Rebobine, Por Favor

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Toda criança que gosta de cinema já brincou de refilmar seus longas preferidos. Michel Gondry, mesmo depois de fazer sucesso e de dirigir um dos melhores filmes românticos da história, continua brincando disso. E o resultado é um dos lançamentos mais simpáticos e fofinhos desde Wall-e.

Tudo começa com as teorias de conspiração de Jerry, o personagem de Jack Black. Depois de uma série de confusões, ele acaba destruindo acidentalmente todas as fitas da locadora do Sr. Fletcher (Danny Glover), que está sob os cuidados e responsabilidades de seu amigo Mike (Mos Def, o Ford Prefect). Diante desse problemão, os dois optam pela única saída possível: refilmar todos os filmes com os poucos recursos de que dispõem. E com eles mesmos nos papéis principais, é claro.

Partindo dessa sinopse legalzuda, infelizmente o filme acaba seguindo os mais batidos clichês do gênero Sessão da Tarde. Temos a partezinha triste, os ricos malvados e individualistas contra os pobres bonzinhos e unidos e, é claro, um final revigorante e com lição de moral, daqueles dignos de fazer até o coração mais duro sair do cinema derretido.

Essa opção por seguir fórmulas batidas acaba sendo o que impede Rebobine, Por Favor de estar entre os melhores do ano. Fosse um pouco menos clichê, certamente o caro leitor veria o Selo Delfiano Supremo ilustrando esta página. Por outro lado, trata-se de um filme tão simpático e tão claramente despretensioso que não consegui tirar mais do que meio ponto dele por causa disso. Se o fizesse, aliás, com certeza me sentiria como os ricos malvados personificados aqui pela Sigourney Weaver. Porém, não posso deixar de apontar a ironia, pois em seu roteiro (e até na entrevista que você vai ler amanhã) Gondry critica os enlatados hollywoodianos e acabou seguindo todas as fórmulas conhecidas para criar o seu.

Apesar de ter problemas, não dá para deixar de se divertir com as soluções de baixo orçamento encontradas pela dupla para refilmar algumas cenas clássicas do cinema. Estas vão desde coisas antigas, como o King Kong original, até sucessos mais recentes, como Hora do Rush 2. E eu desafio qualquer true mal-humorado a não gargalhar da refilmagem dos caras para Caça-Fantasmas, por coincidência um dos meus filmes preferidos. Fala sério, eles capturando a velhinha com os raios de próton foi impagável!

Por causa de tudo isso, Rebobine, Por Favor tem aquele charme artesanal típico de uma brincadeira de criança, quando a criatividade e a imaginação faziam a alegria das nossas tardes de sábado. E é exatamente em uma tarde de sábado, especialmente se você levar crianças com você, que este filme vai brilhar mais forte.

Curiosidade:

– Antes de assistir, eu até comentei com alguém que achei legal que a distribuidora não tenha batizado o coitado de Uma Locadora Muito Louca. Só depois fui ver o pôster. Abaixo de Rebobine, Por Favor, encontra-se a tradução esperada. E ainda pior do que imaginava: Uma Loucadora Muito Louca. Por Satã, quem diabos achou isso uma boa idéia?

– Confira abaixo o trailer da versão caseira de Caça-Fantasmas.


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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
rebobine-por-favorPaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Sessão da Tarde<br> Duração: 102 minutos<br> Roteiro: Michel Gondry<br> Artista: Livre<br> Elenco: Jack Black, Mos Def, Danny Glover, Mia Farrow, Melonie Diaz e Sigourney Weaver.<br> Produtor: Georges Bermann, Michel Gondry e Julie Fong.<br> Diretor: Michel Gondry<br> Distribuidor: Europa<br>