Eu esperava muito de Selfloss, e minha primeira impressão com ele foi fantástica. Algumas horas depois, eu larguei o jogo com raiva, sem ir até o final. Isso porque ele tem muitas qualidades, mas peca demais no gameplay. Não interessa quão maravilhosos forem os gráficos e a atmosfera, se jogar não for gostoso, fica difícil suportar.

SELFLOSS

Selfloss, Maximum Entertainment, Goodwin Games, Delfos

A temática de Selfloss é muito bacana. Selfloss é um ritual que ajuda criaturas a lidar com as perdas de suas vidas. Através deste ritual, elas conseguem seguir em frente depois de perdas traumáticas. E obviamente, você é o responsável por levar esta paz de espírito a elas.

Cada ritual precisa de duas peças: a essência de um peixe e um item importante para a criatura ajudada. Cada fase envolve um destes rituais e o caminho para conseguir os dois itens é bem complicado. Conseguir um deles, pode, por exemplo, exigir pegar um outro item nada a ver e trocar com vários NPCs até finalmente chegar no seu objetivo. Neste aspecto, Selfloss é quase um point and click isométrico, mas provavelmente seria mais agradável se fosse.

NO MEIO DO CAMINHO HAVIA MECÂNICAS

Selfloss, Maximum Entertainment, Goodwin Games, Delfos
Eu quase parei de jogar aí, numa cena de plataforma totalmente atrapalhada por controles ruins.

Cumprir os objetivos exigem explorar pequenos mundos abertos (cada fase é um mapa) com trechos de desafios mais lineares, que combinam quebra-cabeças com combate. O problema é que o controle briga com você o tempo todo. Simplesmente andar já é mais difícil do que deveria. Além disso, o personagem é muito lento e o comando para correr aumenta sua velocidade de forma tênue por três segundos – depois ele precisa parar de correr por um minuto para se recuperar. Ou seja, é inútil.

Não existe um botão de pulo, mas isso não impediu os desenvolvedores de colocarem desafios de plataforma. Estes funcionam assim: você precisa ficar pertinho de uma beirada, e o prompt para apertar LT vai aparecer. Daí você aperta e torce pelo melhor. O herói pode alcançar a plataforma desejada ou pode cair e exigir toda a escalada de novo. Parece totalmente aleatório e fora do seu controle. Na cena da imagem acima, que exige vários pulos seguidos sem erro, eu quase joguei o controle no gato, e só não o fiz porque não tenho gato em casa.

A ESSÊNCIA DO COMBATE

Selfloss, Maximum Entertainment, Goodwin Games, Delfos

O combate segue a mesma proposta um tanto indireta. Você precisa apontar a luz do seu cajado para os inimigos até que eles fiquem imobilizados. Então deve atacar o mais rápido que conseguir antes de ele se soltar. Daí repetir até ele morrer. Mas fica pior: a luz do seu cajado pode acabar durante o combate, e para recuperar você precisa bater em folhas próximas, ou o inimigo pode se renovar completamente. Irgh!

Daí tem o ato de capturar a essência dos peixes, algo importantíssimo para a história: neste caso, você precisa apontar a luz por um tempo e seu barco (sim, tem um barquinho no jogo) fica preso nele. Daí você precisa esperar MUITO tempo até ouvir um barulhinho e então apertar o LB. Repita muitas vezes até o jogo dizer chega. Já é chato e demorado quando funciona, mas a coisa parece tão de lua que eu achei que tinha esquecido o botão certo, e era por isso que não estava funcionando. Narrador: “não era”.

A gota d’água para mim foi lá pela metade do jogo, quando você está em um mar aberto e precisa ativar e seguir a luz de estátuas que te guiam para a próxima. Tinha uma que simplesmente me fazia seguir numa direção até vir uma onda que me matava. Depois de tentar várias vezes, fui obrigado a desistir.

SELFLOSS TEM QUALIDADES

Selfloss, Maximum Entertainment, Goodwin Games, Delfos

Tudo isso é realmente triste, pois Selfloss faz muitas coisas muito bem. O visual, o mundo, a lore e a música é tudo muito legal. Dá impressão que todos os aspectos audiovisuais foram pensados para criar um jogo relaxante e gostoso de jogar, mas algo deu errado na parte interativa, e então se tornou um suplício.

Eu não diria que você não deve jogar Selfloss. Há muito aqui que é recomendável, especialmente para pessoas que gostam de uma experiência mais lenta e reflexiva. Infelizmente, não dá para fugir dos vários atritos causados pelos controles e pela interação em geral.