A esta altura o delfonauda dedicado (high five!) já sabe da minha paixão por boomer shooters. Pois é claríssimo que Wrath Aeon of Ruin estaria no meu radar. Ele é tão retro que foi desenvolvido na engine de Quake, veja só que coisa. E apesar do visual quadradão e da jogabilidade rápida de outrora, Wrath Aeon of Ruin é também um jogo moderno. Um que roda extremamente bem na sua versão de Windows (a única disponível até o lançamento original deste texto). Pegue sua escopeta e venha comigo para mais uma análise delfiana de um boomer shooter.
ESTE REVIEW FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO EM 26 DE FEVEREIRO DE 2024. O TEXTO FOI ATUALIZADO EM 24 DE ABRIL DE 2024 POR CAUSA DO LANÇAMENTO PARA PS4 EM 25 DE ABRIL.
WRATH AEON OF RUIN
Wrath Aeon of Ruin é tudo que você espera dele. Tem um monte de armas criativas, monstros perigosos e facilmente identificáveis e fases labirínticas. Entre Quake e Doom, eu diria que Wrath parece mais com o último. A utilidade da escopeta, a violência crocante e os efeitos sonoros deliciosos tornam o jogo um prazer de jogar, como se fosse uma pérola perdida da formação clássica da Id Software. De Quake, ele traz o estilo musical, com temas que você quase não ouve, ao invés dos riffs pegajosos de Doom.
Porém, ele também não parou no tempo. As fases são simplesmente enormes, muito maiores do que as dos FPS clássicos. O level design em geral é muito bom, mas ele tem bem aquele estilo dos jogos antigos, em que cada mapa oferece uma ideia, uma mecânica ou algo assim que o torna diferente dos outros. Falemos mais sobre isso.
EXPLORANDO A IRA
Por falta de uma comparação melhor, cada fase de Wrath lembra uma área de Dark Souls. O mundo não é conectado. Cada fase fica atrás de um portal (ok, como Demon’s Souls), mas elas são enormes e cheias de caminhos para explorar. Tem até portas que só abrem de um lado e liberam atalhos quando você chegar do outro, por exemplo.
Tem um cuidado com o level design que nem sempre estes jogos tinham. Assim como em Quake, você vê uma porta trancada e sai dando uma volta enorme, mas quando encontra a chave, normalmente está perto da porta de novo. Coisas assim fazem uma tremenda diferença na qualidade de vida. Mas isso não significa que você não vai se perder. E ficar perdido em uma fase que demora mais de uma hora para ser atravessada é bem mais complicado do que em uma de dez minutos.
Uma coisa bacana é que se você se perder, dá para sair da fase pelo portal de entrada a qualquer momento, e o jogo salva o estado dela, tipo itens coletados e inimigos mortos. Então sempre dá para explorar outras fases se travar em uma. Mas voltar para o início nem sempre é fácil, ou mesmo possível.
SALVANDO E CARREGANDO
Algo que Wrath traz de novo felizmente não é imposto ao jogador. O quick save, algo tradicional em FPSs antigos que não tinham checkpoint, é um item consumível. Tem vários desses itens espalhados pela fase, mas se você salva com frequência, como eu, vai ficar sem rapidinho. Felizmente, dá para ativar no menu de gameplay a opção de saves infinitos, o que permite quicksalvar quantas vezes quiser. Esta opção é essencial para eu ter me divertido com o jogo. Sinceramente, se ela não existisse, ou for tirada em alguma atualização, minha recomendação é evitar Wrath como o Cascão evita chuva. Esta opção também existe na versão de PS4.
Além disso, as fases têm altares, que você pode usar para salvar o jogo. Porém, cada altar pode ser usado uma única vez, e as fases, que levam mais de 60 minutos para serem concluídas, têm, em sua maioria, apenas um ou dois. Se fosse o esquema fogueira, que abrir um atalho que te leva de volta permitisse salvar de novo, vá lá, mas o altar fica desativado depois que você passa por ele, então abrir atalhos não serve de checkpoint. O quick save é essencial. Embora o estado da fase fique salvo quando você sai dela, morrer restaura o save, exatamente do ponto que estava quando salvou. Então não dá para ir limpando a fase aos poucos, um pouquinho em cada vida, estilo Bioshock.
Sempre que você entra no menu de carregar (apertando para baixo no diagonal digital do controle de Xbox), há três opções: quick load, altar ou reiniciar fase. Cada um desses saves sempre substitui o anterior feito na mesma categoria. E, sim, mesmo no easy e com saves ilimitados, Wrath é extremamente desafiador. O que me leva à sua duração.
HUBS E FASES DE WRATH AEON OF RUIN
Wrath Aeon of Ruin é dividido em três hubs. Cada hub tem portais para cinco fases, além de segredos próprios. O objetivo de cada fase é encontrar uma relíquia, que normalmente está perto da porta de saída. Quando você tiver as cinco, pode abrir o portal para o chefe, e vencer te transporta para o próximo hub. Enquanto você estiver num desses hubs, é possível visitar as fases em qualquer ordem, e mesmo voltar a elas. Mas depois de matar o chefe, não dá mais para voltar aos hubs anteriores.
Considerando a duração de um boomer shooter nos anos 90, eu sinceramente esperava que as cinco fases do primeiro hub fossem o jogo inteiro, o que daria umas seis ou sete horas de jogo. Mas são 15 fases enormes, o que coloca a duração na casa das 20 horas. É muito para o gênero, e muito para mim. Eu sinceramente preferia que Wrath Aeon of Ruin fosse dividido em três jogos, sendo que cada mundo formaria uma parte da trilogia.
O primeiro e o terceiro hubs, em especial, são desnecessariamente complicados, a ponto de que fiquei em dúvida simplesmente se seria capaz de encontrar todas as fases. O segundo é mais apropriado, uma área comprida, com duas fases de cada lado e uma no final. Mais fácil de entender e de acompanhar o que já foi feito.
PERFORMANCE DE WRATH AEON OF RUIN
Este vai ser um tópico rápido simplesmente porque o jogo roda muito bem. No meu note, com uma RTX 3070, ele roda a 1440p e 240 fps (o máximo da tela). Ligando na TV, consegui rodar a 4K e 144 fps (o máximo da tela também). Quedas de taxa de quadro são raras, a não ser quando você salva o jogo, o que “pausa” o jogo por cerca de meio segundo. Como é algo sempre iniciado por você, não atrapalha tanto.
Como não existe versão para PS5, a de PS4 roda a 60 fps, e mesmo assim tem quedas frequentes, bem mais comuns do que no Windows. Recomendo instalar o jogo no SSD, o que melhora, mas não resolve totalmente, estes engasgos. Uma vantagem na versão de Playstation é que ele usa muito bem o alto-falante do controle, que faz sons quase o tempo todo.
Tecnicamente meu principal problema foi em uma fase em que eu precisava vencer uma arena cheia de inimigos e daí a relíquia subiria num elevador. Venci todos, menos um inimigo indefeso, que só faz escudo para os outros. Ao sobrar sozinho, ele fugiu. Achei que tinha vencido, mas a relíquia não popou. Eu quicksalvei depois da batalha, então não dava para voltar do início. Tive que restaurar um altar, com um save que tinha sido feito mais de 15 minutos atrás. A partir daí, sempre que este bichinho do escudo aparecia, ele era minha total prioridade, mas não foi legal ter que jogar boa parte de uma fase de novo por causa de um erro assim.
WRATH AEON OF RUIN É DEMAIS, EM TODOS OS SENTIDOS
Wrath Aeon of Ruin é demais. No sentido de que ele é muito divertido, muito gostoso de jogar, e simplesmente o recipiente de um gamedesign sensacional. Porém, ele também é demais no sentido de ter jogo demais. Sempre que eu sentava para jogar, eu dava um sorriso e exclamava “pô, que jogo legal”. Mas depois de passar por apenas duas fases em três horas, eu desanimava, e fazia as contas de quantas fases faltavam para acabar.
Na época de outrora (tipo anos 90 mesmo), eu costumava jogar games como este uma fase de cada vez. E acredito que é a melhor forma de desfrutar de tudo de bom que Wrath oferece. Meu first world problem é que não dá para jogar com tanta calma quando está jogando para review, mesmo quando, como neste caso, o código do jogo chega bem antes do embargo. Para mim, Wrath Aeon of Ruin é longo demais para seu próprio bem. Mas é bem variado e muito bem-feito durante sua campanha. Acho que muita gente vai desistir no meio, não porque ele faz algo errado ou seja repetitivo, mas porque tem mais jogo do que esperamos do gênero. Se você tem tempo e disposição para jogar com calma, no entanto, pode mergulhar de cabeça, pois a diversão é alta por aqui.