Depois de exatos 597.748 games de Dragon Ball, agora temos um game baseado em outro mangá de Akira Toriyama. O assunto de hoje é Sand Land, que no mundo dos games se tornou a coisa mais comum que existe: um RPG de mundo aberto. Porém, o carisma dos personagens e o humor típico de Toriyama acabam destacando o que de outra forma seria apenas mais um. Bem-vindo à nossa análise Sand Land, o game.
REVIEW SAND LAND, O GAME
Hoje em dia, RPG de mundo aberto não significa muita coisa. Sand Land traz exploração com veículos e combate corpo a corpo. Porém, seu principal diferencial é que, embora você possa sair na porrada com a maior parte dos inimigos, é muito mais fácil usar os veículos para vencê-los.
Cada veículo tem funções específicas. Todos atacam, mas o tanque, por exemplo, é o mais viável para combate. Outros, como a moto e o buggy, servem para explorar em alta velocidade. E daí tem o hover, que funciona na água, um que pula e um outro que é basicamente uma Power Armor de Fallout.
É possível alternar entre eles a quase qualquer momento, graças a um charmoso gimmick narrativo que permite que os veículos sejam encolhidos a qualquer momento. Assim, se você está se locomovendo pelo mundo aberto, provavelmente estará no comando da bike ou do buggy. Mas se resolver parar para um tiroteio, pode – e deve – mudar para o tanque.
O MUNDO ABERTO
Tem dois mapas de mundo aberto. O primeiro, a titular Sand Land, é um vasto deserto. Bem grande, mas sem muita coisa de fato para ver. Você pode pegar um veículo e sair dirigindo em praticamente qualquer direção, o que é até bacana. Mas tirando os ícones que estão marcados no mapa, não há muito para ver ou para pegar.
O segundo mapa, da floresta, é bem menor. Mas ele tem caminhos pré-estabelecidos. É um mundo aberto mais no estilo de Dragon’s Dogma 2. Então não basta colocar um waypoint e dirigir até lá, você precisa saber como chegar, o que é um desafio por si só. Na parte de mundo aberto propriamente dito, ambos os mapas trazem cavernas e baús com itens usados para crafting e upgrades e alguns colecionáveis de texto. O grosso do que fazer, além da campanha e das torres que liberam o mapa (Ubisoft manda um alô!), são as sidemissions.
SIDE E MAIN MISSIONS EM SAND LAND
As sidemissions são o básico do básico. Coisa como vá até o ponto X e fale com alguém ou vença tal inimigo. Algumas são consideravelmente mais irritantes e envolvem atividades como coletar X plantinhas que não ficam marcadas no mapa. As missões em si não são inspiradas, mas trazem benefícios bacanas. Em especial, cada missão cumprida leva um novo habitante para a cidade principal. Ela começa como uma cidade quase abandonada, mas é gostoso vê-la sendo reconstruída, com cada vez mais lojas e, especialmente, quando começa a receber fazendeiros, água e outros benefícios da vida moderna.
A coisa fica bem diferente nas missões de história. Várias delas são as tradicionais de mundo aberto, mas uma grande quantidade te coloca dentro de dungeons mais lineares e mais gostosos de explorar. Muitos desses dungeons, inclusive, são pensados para o uso de veículos específicos, o que ajuda a trazer uma bem-vinda variação para o jogo.
MUITOS GAMEPLAYS DIFERENTES
Uma coisa que chama a atenção é quantos estilos de gameplay Sand Land traz. Belzebu, o demoniozinho protagonista, tem uma jogabilidade beat’em up completa, incluindo dois botões de ataque, golpes especiais, modo berzerk e tudo. Dá até para usar habilidades da sua party para ajudar no combate. Porém, você quase não usa o moleque para matar inimigos, a não ser nas raras situações em que o jogo literalmente impede de usar um veículo.
Os veículos em geral têm duas formas de ataque, sendo um deles uma metralhadora genérica e o outro algo que pode ser foguete, mortar ou escopeta. E tem, claro, o robô da pancadaria, que tem socos poderosos e que quase literalmente substitui o Belzebu depois que você o libera.
Além disso, o Belzebu e cada veículo, além de cada membro da party, podem ser upados, ficando cada vez mais fortes. Não apenas isso, cada peça individual de cada veículo pode ser substituída e upada individualmente, modificando como cada um deles ataca e se movimenta. Sand Land tem muito mais complexidade do que o necessário, especialmente porque na prática você vai usar o tanque para combate e seu veículo rápido preferido para movimentação a maior parte do tempo.
A HISTÓRIA E O CARISMA DE SAND LAND
Sand Land acontece em um mundo dividido entre duas raças: os humanos e os demônios. Os humanos não gostam dos demônios e estes se dizem malvados. Porém, a malvadeza dos demônios é refletida por ações como “ficar acordado até tarde”. Assim como o Murray, de Monkey Island, este humor de alguém que quer ser malvado, mas na verdade não é, fala muito comigo.
Assim, embora a história não seja nada demais, apenas uma busca por água contra um governo corrupto, a narrativa é bacana. O humor é bastante divertido e eu gostei MUITO do design dos personagens, especialmente seus olhinhos marrentos.
OLHINHOS MARRENTOS
Visualmente, o jogo é bacaninha, mas sem muitos detalhes. Especialmente o mundo da areia é basicamente um extenso mapa sem muita coisa para ver. Os personagens têm aquele jeitão estranho de desenhos animados 2D transformados em bonecos 3D que acho um tanto bizarro. Porém, o design original é bem forte, e foi repassado fielmente para o jogo.
Os cenários, em especial dos dungeons, poderiam ser mais variados. Assim como Final Fantasy VII Remake, tenho a sensação de que quase toda fase mais linear acontece no mesmo bioma. Narrativamente, ele faz algo tradicional de histórias japonesas em que você encontra os vilões várias vezes, até que em determinado ponto eles deixam de ser vilões. Funciona, se não tanto como chefes repetidos, pelo menos como desenvolvimento de personagens.
SAND LAND, A TERRA DA AREIA
Embora se diferencie por ser um jogo de combate de veículos, não dá para negar que o enorme guarda-chuva do “RPG de mundo aberto” dá muitos sinais de cansaço. Sand Land reflete um tipo de experiência muito comum nos games de 2024.
Basicamente, eu começo a jogar com uma enorme preguiça de ficar limpando mapa e microgerenciando estatísticas. Daí dá uma empolgada e até resolvo explorar o mundo aberto e fazer sidemissions. Por fim, fico de saco cheio quando as sidemissions demonstram ser puro filler e começam a encher o mapa, e vou direto até o fim da história.
Quando termino, estou cansado, e sem nenhuma vontade de viver este tipo de experiência pelo próximo ano. Mas claro, já tem outro RPG de mundo aberto na fila, então lá vamos nós repetir tudo, agora com sentimento. Sand Land até é capaz de entreter quem gosta de mundo aberto, e não abusa da amizade durando 100 horas ou mais. Mas também não é o jogo que vai salvar o gênero da mesmice, ou mesmo apresentar novidades suficientes para conquistar quem já está de saco cheio de limpar mapa.