O delfonauta dedicado sabe que eu sou fã do gênero terror. E, dentro do gênero, nenhuma outra mídia é mais eficiente em causar medo do que games. Assim, eu já joguei uma pá de joguinhos de terror. Mas sempre da forma mais imersiva possível. Em uma TV grande, com som surround, ou em VR. Por causa de uma reforma na minha casa, que deixou a TV inacessível por uns dias, eu tive uma experiência nova com Remothered: Tormented Fathers: eu o joguei no Switch totalmente em modo portátil.

Remothered: Tormented Fathers saiu para PC e para os consoles adultos em 2018, e para Switch apenas em setembro de 2019. Porém, a assessoria de imprensa do jogo pediu para que segurássemos as matérias sobre a versão de Switch até outubro para que os desenvolvedores pudessem trabalhar em patches. Desta forma, só o joguei no final de novembro. Curiosamente, o jogo ainda está bastante quebrado, mas mesmo assim eu gostei do que joguei.

REMOTHERED: TORMENTED FATHERS

Remothered, Darril Arts, Stormind Games, Delfos

A começar pela protagonista, uma moça com a cara da Jodie Foster que é bem diferente de uma tradicional heroína de games. Ela se veste como uma mulher bem sucedida, com um terninho e até uma bolsa, o que imediatamente a destaca do grosso do gênero. E faz sentido. Apesar da clara inspiração em Resident EvilRemothered também bebe bastante da fonte de Outlast. Ou seja, a protagonista é quase indefesa. Não há combate, então é necessário fugir e se esconder dos inimigos que habitam a casa.

Ao contrário de OutlastRemothered não é tão linear. Ele segue bem a linha do primeiro Resident Evil: uma casa grande, com portas trancadas e cheia de puzzles. Você deve explorar, buscar itens e usá-los nos locais corretos para avançar. É uma combinação interessante, que o próprio Resident Evil 2 usou no início deste ano. Mas isso nem sempre é para o bem de Remothered.

Remothered, Darril Arts, Stormind Games, Delfos

Isso porque você está sempre sendo stalkeado por alguém. Depois que as perseguições começam, praticamente todo o resto do jogo envolve ter que se esconder e evitar correr para não alertar os inimigos. E exploração com perseguição é uma combinação cansativa. Especialmente porque só dá para salvar em espelhos em locais específicos da casa, o que torna um tanto entediante ter que ir andando, devagarinho, até um espelho, sempre que cumprir um objetivo. Um autosave melhoraria horrores o jogo.

AUTOSAVE

Quando a história engrena de vez e as coisas ficam mais rápidas, ele até opta por checkpoints automáticos, mas foi aí que começaram meus problemas técnicos. Estes checkpoints não são saves, apenas lugares de onde você pode continuar jogando quando morrer. Porém, o jogo tem uma tendência a travar quando você morre. Isso exige recarregar o save, e o save é sempre no último espelho. Assim, teve alguns trechos longos da história sem acesso a espelhos em que eu era obrigado a repetir muitas vezes desde o último save cada vez que morria. E nada mata um clima de terror mais do que ficar repetindo a mesma coisa.

Remothered, Darril Arts, Stormind Games, Delfos

Um bom game de terror deve, sim, ter perigo frequente. Porém, é necessário um equilíbrio: o jogador deve sentir o perigo, mas raramente deve ser obrigado a repetir as mesmas coisas. Este é um problema de Remothered por design, mas que se torna ainda mais grave nestes trechos mais climáticos por causa do bug do travamento.

HISTÓRIA

A história é outra coisa que é muito legal, até certo ponto. Gosto do fato de ela não apelar para temas sobrenaturais, e aborda alguns temas de família e sexualidade bastante interessantes.

Remothered, Darril Arts, Stormind Games, Delfos

Porém, ela se torna absurdamente rocambolesca, culminando em um final com um diálogo longuíssimo onde o que deveria ser uma história de família passa a envolver a indústria farmacêutica, massacres e conspirações. A coisa é tão desnecessariamente complicada que eu esperava que no início dos créditos ia aparecer “Um jogo de Hideo Kojima, dirigido por Christopher Nolan“.

PORTÁTIL

Mas vamos falar um pouco da experiência de jogar Remothered na palma das mãos. Para mim isso foi totalmente novo, não apenas pelo gênero, mas pelo fato de que este é um jogo com atores, cheio de diálogos, música e atmosfera. Ele não tem clima nem cara de indie, e mesmo a Nintendo não costuma fazer jogos com estes valores de produção. É verdade, temos jogos como Wolfenstein no Switch, mas este é o primeiro jogo nesta linha que eu jogo no consolinho da Nintendo.

Remothered, Darril Arts, Stormind Games, Delfos

E no modo portátil o visual é excelente. Não fiquei com a sensação de ele ser um port simplificado dos irmãos maiores. Dito isso, fiquei surpreso com a baixa qualidade das imagens que capturei quando as vi no computador. Se esta é a cara que ele teria na TV, talvez tenha sido um bom negócio mesmo jogar no portátil.

Eu esperava que o jogo não fosse dar medo em uma tela pequena e sem som surround, mas felizmente este não foi o caso. O clima de Remothered é tão cuidadosamente criado que se mantém eficiente mesmo jogando com fones de ouvido simples, deitado na cama. Eu não diria que é a melhor forma de jogar um game de terror, mas é bem superior ao que esperava.

Remothered, Darril Arts, Stormind Games, Delfos

No final das contas, Remothered é um bom survival horror. Chama a atenção que, quase dois anos depois de seu lançamento original, ele ainda tenha problemas técnicos tão graves (e mesmo tendo esperado mais do que a assessoria solicitou para jogá-lo). Porém, quando as coisas funcionam, ele se dá bem no que se propõe: causar medo.