Oito anos atrás, em 2016, Overwatch foi lançado. Também neste ano, o desenvolvimento em Concord se iniciou. Estes dois fatos, aparentemente independentes, estão mais ligados do que parece. Ao ver o sucesso do jogo da Blizzard, o povo que fundaria a Firewalk Studios falou “também quero isso”. O que ninguém esperava na época era quão demorado ficaria o desenvolvimento de um jogo AAA. Oito anos se passaram. Oito anos, meu camarada.
O quanto sua vida mudou nos últimos oito anos? Mais importante, o quanto o mercado mudou neste tempo? O próprio Fortnite saiu depois de Overwatch, inicialmente com muito deste, inclusive o preço. Mas com o tempo, se transformou em algo bem diferente, e virou free to play. Até Overwatch e Destiny viraram free to play neste tempo. Concord chega em 2024 querendo imitar o sucesso que Overwatch teve em 2016, mas nem sua inspiração segue mais o mesmo modelo de negócios hoje.
COMEÇANDO COM O JOGO PERDIDO
Concord custa 200 reais no Brasil e 40 dólares nos States. Quem quisesse poderia pagar 300 reais para jogar três dias antes. Porém, no primeiro dia do acesso antecipado, o jogo não funcionava. Ele simplesmente não conseguia logar, e ficou assim até o início do segundo dia.
Ao longo do segundo dia, rolou uma atualização e começou a rodar. Para este review, a Sony forneceu duas chaves para o jogo, uma para PS5 e uma para Windows. No PS5, além do preço cobrado pelo jogo, você precisa assinar a PS Plus, ou ele simplesmente não sai da tela título. Sim, é um jogo exclusivamente online, mas eu cada vez mais vejo com maus olhos a necessidade de pagar para jogar online.
Eu não tenho mais Playstation Plus, e não devo voltar a ter no futuro, então minha análise Concord seria feita no PC, e eu já sabia disso. No Windows, o jogo demora muito para iniciar, aparentemente por causa de um anti-cheat que roda antes dele. Depois disso e do segundo dia, o jogo parece rodar bem. É pesado, mas roda bem.
PERFORMANCE DE CONCORD
O tutorial, onde você joga off-line, rodou na minha máquina (RTX 3070) a 1440p com tudo no máximo a cerca de 60 fps. As partidas propriamente ditas ficaram bem mais pesadas. Mesmo descendo para o médio, ele fica alternando entre 20 e 40 fps. No máximo não fica jogável, mas no médio eu consegui jogar bem e me divertir.
Muito se tem falado que Concord é um hero shooter em que os heróis não são carismáticos. Eu discordo. Talvez não sejam personagens tão interessantes quanto os de Overwatch, mas eu gostei de explorar vários deles. Mas é verdade, alguns designs, como o que você vê acima, parecem não terem sido terminados.
REVIEW CONCORD
Concord é um FPS que tem, no momento, 16 personagens. Todos são bem diferentes, tanto em ataques quanto em mobilidade. Alguns voam, outros dão pulo duplo. Outros, ainda, mal conseguem correr direito, mas compensam isso com um monte de vida. Cada um tem uma ou duas armas diferente, indo da metralhadora ao estilingue, passando por magia e escopeta. Tem uma mina que literalmente leva facas para lutas contra armas de fogo, e ela apanha exatamente o quanto você imagina.
Eles também têm dois ataques especiais, usados com L1 e R1. Estes podem ser algo bem tradicional quanto uma granada ou algo muito mais elaborado, como um aspirador (é!). Alguns desses ataques podem ser usados um número limitado de vezes por vida. Outros funcionam com cooldown. Alguns são bastante situacionais, mas isso os torna extremamente poderosos, quando bem utilizados.
PODERES SITUACIONAIS
Um dos modos de jogo é o tradicional “capture zonas”. Talvez seu time precise ter duas capturadas para começar a ganhar pontos, ou talvez seja uma única zona que se movimenta. De qualquer forma, uma das personagens pode colocar paredes nas portas. Elas não são sólidas, mas não dá para enxergar do outro lado. Isso significa que você pode tampar todas as portas de uma zona e, quando o outro time invadir, não vai saber o que vai encontrar. Será que o time estará todo lá esperando? Ou a zona estará vazia? Eu gostei muito de fazer isso, e a combinação dessa personagem com este modo de jogo logo se tornou meu preferido.
Há três modos de jogo, cada um com duas categorias. Este de zonas é o que mais gostei. Um outro é o mata-mata tradicional. Este pode ser simplesmente matar o time inimigo para ganhar pontos ou então você precisa matar e depois pegar a cartinha que os personagens deixam ao morrer. Na prática, não faz muita diferença se tem cartinha ou não.
O ELUSIVO TERCEIRO MODO
Por fim, há um terceiro modo que demora MUITO para ser destravado. Ele só abriu para mim quando eu estava com três horas de jogo. E só cheguei a este ponto porque queria ver tudo que Concord oferece para criar um review justo. Infelizmente, este terceiro modo simplesmente não encontra jogadores. Ele tenta matchmaking por cerca de oito minutos, e daí dá um erro de timed out.
É fácil entender o motivo. Por um lado, já tem pouquíssimas pessoas jogando Concord (ele não bateu 700 jogadores no Steam no seu primeiro dia). Por outro, ele simplesmente não tem três horas de conteúdo. Embora eu tenha gostado de jogar algumas partidas, antes do terceiro modo ser desbloqueado, eu já estava com a sensação de ter visto tudo e continuava me forçando a jogar. Sim, em menos de três horas já tinha experimentado todos os personagens, mapas e modos de jogo abertos. Portanto, imagino que muita gente deve ter dropado Concord antes disso.
Felizmente, no momento em que escrevo isso, pelo menos os outros dois modos parecem habitados. As partidas demoram cerca de três minutos para começar, o que é mais do que eu gostaria, mas não tão incomum para um jogo que faz matchmaking.
CONCORD ATÉ É BACANINHA
E eu digo isso sinceramente, mesmo sem ser fã de multiplayer competitivo. Ele se parece muito com o que Overwatch era da última vez que o joguei, lá em 2016 (não sei se ele ainda é assim). Tivesse saído quase ao mesmo tempo, talvez tivesse capacidade de concorrer. Mas hoje, a sensação é realmente de que Concord foi um jogo lançado para morrer. Um jogo que, como Benjamin Button, já nasce velho.
É difícil para mim compreender o plano. Concord teve no seu beta grátis menos de 2000 pessoas jogando. Isso não seria um alerta de que o jogo não funcionaria sendo vendido? Mesmo assim resolveram lançá-lo custando 200 reais. De qualquer forma, é difícil imaginar qualquer novo jogo hoje conquistando espaço entre os live services tradicionais. Helldivers 2 conseguiu, mas ele é bem diferente, e seu humor é imediatamente carismático.
Em geral, estes jogos exigem tanto tempo do jogador que mesmo quem gosta deles precisa priorizar. Some a isso personagens desconhecidos, pouquíssimo conteúdo e um preço alto e não vejo um mundo em 2024 em que Concord conseguisse fazer sucesso. Assim como Suicide Squad, é um jogo que ficou tempo demais no forno para seguir uma modinha passageira, mas esta passou muito tempo atrás.
