Eu acho que não preciso explicar para ninguém quem é Ozzy Osbourne, né? O cara tem um currículo e tanto, afinal de contas: primeiro vocalista do Black Sabbath, dono de uma carreira solo considerável, pai de duas das maiores (literalmente) abominações vivas (Jack e Kelly), vaca leiteira de uma bruxa, inspiração para George Romero… por aí vai. Infelizmente Ozzy não faz nada musicalmente relevante há muito, muito tempo, e acaba sendo só lembrado por ser um velho seqüelado que não consegue se fazer entender por ninguém. Sério, pensem aí quando é que foi a última vez em que Ozzy lançou algo realmente bom? Eu gosto muito do Ozzmosis, de 1995, mas mesmo esse não é visto com bons olhos pela maior parte das pessoas. Down To Earth é horrível, e isso é opinião unânime. Cacete, até o Zakk Wylde não gosta de nada depois do No More Tears! Ah, e vejam que não entrei no mérito da reunião do Black Sabbath e das várias críticas dos colegas Tony Iommi e Geezer Butler sobre a falta de capacidade do Ozzy de sequer se lembrar das letras.
Provavelmente mordido com o sucesso do Heaven And Hell (reunião do Black Sabbath com o baixinho Ronnie James Dio), Ozzy correu para lançar este Black Rain. Sinceramente, aguardei o lançamento dele sem nenhuma expectativa, mesmo depois de tantos elogios vindos do Zakk Wylde. Vi o recém-chegado dito cujo numa prateleira e fiquei pensando por alguns minutos se arriscaria ou não. Quase que literalmente empurrado pela minha namorada, acabei levando.
Como a primeira coisa que olhamos num CD é a capa, deixe-me falar dela: até que ficou bacaninha com o Ozzy parecendo um X-Men velho que já viu e passou por muitas guerras, mas dá saudades daquelas capas engraçad… Quero dizer, legais como as de Bark At The Moon e Speak Of The Devil. Está estilosa, pelo menos.
Agora alguns pensamentos sobre o Sr. Guitarrista. Zakk Wylde disse em entrevistas que desta vez participou do processo de composição, e isso está bem na cara. Aliás, o guitarrista sujo só não deu pitaco em duas faixas, segundo o (simplíssimo) livreto do CD. Eu não sei o que o delfonauta pensa, mas eu tinha para mim que musicalmente Zakk é daqueles caras que ou você ama ou odeia. Depois de ouvir alguns discos do Black Label Society e o solo Book Of Shadows, vi que não é tão simples assim. Eu simplesmente detestei os discos do BLS, mas adorei o Book Of Shadows. O negócio é que parece que no BLS Zakk só quer dar uma de machão, mas tem gente que faz isso melhor que ele no Motörhead. Quando ele coloca feeling no que faz, aí sim mostra o porquê de ser conhecido como um dos melhores guitarristas da atualidade. Os guitarristas americanos com influência sulista costumam ser muito bons, afinal de contas. O Book Of Shadows, por exemplo, me lembrou muito o Lynyrd Skynyrd fase pré-acidente, e isso é uma ótima lembrança. Visto que Ozzy é um cara endeusado por Zakk, imaginei que o guitarrista daria o seu melhor aqui.
Enfim, como a vaca já tinha ido pro brejo, respirei fundo e comecei a ouvir o disco. Na pior das hipóteses renderia uma resenha engraçada, certo? Algumas audições depois, o que achei?
O som tem umas partes meio modernosas demais. Acho mesmo que o Ozzy não precisa fazer esse tipo de coisa, a não ser que seja para vender mais para a “nova geração”. Pensando bem agora, isso faz sentido. Deve ser mais uma das tramóias da jararaca da Sharon.
E o marido dela, como está? Bem, a voz pastosa dele continua a mesmíssima. Isso não é de todo mau, pois ele nunca foi conhecido por ser um grande vocalista, afinal de contas, e sim pela sua voz ser “legal”. Claro que agora ele não se arrisca a subir muitas notas, mas tá valendo.
Os riffs de Zakk Wylde estão inspirados, mas poderiam estar mais caprichados. Dos solos eu não falo nada de ruim: ele está ótimo em todos. Talvez menos bebida e mais banho (ele já disse que às vezes fica mais de mês sem) faça bem a ele.
Quanto ao baterista Mike Bordin e o baixista Blasko (nome esquisito), bem, eles estão lá. Não há nada de relevante no que eles fazem, infelizmente. O disco foi produzido por um tal de Kevin Churko (será que é parente do Blasko?) e pelo tal do Ozzy. Ah, sim, o Kevin Churko assina todas as faixas junto com o Madman.
A primeira faixa, Not Going Away, é bem parecida com o trabalho do Black Label Society. Aquele efeito abafado no começo não me deixou muito animado, mas, quando ela começa de verdade, o negócio é legal. Os riffs da música são simples, bem no estilo do Black Label Society. O solo está caprichadíssimo, e definitivamente me deixou ansioso pelo resto.
I Don’t Wanna Stop é o primeiro single, e acho que foi bem escolhida para representar o som do disco: algo meio modernoso, mas não o suficiente para esculhambar o trabalho todo (nesta música, pelo menos). Aqui novamente vemos riffs simples com Ozzy cantando junto com eles. O refrão é bem grudento, coisa e tal, e é repetido várias vezes. Solinho curto e tocado bem rápido, não está entre os melhores do disco.
A terceira música, Black Rain, começa com uma gaitinha e não consigo não pensar em The Wizard. Pena que provavelmente o Ozzy não se lembra mais dela… É uma música mais lenta e pesada, e mereceu dar nome ao disco, pois é realmente uma das mais legais, se não a minha favorita.
Lay Your World On Me é uma baladinha bem legal, e eu acho que nunca conseguirei explicar como é que uma balada fica boa na voz desgracenta do Ozzy.
The Almighty Dollar é uma das duas faixas sem participação do Zakk Wylde na composição, e, provavelmente não coincidentemente, é bem chatinha. Meio modernosa demais, efeitos chatos no vocal, e a composição como um todo é enjoada e arrastada. A julgar pelo nome, acho que foi composta em homenagem à Sharon. Ah, e para piorar, ainda é a maior do CD, com 7 minutos.
A próxima, 11 Silver, não melhora muito a situação. Tem um quê meio industrial e a bateria parece eletrônica. Fiquei até pensando se o tal do Blasko não é o apelido carinhoso do computador do estúdio. Musiquinha esquisita, ainda mais modernosa que a anterior, mas, por ser mais curta, desce melhor.
Civilize The Universe volta para o feeling do Black Label Society, e parece ainda melhor por ter vindo depois de duas faixas experimentais demais para o estilo que esperamos (ou que devíamos esperar) do Ozzy. O riff do refrão é legal demais, e o solo é ótimo.
Here For You é a segunda e última balada do disco, e algo no riff dela me lembra Free Bird, a clássica das clássicas do Lynyrd. É ainda mais legal que a Lay Your World On Me, e está entre as baladas mais legais que o Ozzy já fez.
Chegamos em Countdown’s Begun, outra das minhas favoritas. Não tem nada que chame muito a atenção nela, mas é tudo tão bem feito que não dá para não gostar. Pena que o solo é tão curto, pois começa muito bem.
Trap Door é a outra música sem participação do Zakk Wylde, e bem estranhinha também. Parece algo feito pelo Rob Zombie, para falar a verdade. Acabei descobrindo depois que o Blasko foi baterista do Rob Zombie, então acho que isso explica um pouco. Uma má escolha para fechar o disco.
Veredicto: sei lá, às vezes acho que tenho que me esquecer um pouco das coisas incríveis que o Black Sabbath fez com o Ozzy e ser um pouco menos exigente, mas é difícil. E mesmo que eu me esquecesse do Black Sabbath, ainda tenho coisas como Blizzard Of Ozz, Diary Of A Madman e No More Tears para lembrar.
Este disco está no nível deles? Não, não mesmo. É um bom trabalho, coisa e tal, mas a gente espera (ou, volto a dizer, deveria esperar) mais do Madman. Na escala “carreira solo do Ozzy”, este aqui está junto com o The Ultimate Sin. Gostaria de dizer que o disco foi um passo na direção certa, mas essa “modernidade” parece justamente ser a direção que Ozzy quer dar para a carreira dele. Levando em consideração que eu gostei de exatamente 70% do disco, nada mais correto do que dar essa nota: 3,5 Alfredinhos. Agora vou ouvir Blizzard Of Ozz e pensar no que o Randy Rhoads teria achado de Black Rain.