Um conceito muito utilizado em ficções científicas envolvendo longas viagens espaciais é o da animação suspensa. Os tripulantes da nave dormem enquanto ela realiza a longa viagem, fazendo com que eles não envelheçam e que assim seja possível para seres humanos cobrirem grandes distâncias de maneira suportável.
Mas e se esse processo desse errado? Pois é, essa é a premissa básica de Passageiros. Chris Pratt e Jennifer Lawrence estão numa nave gigantesca junto com outras cinco mil pessoas a caminho de um planeta distante que eles irão colonizar. A viagem é tão longa que levará cerca de 120 anos para eles chegarem ao destino.
Desta forma, passageiros e tripulação fazem a viagem na famigerada animação suspensa. Graças aos sistemas totalmente automatizados da nave, eles só serão acordados quando estiverem já próximos da colônia. Ou deveria ser assim em teoria, porque alguma coisa dá chabu e os dois são acordados bem antes da hora, faltando nada menos que 90 anos para a chegada ao destino. Pois é, eles estão condenados a passarem suas vidas confinados na espaçonave e morrerem sem chegar aonde deveriam.
Na verdade, há uma pegadinha nessa sinopse, mas não dá para explicar mais porque isso tiraria um pouco do impacto do filme, mas visto que a sinopse oficial também segue essa linha, melhor me ater a ela.
Seja como for, temos aqui um daqueles filmes que são uma espécie de “dois em um”. A primeira metade é bastante superior e mostra primeiro o Chris Pratt sozinho no espaço, depois junto da Jennifer Lawrence, convivendo no isolamento da espaçonave. Lembra um pouco a série The Last Man on Earth no espaço, inclusive por ter bastante humor.
Eu gosto muito de histórias sobre uma ou poucas pessoas isoladas em algum lugar, tendo de se virar e lidar com o isolamento e as consequências morais e filosóficas do mesmo. O longa até aborda superficialmente esses temas nessa primeira metade, embora se fosse uma produção mais artística e menos pipoca, pudesse se aprofundar ainda mais nisso. E sem dúvida seria um baita filme.
Mas isso aqui ainda é uma produção hollywoodiana de grande orçamento protagonizada por dois dos astros do momento, então a coisa não poderia ficar sem sua cota de espetáculo audiovisual. Entra a segunda parte do filme, que, como bem definiu o Corrales, fica mais próximo de um Titanic no espaço.
Realmente não quero me aprofundar mais nisso para não estragar a experiência de ninguém, mas nem preciso dizer que essa parte fica muito mais padrão de longas do gênero, e por isso mesmo, mais preguiçosa e bem menos interessante. Até o roteiro, que estava legalzinho, passa a sofrer, com os personagens cometendo algumas burrices que não condizem com o que eles vinham fazendo até então. Só vou dizer uma palavra e você saberá do que estou falando quando assistir: porta!
Esteticamente o filme é caprichado e há alguns ecos de Alien (as câmaras criogênicas são iguais) e até de O Iluminado (o bar da nave) e isso ajuda, principalmente na queda de qualidade para a segunda metade.
Na média o filme é bacaninha, mas é mais um caso de oportunidade perdida ao desperdiçar um argumento com potencial para ser forte, preferindo algo mais pasteurizado, com cara de mero veículo de entretenimento bobo para os dois atores. Por conta do visual caprichado, vale ser assistido no cinema, mas com o perdão do inevitável trocadilho, não passa de mera diversão passageira.