Pine é um jogo interessante e ambicioso, mas também é o proverbial “passo maior que as pernas”. Trata-se de uma aventura de sobrevivência 3D em mundo aberto, feito por um time principal de cinco pessoas (com alguma ajuda extra em determinados períodos). É muito difícil fazer um jogo 3D de mundo aberto com baixo orçamento. E a Twirlbound tentou. Mais do que isso: eles tinham uma ideia para que seu jogo fosse diferente do que vemos por aí, e seguiram em frente para implantá-la.
O resultado, infelizmente, não é um jogo bom. Ele tem problemas graves técnicos, visuais e de gameplay, mas é um daqueles casos em que você torce por ele. Por ser ambicioso e bem intencionado, eu gostaria que fosse bom, mas não posso mentir aqui. Os caras estão tentando fazer o som de uma orquestra completa com os instrumentos de uma banda de rock. Eles simplesmente não têm a quantidade de gente suficiente para o que desejam alcançar.
PINE GAME
Pine tem uma premissa interessante. Todos os humanos moram isolados no topo de uma colina, sem nenhum contato com o mundo exterior. A área externa é perigosa, e os humanos são frágeis, por isso ninguém passa das fronteiras. Quando a colina começa a erodir, Hue, o herói de hoje, resolve sair para explorar, na esperança de encontrar algum lugar seguro para onde todos os humanos se mudarem.
Não demora para ele encontrar outras criaturas. Há monstrinhos, que se comportam como animais (alguns são presas, outros predadores), mas também há outras raças civilizadas. Para cumprir a missão de Hue, ele vai precisar fazer amizade com algumas, o que pode criar animosidade com as outras. Mais do que qualquer coisa, Pine é um jogo sobre diplomacia.
Para fazer amizade, você precisa doar recursos e comida. Você sabe, coisas que você precisa e que tornariam sua vida melhor. Assim como na vida real, todo mundo para quem você não deu nada te ataca à primeira vista. Só depois de doar toneladas de recursos, as raças passam a encarar Hue com indiferença. Daí para virar aliado é mais um longo caminho de muitas doações.
DOAR É VIVER
Esta é a pegada de Pine, e a ideia principal da turminha da Twirlbound. O loop de gameplay envolve caçar e colher plantinhas, explorar até encontrar uma aldeia e doar até ficar amiguinho. Decididamente não é o meu tipo de jogo, mas eu me obriguei a jogá-lo por bastante tempo porque simplesmente estava torcendo por ele.
Mas daí começam os problemas técnicos. Você pode, por exemplo, andar rumo a uma plantinha e, ao se aproximar para colher, ela some. Ou então você está explorando e um inimigo aparece na sua frente, já atacando. Pine tem sérios problemas de carregamento, de itens, texturas e mesmo da sua tela de loading, que demora tanto que dá a sensação de que o jogo travou em um carregamento infinito (a coisa passa de três minutos sempre que você morre).
Até mesmo telas de tutoriais chegam a aparecer sem texto, interrompendo gameplay sem passar informação nenhuma por mais de um minuto.
O combate também é chatinho, o que não é um problema tão grave uma vez que este não é um jogo de ação. No entanto, eventualmente ele obriga a lutar. Eu passei um bom tempo em uma missão de pegar três símbolos. Dois deles vieram fácil, mas o terceiro, que deveria ser pego de um guarda, deu muito trabalho. Eu matei uma galera, me indispus com várias tribos, mas o símbolo do guarda nunca dropava. Além disso, o combate é feito de um jeito que deixa totalmente impossível lutar com mais de um inimigo por vez e, toda vez que você passa um tempo na porrada, outros da mesma tribo acabam aparecendo para ajudar o amigo.
HORA DE DESISTIR
Mas o que me fez dizer “chega” foi o primeiro dungeon. Não que ele seja ruim, mas é ridiculamente escuro, e o jogo não tem ajuste de brilho. Na TV sempre dá para dar um jeito, mas eu estava jogando Pine no modo portátil do Switch, sem acesso a TV. E mesmo com o brilho do console no máximo, neste primeiro dungeon eu via melhor o reflexo da minha cara feia na tela do console do que qualquer imagem do jogo. Ficou simplesmente impossível progredir. Ou seja, Pine não é compatível com o Switch Lite nem com o full em modo portátil. Ou você joga na TV, mexendo na configuração dela para poder enxergar, ou vai travar no primeiro dungeon.
Isso, aliás, é um problema que eu tenho com videogames há décadas, desde que se tornou possível fazer sombras em jogos. Qual é o apelo que as desenvolvedoras vêem em fazer jogos tão escuros que ficam quase invisíveis? É tipo tentar vender seu livro com fontes pequenas demais para enxergar sem lupas. Simplesmente não faz sentido, e é muito mais comum do que deveria ser.
APESAR DOS PESARES
Porém, apesar de ter desistido no primeiro dungeon, eu cheguei a jogar bastante de Pine. Tive tantos problemas para encontrar o símbolo do guarda que explorei o mapa inteiro, cumpri uma pá de missões e encontrei todas as vilas, ficando amigo de algumas e inimigo de outras.
Pelo que sei, são três dungeons, e aparentemente a campanha inteira dura 14 horas. Eu o joguei por umas 20 (graças ao já famoso símbolo do guarda), então imagino que fiz quase tudo, e que os outros dois dungeons devem popar logo em seguida. Ainda assim, como não o terminei, não considere este texto uma resenha completa. Talvez as coisas mudem mais pra frente, mas elas mudaram tão pouco do início até agora que acho difícil.
De qualquer forma, deu para sentir bem o funcionamento do jogo e inclusive perceber que ele poderia até agradar bastante quem curte mundos abertos mais abertos, sem muita orientação para o jogador. Porém, ele simplesmente não funciona bem o suficiente para isso. Da forma que está, no Switch, Pine está mais para um protótipo do que para um jogo comercial finalizado.