É verdade que 2017 não foi um ano assim tão generoso com grandes lançamentos musicais. Com exceção de uma ou outra coisa boa, não foram muitos os trabalhos lançados este ano que me chamaram a atenção. Em compensação, a qualidade superou a quantidade. Neste que é meu primeiro Melhores do Ano para o DELFOS, tenho o prazer de elaborar um breve registro sobre as produções musicais que mais rolaram no meu Spotify ao longo destes 12 meses – e sobre aquelas que definitivamente não rolaram.
D&D – Decepção Delfiana: CULT DRUGS (Blood Command)
Os noruegueses do Blood Command fizeram dois álbuns muito bons, mas se perderam feio no terceiro. Cult Drugs pega o que havia de pior nos discos anteriores, ignora aquilo que funcionava e entrega as músicas mais chinfrins da banda até agora. Nem o vocal competente de Karina Ljone conseguiu salvar o dia. Em vez de apostar em uma sonoridade mais rápida e agressiva, o Blood Command preferiu compor faixas melosas e tristinhas, o que nunca foi seu forte. Eu esperava bem mais.
Menção Horrorosa – o pior do ano: SKY IS MINE (The Duke Spirit)
The Duke Spirit parece estar seguindo a escola Kasabian de música: faça um álbum de estreia ridiculamente bom, um segundo tão bom quanto o primeiro e, a partir daí, comece a lançar um disco pior que o outro. Sky is Mine é tão apático, morno e sem vida que deixaria os caras do Coldplay morrendo de sono. Afastando-se cada vez mais de sua proposta inicial, o Duke Spirit está se tornando tão enfadonho que já não tenho vontade nem de ouvir as músicas mais antigas, aquelas que me fizeram gostar da banda. Exatamente como o Kasabian.
Menção honrosa: HEAVEN UPSIDE DOWN (Marilyn Manson)
Eu curto muito Marilyn Manson (a banda, não a pessoa). Mas sua época de ouro foi ironicamente encerrada em The Golden Age of Grotesque, sua obra-prima de 2003. Em seguida veio Eat Me, Drink Me, uma espécie de trilha sonora para o suicídio – um álbum diferente do resto, mas respeitável. Desde então, Marilyn Manson (a pessoa, não a banda) se afastou de vez da sua vertente industrial e compôs não um, mas três álbuns bem insossos – provando que também podia ser um egresso da Universidade Kasabian.
Com Heaven Upside Down, entretanto, parece que Manson enfim encontrou uma forma digna de envelhecer sem arruinar completamente sua discografia. Não é o melhor trabalho do cara, mas certamente representa um avanço em relação ao que ele vinha fazendo na última década. Se você não acredita, basta ouvir o refrão desta música aqui:
5 – RITUAL (In This Moment)
In This Moment é uma banda que sabe ser inconstante como nenhuma outra. Cada álbum costuma ter uma pá de músicas horríveis e outras tantas inacreditavelmente boas. Ritual segue a mesma lógica, mas consegue ser o álbum mais consistente do grupo. Das 12 faixas, seis são abortos sonoros. Mas as outras seis são tão pintudas que conseguem compensar a metade ruim. Sem contar que a voz de Maria Brink é sempre uma boa pedida.
4 – MODERN RUIN (Frank Carter & The Rattlesnakes)
Frank Carter já foi vocalista do Gallows, a melhor banda punk dos últimos 500 anos. Depois disso fundou o Pure Love, que pelo jeito morreu na praia. Finalmente, o sujeito parece ter se encontrado em sua mais recente empreitada, Frank Carter & The Rattlesnakes. Modern Ruin é o segundo lançamento da banda, e acertou em cheio ao apresentar canções que misturam o espírito punk rocker de Carter com levadinhas dançantes estilo Arctic Monkeys. Espero que o próximo disco mantenha o ritmo e não sofra da Síndrome de Kasabian.
3 – BEYOND THE VEIL (Venus in Aries)
Venus in Aries é o projeto solo de Verena May, uma paulistana que mora nos states. Abusando de letras sombrias e batidas pesadas, a sonoridade do Venus in Aries lembra bastante o Nine Inch Nails em sua fase mais roots, antes que o Trent Reznor largasse a heroína e começasse a angariar Oscars. Beyond the Veil é o debut de Verena. Apesar de estar aqui no pódio, não é um álbum completo, mas sim um EP de oito faixas – uma mais viciante que a outra.
Venus in Aries foi para mim a grande surpresa do ano, e estou mais que na expectativa por um álbum completo. Esta música aí embaixo é a única cantada em português. Jamais imaginei que alguém conseguiria fazer um refrão de respeito com a frase “Que saudade de você”, mas a Verena conseguiu. Muito.
2 – UNUNIFORM (Tricky)
O pai do trip-hop acertou de novo. Com ununiform, Tricky prova que consegue se reinventar mesmo depois de tantos anos e segue firme como um dos maiores gênios da música contemporânea. Tem de tudo um pouco por aqui: hip-hop cantado em russo, músicas embaladas por pianos melancólicos, guitarras distorcidas e violões contidos, muita bateria eletrônica e uma porção de vocalistas convidados. Depois desse álbum, acho que o Massive Attack nem precisa se preocupar em lançar mais nada. O trip-hop não apenas vive e passa bem, como tem um futuro brilhante nas mãos e na voz soturna de Tricky.
1 – UNLIKELY (Far From Alaska)
Eu não tinha gostado tanto assim de Unlikely quando o escutei pela primeira vez. Meu ouvido ainda estava muito acostumado ao disco anterior, e achei que os natalenses do Far From Alaska tinham errado a mão. Mesmo assim, gostei do álbum. Quando comecei a escrever esta lista, ele ocupava a quinta posição. Mas, para ter certeza de que não estava sendo injusto, resolvi ouvi-lo de novo. E de novo. E de novo. E de repente eu não conseguia mais parar de escutar. Toda vez que terminava a última faixa, Coruja, eu subia o disco para uma posição acima nesta lista e voltava para a primeira música.
Sim, o prêmio DELFOS de melhor álbum do ano vai para uma banda brasileira. Com tanta merda rolando neste país, podemos nos orgulhar ao menos de ter dado ao mundo uma das bandas mais incríveis do momento.
Se você também tem seus melhores e piores álbuns do ano, não se esqueça de compartilhar conosco nos comentários. E fique à vontade para espalhar a Palavra divulgando essa lista para seus amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho, para a Professora Edna e o tio da condução. Boa música nunca é demais.