Rock Band

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Todos nós, amantes da música em suas mais variadas vertentes, ficamos extasiados quando Guitar Hero foi lançado para o PS2. Gastamos nossos dedos fritando guitarrinhas de plástico e abandonamos nossas vidas sociais na busca por transcendermos de meros mortais a astros iluminados do Rock. Mas como nem tudo dura para sempre, a fórmula utilizada pela primeira edição estava ficando batida, e convenhamos, a franquia já estava mesmo dando no saco. Eis então que após a compra da Harmonix pela EA, foi anunciado um projeto no mínimo ambicioso. Um jogo onde constaria não apenas a família das cordas, mas outros dois outros elementos tão essenciais ao rock: bateristas e vocalistas.

“Nossa, que legal!”, eu pensei. Mas minha euforia acabou quando dei de cara com o preço da versão Special Edition, que vinha acompanhado de todos os instrumentos. Amargos mil reais. Isso mesmo, você leu mil reais. Vamos ver o que eu poderia comprar com este dinheiro: Um Nintendo Wii, ir a dez shows de Rock, uns nove jogos pro Xcaixa, cinco mil chicletes, cinqüenta pizzas, entre outras coisas. Mas como sou um ser humano destemido, decidi acabar com minhas economias e comprar o dito cujo com o único intuito de escrever esta resenha e manter você, caro delfonauta, informado.

O inspirado mundo dos guitarristas

E lá fui eu jogar. Primeiro pluguei minha guitarrinha no console e fui brincar de David Gilmour. A guitarra de Rock Band é superior à do Guitar Hero em vários aspectos. Possui dez botões, cinco localizados no começo do braço, perto do headstock, e mais cinco no final do braço, próximo ao corpo. Para quê esses cincos botões extras? Para você fingir que está solando. Não é legal? Mas também pode ser usado por crianças ou pessoas com mãos pequenas, como o próprio jogo sugere. As cores dos botões são pintadas apenas na parte superior e inferior, deixando a guitarrinha com um ar mais discreto que a do concorrente.

Existe também uma chave seletora no corpo da guitarra, que imita uma chave seletora de captação de uma guitarra de verdade, que no jogo tem a função de selecionar entre quatro tipos de efeitos de som: wah-wah, flanger, echo e chorus. Uma vez selecionado, o efeito dá as suas caras durante os solos ou quando o especial overdrive (equivalente ao star power) é ativado, deixando suas músicas com uma execução única e por vezes engraçada. A curva de aprendizado para se dominar o instrumento é curta e eficiente, obviamente pensada para os já viciados em Guitar Hero. Quanto à jogabilidade não tenho o que acrescentar, é a mesma da concorrência.

O mítico mundo dos vocalistas

Microfone na mão e ego inflado, lá fui eu bancar o Freddie Mercury. Ser um cantor aqui no mundo da fantasia é bem mais fácil que no mundo real. Você deve acompanhar as linhas que correm junto com a melodia, que representam o tom que está sendo cantado. O jogo mede apenas o tom e a métrica dos versos, não tem importância se você cantar “Enter Sandman” com a letra de “Atirei o pau no gato”, desde que o tom e a métrica estejam corretos, você vai longe. Senti falta de um tutorial mais caprichado para este modo (o disponível é o mais simples dos três instrumentos), como aquecimento de voz, ou dicas de como cantar mais agudo ou mais grave, porque comigo, Run to the Hills só sai no falsete.

O megalomaníaco mundo dos bateristas

Sim! Esta é a principal razão de eu ter adquirido este jogo, fingir ser Mike Portnoy. A bateria de Rock Band é bem bonitinha, possui quatro pads pra você bater e um pedal. Sua estrutura é feita de tubos de alumínio com travas de plástico. Os pads são emborrachados e até agora têm agüentado eu bater neles sem problemas, mas deveriam ser feitos de um material diferente, que emitisse menos som. Muitas vezes o batuque da bateria é mais alto que a bateria do jogo, o que faz com que você tenha que aumentar muito o volume da televisão. Também vem um par de baquetas de madeira, daquelas usadas em baterias de verdade. Jogar como baterista é uma experiência muito mais integral do qualquer outro instrumento, depois de tocar três músicas seguidas é provável que você esteja suando bicas. Já a curva de aprendizado é um tanto confusa, algumas músicas do final do jogo são mais fáceis que outras do meio do jogo, geralmente é o contrário né?

Chamou os amiguinhos? Bacana! Vamos brincar de banda! (xiiii, rimou).

No modo World Tour você e pelo menos mais um coleguinha devem formar sua banda dos sonhos e correr o mundo atrás de fama, fortuna e mulheres. Você começa fazendo pequenos shows e segue desbloqueando vãs, ônibus, e até um jato particular que leva você pra qualquer lugar do mundo. O bacana aqui é o contador de fãs que a sua banda tem. Atingir 1,000,000 de fãs desbloqueia um dos muitos achivements e faz você se sentir como o headliner de um grande festival. Todos os quatro instrumentos podem brincar ao mesmo tempo, mas você precisa ter uma segunda guitarrinha, pois este Special Edition é tão special que vem com apenas uma. Tanto as guitarras com fio ou sem fio do Guitar Hero funcionam aqui.

E o que vamos tocar?

O set-list é o item que de fato faz toda a diferença. Por mais impecável que fosse, não adiantaria nada se ele não estivesse recheado de clássicos, e como já é tradição nesses jogos musicais, por algum motivo, nem todas as músicas são legais. Não vou falar sobre todas elas, vou me ater apenas àquelas que se destacam de maneira positiva ou negativa. E lá vamos nós.

Aerosmith, “Train Kept a Rollin’” – Quem não conhece o Aerosmith vai pensar que a banda é uma droga. Que porcaria de música é essa? Chata e arrastada demais. Será que os direitos autorais de músicas como Dream On e Livin’ on the Edge são bem mais caros? Eu particularmente prefiro Falling in Love (Is Hard on the Knees).

Black Sabbath Paranoid”, Deep Purple “Highway Star”, KISS “Detroit Rock City” – Clássicos imortais, demoraram para aparecer em um jogo do gênero, mas Paranoid apareceu ao mesmo tempo no Guitar Hero III.

Ramones “Blitzkrieg Bop” – Não sei você, mas Pet Cemetery é bem mais legal, não é?

Rush “Tom Sawyer” – A música que todo mundo queria, mas que Guitar Hero nunca teve colhões de colocar. A bateria é bem difícil, vai tomar muitas horas suas.

Bon Jovi “Wanted Dead or Alive” – Nossa, só agora lembraram do Bon Jovi? Só pra continuar a ser chato, Living on a Prayer ou Keep the Faith são mais legais. Mas quem sabe eles não disponibilizam para baixar na Xbox Live.

Faith No More “Epic”, Soundgarden “Black Hole Sun” – Sempre curti essas músicas, mas nunca imaginei ver qualquer uma delas em um jogo deste tipo. São surpresas bem-vindas.

Iron Maiden “Run to the Hills” – Falar o quê? O único problema é que é uma cover e a voz está bem ruim.

Metallica “Enter Sandman” – Até que enfim. Desde o primeiro Guitar Hero esta música não sai das nossas cabeças. Jogar ela é tão legal quanto você pode imaginar que seja.

Weezer “Say It Ain’t So” – Não sou fã da banda, mas gosto de algumas músicas. Esta, por exemplo, é chatíssima. Tão chata, mas tão chata que dá vontade de desligar o console e devolver o jogo. Só joguei porque não dá para pular.

Coheed & Cambria “Welcome Home” – Sempre conheci esta banda, mas ela nunca fez parte do mainstream do rock. O vocalista parece dublê de voz do Geddy Lee, mas tirando isto, a música é bem legal.

O restante do set-list principal é feito de músicas medianas que podem tanto ser boas como ruins, vai depender do seu humor. De qualquer forma, é injustificável que existam tantas músicas em comum neste jogo e no Guitar Hero III. É claro que, como na concorrência, Rock Band também tem faixas bônus, e é aqui que mora o perigo. Você já ouviu falar de uma banda chamada Death of the Cool? Ou na The Konks (cuja faixa presente deve ser uma das únicas músicas de Rock que NÃO USA bumbo na bateria)? Claro que não, eu sei. Estas e outras bandas desconhecidas, juntamente com suas músicas horríveis, estão presentes em todo o set-list bônus.

A única exceção é Timmy and the Lords of the Underworld, a banda do paraplégico Timmy, personagem de South Park que, claro, é uma grande brincadeira. Mas é inexplicável o motivo das outras músicas estarem no jogo. Aliás, tem um motivo sim. Você acaba de conhecer a mais nova forma de jabá da mídia. Não é óbvio? Por que pagar para ter um clássico de uma grande banda no seu jogo, se uma banda totalmente desconhecida vai te pagar pra você colocar a música dela? Que vergonha. Ah, e boa parte dessas bandas desconhecidas já tinham aparecido no Guitar Hero II. Uma coisa legal é que os tutoriais são narrado por membros desses grupos. Quem sabe um dia não teremos um Tony Iommi narrando o tutorial de guitarra de um jogo do gênero? *-*

Minha banda é melhor que a sua!

Eu não queria, mas não tem como não comparar Rock Band com Guitar Hero, já que um é filho do outro. Além dos instrumentos extras, Rock Band possui um divertido modo de customização do seu músico, onde você pode escolher o rosto, cabelo, roupa, sexo (o gênero, seu mente suja), nome e forma física que você quiser. Os desenvolvedores de Guitar Hero devem ter se perguntado, “Como nunca pensamos nisto antes?”. A platéia de RB é mais viva e menos robotizada que os bonecos de papelão de GH. A performance da sua banda também é mais legal, mais ágil, com ótimos closes e cortes de câmera que acontecem no ritmo da música, como em um videoclipe. Os músicos têm uma desenvoltura mais real e suas performances lembram os astros de verdade. Lembra do Mandíbula? Aquele vocalista bizarro do GH3? Então, já era.

A esteira por onde as notas correm é semi-trasparente, e todo o resto dos marcadores, como o marcador de especial e o de aprovação do público são bem discretos e ficam em segundo plano, o que é ótimo. O layout da tela do Guitar Hero é muito poluído, e fazia a gente errar de tanto que chamava a nossa atenção. Outra coisa legal é que, durante a música, vai aparecendo quantas estrelas você já conseguiu, o que deixa bem mais fácil saber quanto falta para alcançar as tão cobiçadas cinco estrelas. Também existe um marcador de solos, que dá a porcentagem de quantas notas do solo em questão você acertou, uma mão na roda para aqueles solos mais longos, mas não dá para entender porque em alguns solos isso não aparece, enquanto aparece em alguns trechos que mal podem ser considerados solos.

Se não fossem as notas correndo pela esteira, poderíamos dizer que Rock Band é um jogo completamente novo, tantas são as diferenças entra as duas franquias. Rock Band tem seu maior defeito justamente no preço, que com toda certeza afastou e vai continuar afastando muita gente do jogo. Achei um desaforo um jogo com este preço não vir com pelo menos quinhentos microsoft points de brinde, pra compensar um pouco, sabe? O set-list, como sempre, poderia ser melhor, mas você pode torná-lo mais legal baixando novas músicas na Live, se estiver a fim de investir ainda mais aqui.

Fora isto, ele é um jogo muito bom e extremamente divertido, adicionou o que faltava e acertou o que estava errado em Guitar Hero. Se você está em duvida se este jogo vale mesmo a pena, eu lhe respondo: vale! Se você já possui uma guitarrinha do Guitar Hero, eu lhe aconselho a comprar a edição simples do jogo, sem instrumentos, já que ela é compatível com Rock Band. O jogo também aceita qualquer microfone USB, e mais tarde, se der vontade, você compra a bateria separada. Ao que eu vejo, a única solução para a franquia de Guitar Hero seria eles darem um jeito de você plugar uma guitarra de verdade no console, caso contrário, eles encontrarão seu derradeiro fim na virtuose multiinstrumental de Rock Band.”