O convite para esta cabine ostentava orgulhosamente o fato de que o diretor Hideaki Oba trabalhou com Hayao Miyazaki. Não dizia no quê e nem mesmo se foi em alguma produção do studio Ghibli.
Esta frase, no entanto, causa expectativas irreais. Por Que Vivemos está muito longe do espetáculo visual de um filme de Miyazaki. Na verdade, ele parece ter sido feito com um orçamento bem limitado.
É comum os personagens ficarem estáticos por vários segundos e mesmo quando são animados há poucos frames. Os cenários são bonitos, mas os personagens simplesmente carecem de polimento.
Assim, o foco do filme acaba sendo sua história e, neste caso, ela é focada em um público bastante específico. Basicamente, Por Que Vivemos é um filme sobre budismo. Só que ele é tão chato quanto uma missa, mesmo para alguém como eu, que sempre me interessei por religiões e filosofia.
BUDISMO BASEADO EM FATOS REAIS
Ele é baseado em fatos reais e conta a popularização do budismo no Japão 500 anos atrás, através da perspectiva do camponês Ryoken. Ele mora com a mãe doente e a esposa grávida, mas é um personagem nada menos do que odioso, tratando as duas muito mal e com requintes de crueldade. Para você ter uma ideia, o cara é mais antipático do que a maioria dos vilões da cultura pop.
Após uma tragédia em sua vida, ele resolve assistir às palestras do mestre Rennyo, e acaba gostando muito do que ouve, se tornando assim uma pessoa melhor.
Boa parte do filme é focado nessas palestras, que elaboram temas históricos e filosóficos do budismo através de alegorias. Não se engane, no entanto, é bem menos interessante do que poderia ser.
Eventualmente a narrativa sai das palestras e se torna uma história mais propriamente dita, embora não traga grandes surpresas e continue sendo bastante chatinha.
Este é daqueles filmes que contam uma história fácil de adivinhar desde seus primeiros minutos. Ele segue minuto a minuto uma cartilha de aulinha de roteiro, fazendo parecer que é nada mais que um filme institucional encomendado pela Terra Pura, vertente do budismo que reúne o maior número de adeptos no Japão atualmente. Talvez isso explique o seu sucesso nipônico, onde ficou 29 semanas em cartaz. Fora do Japão, o Brasil é o primeiro país onde ele será exibido.
A falta de apuro visual acaba sendo um grande pecado. A filosofia budista, como a da maior parte das religiões, é muito bonita, e merecia um filme igualmente belo.
POR QUE VIVEMOS
Durante a projeção, eu me senti como normalmente me sentia quando era obrigado a ir a missas na minha infância: entediado e com vontade de ir embora.
Por Que Vivemos será exibido no Brasil em um circuito bem restrito, mas se você mora em uma das grandes capitais, provavelmente vai ter chance de assisti-lo no cinema. Mas vá avisado, não é um filme para todos, e mesmo interessados no budismo poderão ficar entediados.