Se você lê quadrinhos, o nome Greg Rucka deve ser familiar. Caso contrário, saiba que ele escreveu várias séries importantes, tanto para a DC quanto para a Marvel, e inclusive ganhou quatro Eisner Awards, o prêmio mais importante dos quadrinhos estadunidenses.
Pois bem, Rucka, com toda a autoridade que tem para falar sobre o assunto “super-heróis”, resolveu descer a língua nos produtores de Hollywood, que pegaram a mania de culpar o público e os personagens pelo fracasso de seus filmes. Segue abaixo o que Rucka disse, conforme reproduzido pelo Newsarama:
“O problema é este: estou de saco cheio de super-heróis que não são super, nem heróis, mas, mais ainda, estou de saco cheio de Hollywood culpando a gente pelas suas falhas. Estou de saco cheio de ouvir os executivos dos estúdios de Hollywood, que estão tão por fora da realidade do gosto do estadunidense médio quanto Rick Perry do Cristianismo, justificando o desempenho ruim dos seus produtos mal-feitos culpando indiretamente a mim, a você, e a todas as pessoas que não gastaram dinheiro com o lixo deles. Mulher-Gato fracassou? Ao invés de, talvez, e apenas talvez, reconhecerem que o filme é um monte de excremento que não serve nem para virar fertilizante, eles concluíram que uma personagem feminina não pode estrelar um filme a menos que o seu nome seja Jolie. Então, agora, não somos só culpados de não querer gastar por 90 minutos de estupro intelectual, aparentemente também somos todos um bando de babacas sexistas. O problema com o fraco desempenho do Lanterna Verde nas bilheterias é devido a ele não ser ‘sombrio’ o suficiente? Eu acho que não.
Arte, e até mesmo se esta arte for comercial e produzida para o entretenimento, se alimenta e é alimentada pela sociedade que a consome. Então eu te pergunto, agora, olhando à sua volta, que tipo de escapismo lhe seria mais interessante? Numa era de alertas de terrorismo e disfunção bipartidária, de um ódio crescente e onde a intolerância floresce, de quebra de bancos e desemprego geral mundo afora, o que precisamos mesmo é de algo ‘sombrio’?
Veja bem, eu gosto do sombrio. Eu escrevo coisas sombrias. Há um momento e lugar certo para o sombrio. Eu gostaria do meu Batman sombrio, obrigado, e eu entendo que isso significa que meu filho de 11 anos tenha de esperar para assistir a O Cavaleiro das Trevas. Mas e se Hollywood me entregar um filme do Superman para o qual não posso levá-lo? Eles fizeram algo errado. O Superman é muitas, muitas coisas, mas não é sombrio. Isso é algo que Richard Donner entendia, com toda certeza.
(Hora da implicância: para o público que esnoba heróis como o Superman, Mulher-Maravilha ou Capitão América, estes ícones que ainda, no seu âmago, representam sacrifício altruísta pelo bem maior, e que justificam seu desprezo dizendo ‘ah, é muito irreal, ninguém é tão bonzinho assim…’ Cresçam. Sério. Cinismo não é maturidade, não confunda um com o outro. Se você realmente não pode aceitar uma história onde alguém faz a coisa certa apenas porque é a coisa certa a fazer, isso diz muito mais sobre você do que diz sobre estes personagens.)
Isso não é um argumento para uma sofisticação da época ou do público. Sofisticação não nega a sinceridade, nem mesmo a rejeita, como o filme do Capitão América provou. Sofisticação requer melhor narrativa, motivações mais claras, intenções mais puras. ‘Sombrio’ é uma palavra apologética neste sentido, usada no lugar de ‘realista’. Nós não vamos ao cinema pelo ‘realismo’. É por isso que documentários não são o principal material dos cinemas. Sofisticação não requer realismo, requer inteligência“.
O que eu posso acrescentar ao que Rucka falou? Só a imagem abaixo: