Demorou, talvez até mais do que para você. Mas Pepper Grinder finalmente colocou a Devolver Digital em um nível especial para mim. Eu não gosto de todos os jogos que eles lançam, mas uma coisa é clara: eles investem em criatividade. Em games que saem do lugar comum de alguma forma. E isso é muito válido.
Este texto saiu originalmente em 28 de março de 2024. Foi atualizado e republicado em 19 de agosto de 2024 por causa do lançamento nos Xbox e Playstation.
REVIEW PEPPER GRINDER
Pepper Grinder é um plataforma 2D em fases, o que por si já o torna especial. Eu sinceramente me surpreendi ao constatar que não era um metroidvania. Porém, ele cria mecânicas especiais que dão um sabor especial ao comum ato de pular de uma plataforma a outra.
Refiro-me à broca, ferramenta carregada pela protagonista o jogo inteiro. Ela serve para atacar, mas mais importante, serve para perfurar áreas específicas do chão e do teto. Isso dá a Pepper Grinder uma movimentação única. Perfurar o chão e dar uma acelerada antes de sair faz com que você voe longe, permitindo chegar a plataformas altas, ou a uma área perfurável no teto.
GOSTOSURA GOSTOSA
Isso é usado para uma enorme quantidade de coisas. Tudo é ativado pela sua broca, inclusive armas e itens com outras funcionalidades. Ao longo da curta campanha, há uma enorme variação de mecânicas, que vão do tiroteio a quebra-cabeças, passando por um delicioso e adorável robô gigante.
E aí entro no ponto de maior genialidade de Pepper Grinder. É tudo cuidadosamente planejado para o jogo ser muito gostoso. As animações, os sons, as paradinhas quando um ataque seu conecta. Tudo que você faz por aqui é extremamente cinestésico, e de forma muito prazerosa. É uma combinação audiovisual cujo resultado vai muito além da soma de suas partes. Vendo as screenshots você pode ou não gostar do visual. Mas a sensação que o jogo causa é excelente, e acho sinceramente difícil que alguém não o considere gostoso. Aliás, se você tem dificuldade em entender porque eu costumo me referir a jogos de plataforma como “delicinha”, talvez este seja o melhor exemplo para ilustrar o adjetivo.
PIXEL ART
O próprio visual não é algo que me atrai a princípio. Eu gosto de pixel art, mas acho mais legal o estilo 32-bit. Uma coisa mais Guardian Heroes / Symphony of the Night do que o bem mais comum Nintendinho. Ainda assim, todo o design e animação combinam de um jeito aqui para maximizar todas as sensações.
O próprio robô gigante é um exemplo disso. Ele tem bracinhos curtos que o tornam naturalmente adorável. E daí tem a forma que ele corre ou como pega impulso antes de um pulo. Pepper Grinder é um jogo que arranca sorrisos durante quase toda sua duração.
Sua campanha dura cerca de três horas, mas são três horas extremamente saborosas. Minha única reclamação enquanto a fazia era que os checkpoints eram distantes demais. Como o jogo é desafiador, você morre bastante, e simplesmente não é divertido passar pelos mesmos trechos várias vezes, coletando tudo de novo. Mas Pepper Grinder acaba cometendo um erro que eu estou sinceramente cansado de reclamar aqui.
O ÚLTIMO CHEFE
Quantas vezes eu já reclamei aqui do último chefe dos jogos? Caramba, eu mesmo já perdi as contas de quantas vezes faço 100% em um joguinho e não vejo o final porque não consigo matar o último chefe. A turma da Irrational já falou que aprenderam com Bioshock que, se você não é bom para fazer chefes, simplesmente não deve fazer. Mas parece que algumas desenvolvedoras se sentem obrigadas. Especialmente a colocar o tradicional último chefe em duas ou mais fases.
Não sei você, mas normalmente quando eu chego no último chefe já estou um tanto cansado, a fim de terminar logo o jogo. O chefe é apenas um bloqueio que me impede de fechar, e quando ele é extremamente estendido, como o caso aqui, fica apenas chato. Permita-me colocar em números: fiz a campanha inteira de Pepper Grinder em três horas. Daí cheguei no último chefe e tentei vencê-lo por 60 minutos, sem sucesso. Ou seja, o relógio do meu jogo mostra que joguei por quatro horas, mas 25% desse tempo foi xingando e esperneando em um único chefe. E não matei.
PEPPER GRINDER E O TUBÃO
Isso fez com que minha experiência fosse bastante azedada. Antes de chegar nele, eu simplesmente não via muitos motivos para diminuir a nota. Mas quando larguei o jogo, frustrado e com raiva, simplesmente não queria mais vê-lo na minha frente. Até dei um tempo antes de escrever para a raiva passar. Afinal, se tive uma refeição deliciosa mas uma sobremesa ruim, isso elimina o prazer que veio antes?
Minha sugestão é clara: compre e divirta-se com Pepper Grinder. Mas a não ser que goste de chefes ruins, quando encontrar o imperador, simplesmente pare de jogar e assista ao final no Tubão.