Pipistrello and the Cursed Yoyo é um belo Zelda-like brasileiro. Naquele estilo antigo mesmo, tipo A Link to the Past. Minha experiência no gênero é limitada, mas me lembrou bastante Link’s Awakening. Arriscaria dizer que os jogos clássicos do Link foram a principal inspiração para a turma da Pocket Trap.

REVIEW PIPISTRELLO AND THE CURSED YOYO

Você é Pippit, herdeiro da família Pipistrello, que domina a cidade e impõe tarifas debilitantes para os negócios da região usarem energia. Quatro empresários, então, fazem uma armadilha, e conseguem energia infinita, ao mesmo tempo que prendem a tia Pipistrello no iô-iô do Pippit. Agora os dois precisam caçar os quatro para recuperar o corpo da tia. Cada um dos empresários mora em um dungeon, e você pode ir a dois deles de cada vez. Ao mesmo tempo, há o tal do overworld, o “mundo aberto”, com um monte de atividades opcionais, upgrades e desafios que você só vai conseguir cumprir depois de melhorar suas habilidades nos dungeons.

Eu comecei jogando Pipistrello and the Cursed Yoyo como um metroidvania. Sabia que não conseguiria resolver tudo de cara, mas queria explorar o que estava aberto para mim. O problema é que, embora os dungeons fiquem claramente marcados no mapa, este já é bem aberto desde o começo. Não há uma estrutura, o mundo não vai se abrindo aos poucos. A parte sul já começa totalmente aberta, e a mesma coisa quando você vai para o norte. Assim, devo dizer que comecei a me divertir consideravelmente mais quando parei de tentar liberar o mapa e foquei em seguir meu objetivo. Eu simplesmente preciso de estrutura nos meus videogames.

PIPISTRELLO E O PIXEL ART BONITÃO

Pipistrello and the Cursed Yoyo, Pipistrello, Pocket Trap, Delfos

O audiovisual é fantástico, a história é muito bem escrita e ele é deliciosamente brasileiro. Na verdade, eu comecei a jogá-lo sem saber que era brasileiro, mas daí comecei a ver coisas como uma lanchonete chamada X-Burgão e fui confirmar minha teoria. E o jogo tem muito da nossa cultura, como um momento em que você precisa formar uma torcida organizada para entrar em um estádio. Tem também um trecho muito legal que envolve uma feira de cultura pop e você precisa navegar pela cidade procurando o final da enorme fila.

A jogabilidade também é bem criativa. Ao pensar no iô-iô, imediatamente fãs de plataforma vão lembrar de Penny’s Big Breakaway, mas Pipistrello usa a “arma” de forma bem diferente. Logo de cara você pode usar detalhes diagonais do cenário para fazer curvas com o iô-iô e conseguir ataques bem criativos e estilosos.

O jogo também brinca bastante com a ludocinética da coisa. Apesar de ser um jogo top-down, suas habilidades de plataforma ficam bem evoluídas e passam a tornar a movimentação um desafio em si. Você pode usar o iô-iô como plataforma, como “cachorrinho” que passa sobre água ou pode usá-lo para quicar em paredes. A coisa é realmente bem elaborada e desafiadora, especialmente porque você começa a ter tantas habilidades que fica difícil saber qual combinação delas deve usar para passar por um obstáculo.

UPGRADES E ACESSIBILIDADE

Além dos upgrades de habilidades que melhoram sua movimentação, há também os que melhoram suas estatísticas, como ataque. O jogo é criativo na aquisição destes. Eles têm um custo, por exemplo, 1000 moedas. Mas você não deve ter as 1000 moedas no banco. Você assina um contrato pelo upgrade e metade das suas próximas 1000 moedas vão para pagar a dívida. Enquanto ela não tiver sido paga, você sofre um debuff. Por exemplo, dois corações de vida a menos. Eu não diria que achei este sistema especialmente bacana, mas é bem diferente do que o tradicional, em que você precisa ter o dinheiro para comprar.

Uma coisa muito bem-vinda em Pipistrello and the Cursed Yoyo é sua enorme gama de opções de acessibilidade. Você pode customizar totalmente sua experiência, aumentando ou diminuindo o nível de dano causado e recebido pelos inimigos, aumentando sua quantidade de vida, quanto dinheiro coleta, etc. Estas opções têm potencial de eliminar mecânicas do jogo. Você pode, por exemplo, já começar com a vida cheia, tornando inútil aumentar sua quantidade de corações. Mas quem se importa? Meu jogo, minhas regras! E a Pocket Trap sabe disso, e permite que você escolha como quer se divertir, ao invés de impôr o que considera diversão. Nada mais legal do que estar pronto para terminar o jogo ao chegar no último chefe e simplesmente ligar invencibilidade para vencer logo.

Essas opções de acessibilidade afetam bastante combate e upgrades, mas os desafios de movimentação continuam bem difíceis. Seria legal que tivessem pensado em uma forma de mexer nesta parte também, para quem não consegue fazê-las. Particularmente, eu sou muito melhor em plataforma do que em combate, então as opções que estão aqui me contemplam, mas acho perfeitamente justo que aqueles que têm mais dificuldade em movimentação possam tunar sua experiência de acordo.

Pipistrello and the Cursed Yoyo é um daqueles raros jogos independentes que parece ter alcançado totalmente seu potencial. Fãs dos jogos clássicos de Zelda têm aqui uma excelente opção para matar a saudade do gênero, e ainda receberão muitas surpresas e pequenas novidades de quebra. Vale muito conhecer.

REVER GERAL
Nota:
Artigo anteriorBlades of Fire é lindão, mas muito irritante
Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
review-pipistrello-and-the-cursed-yoyo-zeldinha-brasileiroDisponível: Windows, Switch, PS4, PS5, Xbox Series<br> Analisada: Xbox Series X<br> Desenvolvedora: Pocket Trap<br> Editora: PM Studios<br> Lançamento: 28 de maio de 2025<br> Gênero: Metroidvania, Top-down<br>