Anteriormente conhecido como Summer Breeze, a partir de 2025 este festival se chama Bangers Open Air. Trata-se de um festival enorme, com dezenas de bandas, em vários palcos e com shows simultâneos. Eu tenho sentimentos variados sobre isso.
Por um lado, com apenas um ingresso por dia e em um final de semana, você tem a possibilidade de ver um ano inteiro de shows de uma vez. Por outro, o ingresso é caríssimo, e você acaba precisando pagar por bandas que não interessam ou, pior ainda, fica impossibilitado de ver algumas bandas que tocam ao mesmo tempo que outras. Também é ruim que o festival acaba monopolizando os shows do ano inteiro. Bandas como Avantasia e Blind Guardian aparentemente não vêm mais para o Brasil fora deste festival.
Finalmente, uma picuinha minha com festivais em geral é que a maioria das bandas não faz seus shows completos, devido à limitação de tempo. Nada é mais frustrante do que ter oportunidade de ver um grupo que você adora tocando por apenas 40 minutos. Dito tudo isso, minha experiência com o Bangers Open Air 2025 foi bastante positiva.
Apesar de ter muitas bandas que me interessavam (adoraria ter assistido ao Kissin’ Dynamite na sexta, por exemplo), o domingo era o que mais tinha gente que me interessava em horários seguidos. Assim, foi para este dia, e apenas para este dia, que solicitei minha credencial. Na impossibilidade da vida adulta de ficar o dia inteiro no show, também especifiquei na minha solicitação que minha intenção era cobrir Blind Guardian, W. A. S. P. (que vou chamar de Wasp no restante deste texto) e Avantasia. Minha credencial desta vez era apenas de repórter, o que significa que fotos não eram permitidas. Claro, podia tirar fotos com meu celular, mas não tive acesso ao chiqueirinho e sequer levei minha câmera profissional. Quem sabe ano que vem?
O BANGERS OPEN AIR
Aí em cima você vê as bandas e seus horários para o domingo. Eu pensei muito sobre o que veria. Queria ver o RJD Tribute e o Ready to be Hated, e o I Prevail foi substituído pelo Kamelot, que também me interessa. Porém, a dificuldade em conseguir informações me desanimou.
Eu adoro o som do Dio, mas quem está neste tributo? Simplesmente não consegui achar nenhuma banda chamada RJD Tribute e nenhuma informação sobre ela. Senti que foi uma banda juntada pelo próprio festival, e anunciada antes mesmo de ter os músicos contratados para tocar. Afinal, todo músico de metal sabe tocar algumas músicas do Dio, então juntar esta banda não é especialmente difícil.
Já o Ready to be Hated é uma nova banda do Angraverso, mas também não consegui descobrir o que eles tocariam. Além disso, o Waves Stage parece ficar muito longe dos palcos principais, então optei por focar minha cobertura, geograficamente falando. Eu também adoraria ver o Maestrick, mas eles tocaram ao mesmo tempo do Blind Guardian e do Wasp. Independente da qualidade deles – que é altíssima – por eles serem uma banda brasileira, acredito que terei oportunidade de vê-los tocar num futuro mais próximo e por menos dinheiro do que as bandas gringas.
O Bangers Open Air tem os dois palcos principais lado a lado. Isso é genial, pois os shows acontecem com cinco minutos de intervalo. O lado ruim é que você não tem um tempo para fazer um pipizão camarada ou comer algo fora das apresentações, mas o bom é que elimina totalmente o tédio e a espera comum em festivais como o Monsters of Rock. Você vê um monte de banda em pouco tempo, sem downtime e, no caso deste festival específico, ainda fica livre para voltar para casa às 22 horas. Quem tem filhos e compromissos na segunda de manhã agradece.
KERRY KING
Cheguei ao festival às 16:30, e o Kerry King já estava no palco. Aproveitei para explorar um pouco. A credencial me dava acesso à sala de imprensa, que tinha refrigerantes, sucos e água, além de algumas comidinhas que sumiram quase imediatamente e não voltaram mais. Também tinha acesso à pista premium, onde entrei. Porém, vendo o show de canto, não conseguia ver parte do palco (sequer via o baterista) e fui para a plateia normal.
Não sou um grande fã de Slayer nem de metal mais extremo em geral, mas gostei muito do que vi. As guitarras, em especial, achei sensacionais. Embora metal extremo não seja algo que eu ouça com frequência em casa, os shows deste estilo a que assisti são sempre muito bons, com bastante energia e empolgação, e este não foi exceção.
O vocalista, que parece visualmente com o Tom Araya, me impressionou. O cara grita o tempo todo, até mesmo quando fala com a plateia, e não deu sinais de perder a voz em nenhum momento. Pelo contrário, seu timbre era sempre poderoso. O treino necessário para conseguir gritar desse jeito sem perder a voz ou sem danificar sua garganta é digno de nota.
A maior surpresa do setlist, pelo menos para mim, foi quando o vocalista anunciou que tocariam uma do Iron Maiden. E veio Killers, em uma interpretação bem diferente da original, mas bem bacana. Fiquei surpreso também com quão cedo o sucesso Raining Blood foi tocado. Tinha certeza que seria a última do show, mas não foi.
No final das contas, gostei mais do show do Kerry King do que esperava, e fiquei até encucado se deveria ir atrás do Slayer e do disco solo recém-lançado. Que você acha? Conte para mim nos comentários e confira o setlist clicando aqui.
BLIND GUARDIAN
Para o Blind Guardian, resolvi ir até a pista premium, e imediatamente me lembrei porque gosto de assistir a shows lá de trás. Tinha gente demais, estava simplesmente desconfortável. O começo do show foi sofrido para mim pelo aperto geral, mas depois que a galera se ajeitou, fiquei mais confortável. Porém, seria o único show da noite a que assistiria da pista premium.
O Blind Guardian começou pontualmente, e achei bem engraçado que o guitarrista André Olbrich ficou parado ao lado do palco durante a introdução. Normalmente os músicos fazem uma grande entrada, mas o caboclo estava simplesmente lá, morgando e esperando a hora de entrar. E o show começou com a sensacional Imaginations From the Other Side, uma das minhas preferidas.
Uma curiosidade pessoal: eu nunca consegui diferenciar os dois guitarristas da banda. Para mim eles são tão parecidos que parecem literalmente a mesma pessoa. Porém, neste show o Marcus Siepen estava com os cabelos totalmente brancos. Aí fica mais fácil saber qual é qual. Outra novidade para mim foi a presença de um tecladista no palco. Da última vez que vi o Blind Guardian ao vivo não tinha alguém cuidando do instrumento (ou pelo menos não me lembro de ter), e isso fez bastante diferença, especialmente na música Mordred’s Song, tocada pela primeira vez em muito tempo.
PARABÉNS A VOCÊ NO BANGERS OPEN AIR
O show do Blind aconteceu no dia seguinte ao aniversário de André Olbrich, então rolou um Parabéns a Você, em português mesmo, quando o vocalista Hansi Kürsch anunciou as festividades. O show progrediu com um setlist sensacional, com sucessos e músicas pegajosas seguidas. Bright Eyes foi um grande destaque para mim, não só pela fama da música, mas pelo uso bacana de corais, com a banda inteira cantando melodias diferentes do vocal principal. Eu adoro corais polifônicos.
Time Stands Still, Into the Storm e And The Story Ends são outras três das minhas preferidas, e especialmente esta última foi uma surpresa, pois ela não estava nos setlists recentes da banda. Com o show chegando ao final, era a hora tão esperada: The Bard’s Song – In the Forest, um dos raros casos em músicas de metal em que a banda não precisa cantar, pois a plateia assume a função. Estar no meio do público neste momento é sempre mágico, e não foi diferente no Bangers Open Air.
O show chegou ao final, como sempre, com o sucesso extremamente pegajoso de Mirror Mirror, que foi sensacional também. Eram 18:37, e a banda tinha até 18:45 para tocar. Alguém avisou Hansi que eles ainda tinham tempo e, aparentemente no improviso, eles resolveram tocar mais uma: Valhalla. É estranho um show do Blind Guardian sem Valhalla, mas também é estranho que ela seja tocada depois de Mirror Mirror. Fica a seu critério decidir se foi um bis improvisado ou se ela estava programada para encerrar o show desde o início.
Senti falta de algumas baladas. Especialmente de Nightfall (que teria sido perfeita já que a banda tocava enquanto anoitecia) e Lord of the Rings. Mesmo assim, o show do Blind Guardian no Bangers Open Air 2025 foi excelente, com um monte de músicas conhecidas tocadas uma depois da outra. Tirando alguns “obrigados” e o nome das canções, quase não houve conversa com o público, o que parece a melhor forma de usar o tempo limitado em um show de festival. Confira o setlist aqui.
WASP, OU W. A. S. P. PARA QUEM PREFERIR
O Wasp tocaria no palco da esquerda, e para chegar lá do ponto em que eu estava na pista premium seria uma provação hercúlea. Resolvi ir para a pista normal, onde consegui andar confortavelmente até o lado esquerdo, ficar à frente do palco e nem tão longe assim. Foi um lugar legal para assistir a um show que se tornaria bem especial.
O Wasp vem ao Bangers Open Air em uma turnê em que tocam seu disco de estreia na íntegra. Já vi alguns shows em que um disco inteiro é tocado, e normalmente isso não funciona tão bem quanto a tradicional “coletânea”. Porém, o primeiro disco do Wasp é realmente sensacional, e até as músicas mais fracas, como The Flame ou B. A. D. são muito boas. Além disso, a banda tinha dois medleys no setlist depois do álbum em questão que me agradavam muito, mas vou falar mais sobre isso quando chegar lá.
A introdução do Wasp começou às 18:54. Foi a única banda que vi no festival que atrasou. Ainda que tenha sido um atraso minúsculo, foi o suficiente para causar repercussões que serão elaboradas em breve.
SERRAS NOS BRAÇOS E ENERGIA
Quando a banda entrou no palco, duas coisas me surpreenderam positivamente. Blackie Lawless estava com as serras nos braços que usava nos anos 80. A outra foi a energia mostrada pela banda. Sabe, sempre senti que o Wasp ao vivo passava uma má vontade. Na época clássica, vista nos videoclipes, eles pareciam ser uma banda extremamente energética no palco. Mas pegue um DVD como The Sting, e você vê que não é mais assim. A banda parece sempre entediada, sem vontade, sem tesão. E isso contrasta com o som energético e divertido.
Eu já vi o Wasp ao vivo várias vezes, e em todas elas o show foi bem parecido energeticamente com o que está no The Sting. Mas não no Bangers Open Air. Aqui eles se movimentavam, pulavam. Eu sinceramente me senti assistindo ao Wasp no auge, pela primeira vez. Isso me levou a pensar se a falta de movimentação é porque a banda normalmente toca em palcos bem menores do que o deste festival, e assim tem menos espaço para se mover. Porém, já vi muitas bandas tocando em lugares pequenos que não dão aquela sensação de má vontade que sentia com frequência nos shows do Wasp.
Outra coisa digna de nota é que o baterista do Wasp atualmente é o brasileiro Aquiles Priester, ex-Angra . E o cara é muito bom, a ponto de que eu acho que tocar Wasp deve ser extremamente fácil para um sujeito com técnica tão avançada. Não que as batidas do Wasp sejam ruins. Elas só são bem mais simples de fazer do que as do Angra ou do Hangar.
AINDA SOBRE WASP
Uma coisa muito legal de quando a banda decide tocar um disco na íntegra é que a gente tem possibilidade de ver ao vivo músicas que nunca veríamos em outras ocasiões. É o caso de School Daze, uma preferida pessoal desde minha época de escola. Sempre me identifiquei muito com a letra “I’m here doing time, my age is my crime“. Curiosamente, embora tenha sido legal ver School Daze ao vivo, consegui entender porque ela nunca está nos setlists. Ela simplesmente não funciona tão bem ao vivo. A diferença entre ela e a próxima, Hellion, foi brutal. Hellion foi simplesmente muito mais legal, mesmo eu, particularmente, gostando mais da School Daze.
Sabe o que é curioso em um show que toca o primeiro disco do W.A.S.P. inteiro? A ausência de Animal (Fuck Like a Beast). Esta faixa não estava no álbum originalmente, mas a versão que tenho começa com ela e vem com um texto do Blackie Lawless dizendo que ela só não saiu originalmente porque a gravadora não deixou. E que agora ela vinha onde sempre deveria ter estado, como a primeira música do álbum. Sim, eu sei que o Wasp disse que não tocaria mais ela por não gostar da mensagem que ela passa. Mas é curioso. E sabe por que eu comentei isso?
Porque a próxima, Sleeping (In the Fire) também tem uma letra bem questionável. “Taste the love, the Lucifer’s magic that makes you numb“. Assim como Fuck Like a Beast, parece algo que você fala quando jovem apenas para chocar seus pais. Mas cá está a banda tocando a música, com relativo destaque no show. Inclusive, ela foi bastante estendida, com um belo solo de guitarra. Curiosamente, Blackie e o baixista saíram do palco durante este solo, mas continuaram tocando fora dos olhos da plateia. Por que será? Para destacar o solo de guitarra, talvez?
DID YOU BUY A TICKET?
Blackie prosseguiu fazendo jus à sua fama de babaca. Depois dessa música, perguntou para alguém se tinha comprado ingresso, e disse que se não tinha não deveria estar ali. “I don’t want you in my face“, disse. Eu não sei o que aconteceu, mas se era alguém que não comprou ingresso, provavelmente estava no show trabalhando. Como tal, se estava incomodado, Blackie deveria ter falado com alguém da sua equipe de palco para tentar resolver o problema. Fazer isso publicamente só queima seu filme. E o filme do cara não é especialmente bom, para começar.
O álbum prosseguiu, terminando com a música mais diferente dele, The Torture Never Stops. Em um show tão feliz e animado, esta música e seu clima de terror se destoa bastante. Ela sempre me pareceu um teaser do que o Wasp faria mais para frente, mas gosto muito dela. A frase “hope’s the rope that keeps you tied in knots” deve ser uma das mais legais que Blackie já escreveu. E assim o álbum chegou ao fim, e Blackie anunciou “brazilian’s favorite son“, Aquiles Priester.
O baterista veio à frente do palco. Agradeceu ao público que possibilitou que seu sonho fosse realizado e elogiou o festival. Enfim, nada demais. Mas seu discurso me deixou chateado, e para explicar isso vou voltar 20 anos, quando entrevistei Blackie Lawless, em 2005. Eu perguntei a ele se eles tocariam Scream Until You Like It em seu primeiro show no Brasil, minha preferida do Wasp. Ele disse, com alguma razão, que a banda tinha outras músicas mais conhecidas, e deu a entender que provavelmente nunca tocariam esta.
SCREAM UNTIL YOU LIKE IT
Para minha surpresa, Scream Until You Like It estava no setlist, como parte de um medley tocado depois do álbum. Mas adivinha qual música saiu no show do Bangers para liberar espaço para o Aquiles Priester discursar. Pois é, justamente a que eu mais queria ouvir, no que era provavelmente minha única chance de ouvi-la ao vivo. Triste, delfonauta. Muito triste.
Pelo menos eles não tiraram o medley que incluía Forever Free, uma balada heavy metal que destoa das outras baladas do Wasp, mas que considero excelente. Aproveitando o clima de final de show, com o Aquiles Priester na banda e ótimos músicos, eu sinto que hoje em dia o ponto mais fraco de uma apresentação do Wasp é o próprio Blackie.
Não que ele seja ruim. É difícil cantar como ele e em muitos momentos seus gritos impressionam. Mas algumas, em especial Wildchild, ficaram realmente sofríveis. Curiosamente, no disco está escrito que ela foi originalmente composta para o Mötley Crüe, mas o Vince Neil não conseguia cantá-la. Agora o próprio Blackie não consegue mais, e acho isso irônico, porque ele ainda canta bem as músicas mais gritadas, mas uma mais na maciota, como esta, fica feia ao vivo.
Blind in Texas encerrou o show que, apesar de ter tirado Scream Until You Like It se tornou meu preferido do Bangers Open Air 2025. Confira o setlist aqui.
AVANTASIA
E chegamos ao show final do Bangers Open Air 2025: Avantasia. Graças ao atraso do Wasp e aos intervalos diminutos entre os shows, a introdução do Avantasia começou quase imediatamente quando o Wasp encerrou o seu show. A primeira música, Creepshow, aliás, deve ser uma das mais divertidas que a banda já fez, e acredito que vai se tornar um clássico moderno nas apresentações deles.
Reach Out For the Light veio a seguir, com Adrienne Cowan cantando as partes que originalmente eram do Michael Kiske. Infelizmente, ela cantou MUITO mal. A voz dela parecia não sair, e foi de longe a pior performance vocal da noite. Segredinho de cantor: é muito mais difícil cantar em coral, harmonizando com o vocal principal, do que fazendo o vocal principal propriamente dito, já que você precisa modular sua voz para ela ficar bonita ao lado de outra mais importante. Assim, normalmente os melhores cantores são os que estão nos backing vocals, e a Adrienne faz parte do coral do Avantasia, o que deixa sua performance como voz principal ainda mais surpreendente. Mas não é o fim da história, então continue lendo.
The Witch, provavelmente a outra melhor música do disco novo, veio a seguir, e curiosamente foi a única participação do cantor Tommy Karevik no show. Vale a pena trazer o cara junto para cantar em uma única canção? Fica a seu critério. Devil in the Belfry foi tocada pela primeira vez no Brasil, com outro integrante do coral, Herbie Hanglans, cuja voz me lembrou bastante o Jorn Lande. Foi a próxima que me chamou a atenção para a performance da Adrienne, no entanto.
ERIC MARTIN
Eric Martin, do Mr Big, foi o primeiro cantor a ser apresentado no show, e subiu ao palco para cantar Dying For an Angel. Ele é um cantor que já vi ao vivo muitas vezes e sei que o cara é bom. Porém, sua performance também estava sofrida. Este show do Avantasia sofreu muito com problemas técnicos nos microfones, e acredito que este foi o problema na performance da Adrienne. Inclusive, quando ela voltou ao vocal principal para Avalon, cantou muito bem. É uma pena que problemas técnicos tenham queimado o filme da moça numa das canções mais importantes da banda.
Inclusive, Avalon foi a desculpa para uma divertida bronca de Tobias Sammet na plateia. Ele disse que era uma música do novo álbum, e ninguém reagiu. Daí disse que entende que às vezes as pessoas não querem ouvir músicas novas, mas que para fazer a banda se sentir bem, e continuar lançando novos álbuns, é importante aplaudir o disco novo como se fosse seu preferido. A seguir, repetiu “esta é uma música do novo álbum”, e foi altamente ovacionado. O cara é realmente muito carismático.
Em outro momento, durante Scarecrow, o microfone do Tobias simplesmente parou de funcionar na hora dele cantar. Ele entregou para alguém e simplesmente ficou sem cantar enquanto a música continuava. Poderia ter ficado emburrado, brigado com alguém, mas ficou dançando e agitando numa boa até um outro microfone ser entregue a ele. Compare isso com a bronca do Blackie com o cara que “não comprou um ingresso” e fica fácil entender porque todo mundo gosta de um deles e reclama do outro.
O Avantasia foi de longe a banda com a maior produção de palco. Seu palco tinha um cenário bem elaborado, os músicos estavam todos com roupas cuidadosamente estilizadas e tinha até foguinho. Em Toy Master, aliás, a sincronização do foguinho com a música foi muito legal. E fiquei bem surpreso com a imitação de Tobias para os vocais de Alice Cooper, que cantou no disco. Ficou muito parecido.
ABRIGO DA CHUVA
Shelter From the Rain foi a próxima, e trouxe uma participação especial de alguém que nunca tinha cantado com o Avantasia. Pois é, Jeff Scott Soto, um dos meus cantores preferidos, subiu ao palco de surpresa para dividir os vocais com o Tobias. Infelizmente, foi sua única participação no show também.
Tobias pediu para as pessoas posarem para uma “foto de família” enquanto um fotógrafo tirava foto da banda e da plateia. Em seguida, veio a linda Farewell, muito bem cantada pela outra integrante do coral, Chiara Tricarico. O final, em que Chiara e Tobias cantam juntos, a capella, foi de longe o momento mais bonito do festival.
Death is Just a Feeling foi o curioso final para o show, antes de um bis que contou com Lost in Space e Sign of the Cross/The Seven Angels. Esta última sempre me decepciona ao vivo. Não por não funcionarem, muito pelo contrário. São as duas melhores músicas do Avantasia e, por algum motivo, eles sempre tocam apenas um pedacinho de ambas. No caso deste show, foi ainda mais decepcionante, pois Sammet cantou Sign of the Cross totalmente sozinho, e o resto dos convidados subiu ao palco apenas para o trechinho de The Seven Angels. É um contraste considerável com todos os vocalistas cantando trechos individuais da última música do show, como a banda sempre fez em outras turnês.
A CONCLUSÃO DO AVANTASIA
Eu já vi o Avantasia muitas vezes ao vivo e, cá entre nós, este foi o show mais fraco deles a que já assisti. Esta é uma banda que já colocou no palco, juntos, Kai Hansen e Michael Kiske, antes do Unisonic e anos antes da reunião do Helloween. Mas nesta turnê, o vocalista convidado mais conhecido é Eric Martin. Além disso, pessoas que estavam envolvidas na turnê, como Kenny Leckremo, simplesmente não vieram. Senti que, ao contrário de outros shows do Avantasia, este foi muito mais uma apresentação do Tobias Sammet. E digo isso mesmo ele saindo do palco para Twisted Mind (cantada por Ronnie Atkins e Eric Martin).
Além disso, apesar de ser o show principal do festival, o Avantasia foi o que mais sofreu com os “cortes de festival”. Um show desta turnê conta com 23 músicas. Mas no Bangers Open Air apenas 15 foram tocadas (confira o setlist aqui). É muita coisa cortada, e eu sempre achei que a banda principal tinha chance de fazer seu set completo. Aliás, já não estava no setlist dos outros shows, mas é difícil entender porque pararam de tocar a música Avantasia, que era sempre tão bem-vinda pelo público. Por isso tudo, sinto que o show do Avantasia poderia ter sido melhor. Ainda foi divertido, as músicas da banda são ótimas, extremamente pegajosas. Foi a apresentação mais feliz da noite. Mesmo assim, eu já vi shows melhores do Avantasia.
BANGERS OPEN AIR 2025
E assim chegamos ao fim desta extensa cobertura delfiana ao Bangers Open Air 2025. Eu saí do festival bem feliz. Foi uma excelente experiência ver vários shows legais quase sem intervalos, e todos a que assisti foram ótimos e muito divertidos.
Além disso, o Memorial da América Latina é um ótimo lugar para shows de grande porte. Além do lugar ser bom e confortável (muito superior ao Allianz ou, credo, ao Morumbi), fica a um quarteirão do metrô. Uma das coisas mais chatas de um show é voltar para casa. Normalmente os shows terminam tarde, quando não tem mais transporte público, táxis cobram o olho da cara, e aplicativos de carros são uma porcaria, com dificuldade de achar motoristas e, mesmo quando acha, é comum eles não virem, cancelarem ou demorarem muito. Tudo isso foi resolvido pelo Bangers Open Air.
O show acabou às 21:57, muito antes do transporte público encerrar. Fui com tranquilidade até o metrô, onde peguei o trem cheio, mas não lotado. Viajei com algum conforto e cheguei em casa pouco depois das 22:30. Perfeito. Espero que muitos outros festivais e shows de grande porte aprendam com o Bangers Open Air 2025.