Quando Okami foi lançado, lá em 2006, lembro-me que todo mundo ficou em polvorosa com a qualidade artística do game. Inclusive a crítica especializada o colocou em uma espécie de “panteão dos games artísticos”. Uma década depois, surge um novo game também protagonizado por uma raposa que é um forte candidato a este panteão.
Seasons After Fall é uma mistura de plataforma com puzzle desenvolvido pelo estúdio francês Swing Swing Submarine para PC, Mac e Linux (com as versões para consoles a caminho) que mais parece pertencer a um museu do que à sua tela.
O game conta a história de uma bola de energia luminosa chamada simplesmente de “Semente”, convocada a uma floresta desolada por uma misteriosa voz feminina que nos dá a missão de agregar os quatro “fragmentos das estações”, cada um em posse de um guardião diferente, para realizar uma espécie de ritual. Para tal, você precisa possuir um corpo físico, e é aí que entra a raposinha (ou raposinho, já que no game diz que é macho).
A direção de arte é um show à parte. Dá para ver que cada cenário do game foi feito com um capricho imenso. Se você prestar atenção, vai conseguir enxergar detalhes mínimos, como raízes se movendo, o vento mexendo a grama, folhas caindo, etc. A própria movimentação da raposa também é muito suave e vê-la saltar não enjoa nunca.
Some isto a uma trilha sonora imersiva e eu não duvido que você se pegue simplesmente vagando pelo cenário sem objetivo, só apreciando a paisagem. Eu sei que é incomum dedicar um parágrafo inteiro ao cenário de um game, mas é que neste caso é algo que merece um destaque especial mesmo.
Apesar de toda a sua complexidade estética, a jogabilidade é extremamente simples. Não há armas, inimigos, armadilhas, deathpits, barra de saúde, vidas numeradas ou power-ups), nem nada do que você acostumado a pegar em outros plataformers. Os enigmas não são muito difíceis e é impossível morrer. Tudo o que você faz é se mover para a esquerda ou para a direita, pular, latir para ativar mecanismos e usar o poder das estações.
Este poder de mudar as estações é onde Seasons After Fall brilha. Cada estação muda completamente a paleta de cores do cenário e interage com ele de uma forma específica. No inverno, tudo fica coberto de neve e os lagos congelam, permitindo que você corra e pule por sua superfície. No outono, os tons são marrons e laranjas, os ventos sopram e os cogumelos crescem, permitindo que você os use como plataformas . Na primavera chove e no verão tudo fica iluminado e alguns tipos de galhos se esticam.
No começo do game, não temos nenhum poder ainda, mas uma vez que você consegue os dois primeiros, podemos mudar de estação a qualquer hora e quantas vezes for necessário. Para isto, basta segurar o shift ou o RB e escolher a posição da estação desejada. Muitos dos enigmas exigem que você mude as estações em uma ordem específica para poder passar para a próxima área, mas não é nada muito complexo.
Uma coisa que eu senti falta é de um mapa. Tudo bem que o jogo não é assim tão grande, mas suas áreas imersivas e tão cheias de detalhes fizeram com que eu me perdesse com frequência.
Teve uma vez em que eu fiquei umas duas horas travado em uma parte porque podia jurar que tinha rodado a área inteira e não achava uma saída de jeito nenhum. E o pior de tudo é que eu estava jogando antes do lançamento, então não havia nenhum guia para me ajudar!
A trama também é bastante simples. Não há muitos personagens, e dos poucos que há, apenas dois falam. Inclusive, eu evitei falar muito sobre a trama porque eu temo que qualquer coisinha que eu diga possa estragar a sua surpresa. Mas eu gostei muito do final do game. Achei bastante poético.
Apesar destes pequenos problemas, Seasons After Fall é um jogo de curta duração, mas muito bem feito, que fisga qualquer um por sua arte caprichada e mantém interessado devido à sua jogabilidade simples e intuitiva. Na resenha de Hue, o Corrales disse que “alguns jogos ganham a gente por quão elaborados são. Outros têm na simplicidade seu maior charme”. Para mim, Seasons After Fall consegue ser os dois ao mesmo tempo.
CURIOSIDADES:
– A introdução é um pouco confusa: você começa como uma bola de energia luminosa em um fundo preto e não recebe dica nenhuma do que fazer. Felizmente, é uma parte bem intuitiva, assim como todo o jogo.
– Falando nisso, o jogo tem pouquíssimos tutoriais. O que é algo bom, já que hoje em dia ensinam a gente até a mover o personagem, rodar a câmera, segurar o controle, respirar…
– Aconteceu uma coisa bem chata comigo, meu save corrompeu e eu tive que começar tudo de novo. Eu até entrei em contato com os desenvolvedores e eles foram bastante atenciosos, mas infelizmente não consegui resolver meu problema e tive que começar de novo. Ainda assim, como o problema parece ter sido do meu PC, isso não diminuiu a nota do game.