Justamente quando se foca em desenvolver as personalidades dessas pessoas tão calorosas e simpáticas que qualquer um certamente gostaria de ter presentes em suas vidas (atenção para o sarcasmo) é quando o filme mais funciona, inclusive em sua pegada mais lenta, de longos movimentos de câmera e da exploração das paisagens gélidas russas. Chega a ser algo fascinante, como assistir a um documentário sobre o modo de vida de seres alienígenas, daqueles que estão mais perto do que se imagina.
Quando a trama passa a se focar mais no desaparecimento do filho, a coisa cai bastante, tornando-se um drama muito mais comum, sem grande interesse. E nesse caso, a estética mais lenta passa a atrapalhar o andamento do filme e não mais a ajudar como acontecia quando o holofote estava nos pais.
Enfim, isso acaba resultando num conjunto desequilibrado. Acabei gostando muito mais do desenvolvimento dos personagens e da longa introdução sobre a situação deles do que da trama principal do desaparecimento em si. Desta forma, o classifico como mais um filme nada.
Tem coisas boas, outras não, e no fim das contas não é algo de que eu vá me lembrar assim que terminar esta resenha. Contudo, para quem gosta de um drama de tons pesados vindos de locais mais alternativos, pode ser que Sem Amor cause uma impressão melhor.