Quarteto Fantástico

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Por mais que seja quase um consenso que “não se fazem mais filmes como antigamente”, não dá para negar que fãs de longas de fantasia (onde me incluo) estão praticamente vivendo seu paraíso cinematográfico. Basta pensar que, de um ano para cá, tivemos uma invasão de filmes do gênero, de ocultistas a alienígenas, passando por super-heróis e por aventuras que acontecem há muito tempo em uma galáxia muito distante. Por mais que a qualidade dessas produções seja bem variável, não dá para negar que é ótimo ter a possibilidade de assistir a essa verdadeira supremacia da cultura nerd no cinema. Na verdade, a quantidade de exemplos que posso dar é tão grande que, para não estragar o desenvolvimento do texto, optei por colocar vários links para as resenhas desses filmes no final dessa crítica. Assim, logo que você terminar de ler esta, pode escolher entre outras resenhas que sem dúvida interessarão a você.

Quarteto Fantástico é uma das adaptações de quadrinhos mais controversas. Muita gente já torceu o nariz assim que o nome do diretor Tim Story foi anunciado. Tudo porque não gostaram de seu filme anterior: Táxi. E, enquanto todo mundo reclamava e espinafrava cada vez que uma foto era divulgada, eu parecia ser a única pessoa a realmente botar fé nesse filme. Tudo bem que o fato de eu ser um grande fã do Coisa e, principalmente, do Doutor Destino – um verdadeiro manual de tudo que um bom super-vilão deve ter e que, ouso dizer, é um dos melhores vilões da história ao lado do Darth Vader – com certeza aumentavam essa minha esperança. Bom, acabei de assistir ao filme há mais ou menos uma hora e posso dizer sem receio nenhum: Quarteto Fantástico é maior legal!

Os primeiros minutos parecem um pouco corridos demais, onde acompanhamos os quatro fantásticos e Victor Von Doom à sua fatídica viagem ao espaço. Como todo nerd que se preze já sabe, alguma coisa dá errado e cada um dos tripulantes sofre alguma mudança genética. Reed Richards (Ioan Gruffudd) ganha a capacidade de se esticar. Susan Storm (Jessica Alba) de ficar invisível. Johnny Storm (Chris Evans), de criar e controlar o fogo. Finalmente, Ben Grimm (Michael Chicklis) vira pedra, tornando-se superforte e indestrutível. Pois é, delfonauta. Qualquer semelhança com Os Incríveis NÃO é mera coincidência. É homenagem da Pixar aos heróis da Marvel mesmo.

E Victor Von Doom (Julian McMahon, de Charmed e de Nip/Tuck), você pergunta? Bem, este é um caso à parte, já que sua origem está bem diferente do gibi e não quero estragar as surpresas para ninguém. No filme, ele não é o imperador da Latvéria, embora o país fictício seja citado. Victor é o dono de uma super-hiper-mega-ultra empresa, tem mais dinheiro que Deus e é o gato do ano (como diz Johnny Storm em determinado momento). Sua empresa é a que financia a viagem dos cinco ao espaço. E isso tudo que contei até agora não chega a cobrir nem os primeiros 15 minutos do filme. Se fosse contado com um pouco mais de calma, talvez teria uma abertura melhor.

Contudo, o que o filme tem de corrido no começo, ele esbanja em calma no restante. Assim como Batman Begins, Quarteto Fantástico é uma história de origem e se orgulha disso. Durante a maior parte de sua duração, acompanhamos os quatro heróis e suas diferentes maneiras de lidar com o que aconteceu. Assim como no gibi, Johnny e Ben são opostos. Enquanto Johnny acha tremendão o que aconteceu com eles, Ben é atormentado pela drástica alteração na sua aparência e a conseqüente perda de sua esposa, que demonstrou ser um tanto superficial. Obviamente, isso gera tensões entre os dois, que ficam se estranhando o tempo todo nas duas melhores interpretações do filme (e olha que atuar embaixo de um monte de pedra não deve ser fácil). Enquanto isso, Reed e Sue ficam no meio termo. Embora não achem legal como Johnny, também não ficam traumatizados como Ben. O trauma de Reed, no entanto, vem de seu sentimento de culpa pela situação de Ben, seu melhor amigo, e não mede esforços para corrigir a situação.

Acertadamente, a história é contada do ponto de vista de Ben, indiscutivelmente o personagem mais interessante dentre os heróis. Embora Quarteto Fantástico seja um filme bem divertido e com vários momentos bem engraçados, podendo até ser considerado uma comédia, o personagem de Michael Chiklis, alvo da maior parte das piadas de Johnny é também o de maior profundidade e de maior apelo dramático.

Justamente por ser uma história da adaptação dos quatro a seus novos poderes, temos aqui um dos melhores exemplos de vilão absurdamente mal-aproveitado da história do cinema. Victor não se torna definitivamente um vilão até os minutos finais, que parecem estar lá apenas para seguir o clichê de “todo filme de heróis tem que terminar com uma batalha grandiosa”. Esses minutos finais chegam a irritar, até porque a batalha que vemos no filme não tem nada de grandiosa. Nunca no gibi os quatro venceram Destino com tanta facilidade. E olha que nas HQs ele é muito menos poderoso do que sua versão cinematográfica.

Penso que o filme seria melhor se terminasse no momento em que Victor cai para o lado negro da força e que na continuação ressurgisse como o imperador da Latvéria, mas infelizmente não é isso o que acontece. Até devo dizer que entendo o lado dos produtores, já que Ang Lee tentou fazer um filme de herói diferente e quase sem vilão em Hulk e foi espinafrado por todos os lados. Contudo, Batman Begins fez quase a mesma coisa e se deu muito bem. Mas esse é praticamente dois filmes em um, então não é uma boa comparação. O fato é que a batalha final parece ainda mais corrida do que os primeiros minutos e um personagem tão rico como o Dr. Destino merecia um desenvolvimento melhor.

O fato é que Quarteto Fantástico não é um filme centrado em heróis e vilões, mas na história de um grupo de pessoas que receberam poderes… uhn… fantásticos e estão aprendendo a lidar com eles. O que considero um caminho bem legal. Vamos esperar que em eventuais continuações, Victor Von Doom receba um tratamento digno do tremendo vilão que é o Dr. Destino. De qualquer forma, Quarteto Fantástico planta muito bem as sementes daquela que tem potencial de se tornar uma das franquias mais legais dos heróis Marvel, ao lado dos já consagrados X-men e Homem-Aranha.

Leia também as resenhas delfianas de mais filmes recentes de fantasia:

Os tremendões:
Star Wars – Episódio III
Batman Begins
Homem-Aranha 2
Os Incríveis
Capitão Sky e o Mundo de Amanhã

Os bons:
Constantine
Hellboy
Alien Vs. Predador
Van Helsing

Os médios e ruins:
Guerra dos Mundos
Mulher-Gato
Elektra
Anjos da Noite – Underworld

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
quarteto-fantasticoPaís: EUA<br> Ano: 2005<br> Gênero: Fantasia<br> Diretor: Tim Story<br>