Ryan Adams é mais do que uma figura atormentada por ser eternamente confundido com o Bryan Adams. É um compositor talentoso e seu disco autointitulado foi um dos melhores álbuns de 2014. O dono de Amy e Gimme Something Good também é conhecido por ser um grande intérprete e costuma fazer covers marcantes.
No caso dele, é até um pouco injusto dizer que são covers. Ryan Adams é um mestre das releituras, das reinterpretações. Ele tem o dom de pegar algo dos outros e transformar em algo com sua marca e ao mesmo tempo preservar a integridade. Sua versão de Wonderwall recebeu elogios de ninguém menos do que o próprio Noel Gallagher. Até Wasted Years do Iron Maiden ganhou uma versão sua.
Suas ideias bizarras variam de um álbum conceitual de Heavy Metal em homenagem ao falecido Denis D’ Amour (guitarrista do Voivod) até uma releitura do álbum de estreia do The Strokes. Desta vez, deu um tiro no escuro e provavelmente nem ele esperava tanta repercussão do seu projeto de releituras das faixas do álbum 1989 da Taylor Swift.
TAYLOR, IMMA LET YOU FINISH
Taylor Swift é a cantora pop mais bem sucedida da atualidade e começou sua carreira como um sopro de vida na música Country. Contemplando temas como pé na bunda e dor de cotovelo. A transição total da cantora para o Pop está evidenciada no seu último álbum, 1989, que vendeu mais de oito milhões de cópias no mundo inteiro, credenciando a cantora para se tornar a principal voz contra a política de pagamento de royalties do Spotify.
Ela retirou todo o seu catálogo do serviço e ainda fez com que a Apple revesse a política de pagamentos de royalties do Apple Music durante o período gratuito de testes. Isso resume o quão influente a cantora se tornou sem falar na presença dela nas redes sociais em termos de interatividade com fãs.
Na outra ponta desta história, está o Ryan Adams. Um excêntrico. Não consigo definir muito bem o estilo dele. Quando isso acontece, a gente chama de Rock Alternativo. O roqueiro com cara de nerd explicou que sua ideia de gravar o 1989 surgiu de uma experiência pessoal. Ele estava solitário e em um período turbulento da sua vida. A partir disso, ele começou a se conectar com as canções da artista Taylor e declarou ser um admirador da forma que ela compõe e descrevendo a música White Horse como “perfeita”.
Não sei se todo esse rasga seda mútuo é genuíno, mas a própria Taylor se tornou uma entusiasta do projeto. Ryan gravou tudo em apenas dez dias no último mês de agosto e botou a criança no mundo no dia 21 de setembro de 2015. O resultado é surpreendente.
MUITO MAIS QUE UM ÁLBUM DE COVERS
Confesso que não estava familiarizado com todo o material original. Só conhecia Blank Space, Shake It Off e Bad Blood, aquelas que quem não conhece está fora do planeta Terra. Mas depois de escutar todas as versões do senhor Adams, senti a necessidade de comparar com a original. Acabei escutando o 1989 com Taylor Swift numa boa curtindo o batidão (como diria o MC Sapão).
As versões do Ryan Adams subvertem o disco Pop arrasa quarteirão. Segundo o próprio, ele trabalhou influenciado por The Smiths e Bruce Springsteen. Eu diria que ele foi humilde. As músicas conseguem representar outros nomes relevantes com a marca do próprio Ryan Adams. Se aproximando muito da sonoridade do seu autointitulado de 2014 e outros álbuns como Heartbreaker e Love is Hell. São releituras de alta qualidade que conseguem ter uma vida nova sem se desgarrar completamente da criadora.
WELCOME TO NEW YORK
O álbum abre com a versão de Welcome to New York, que está muito próxima da sonoridade oitentista proposta. Os hits Blank Space, Shake It Off e Bad Blood receberam um arranjo semiacústico bem ao estilo Ryan Adams. Outra marca do músico está nos refrãos puro feeling de Out of the Woods e This Love. Style remete a algo feito pelo U2, com guitarras semelhantes às do The Edge e um vocal nitidamente inspirado no Bono Vox.
All You Had to Do Was Stay e Wildest Dreams se apresentam como as faixas mais consistentes do trabalho, com um clima obscuro e dançante que lembram The Cure. Já as faixas How You Get The Girl e This Love realmente soam como Bruce Springsteen em Nebraska.
Apesar de The Smiths e Bruce Springsteen serem os guias das releituras em questão. Ryan Adams conseguiu de forma intimista e melancólica contar a história da música pop dos últimos 40 anos, tendo o álbum Born to Run (Bruce Springsteen) como marco inicial e passando por David Bowie, Queen, The Smiths, The Pretenders, Joy Division, Depeche Mode, U2, Echo & the Bunnymen, etc. até chegarmos ao 1989.
HATERS GONNA HATE, HATE, HATE
É um pouco óbvio que este álbum vai gerar comentários nos moldes “consertou/estragou os originais”. Não há razão para se apegar a esta mentalidade. São duas coisas completamente diferentes. Ryan Adams alcançou o objetivo de prestar um tributo à Taylor Swift da sua maneira, demonstrando respeito e admiração. E talvez gere o fenômeno de fãs do Ryan Adams buscando composições da Taylor Swift e vice-versa.
Curiosamente, este lançamento é um dos melhores que escutei neste ano, junto com os últimos do Ghost, Faith No More e Iron Maiden.