Os Irmãos Grimm

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Não, amigão. Não se trata de uma biografia dos criadores de praticamente todos os contos de fadas que animaram nossa infância. Os Irmãos Grimm vai no caminho de Em Busca da Terra do Nunca, ou seja, pegar um tremendão existente (dois nesse caso) e encher suas vidas de elementos fantasiosos e diversas referências que mostram as inspirações para suas histórias.

A história segue a “linha Elektra”. Isso significa que o filme começa com os dois em uma “missão”, permitindo que conheçamos os personagens antes da missão que se tornará a mais importante de suas vidas. Mas que missão, você quer saber? Ok, então leia o próximo parágrafo.

Os Irmãos Grimm (Matt Damon e Heath Ledger, quase irreconhecíveis) são dois charlatões que vão de cidade em cidade oferecendo seus serviços de caçadores de seres sobrenaturais. Só que eles mesmos cuidam de gerar a necessidade pelo seu trabalho, criando os eventos sobrenaturais por si próprios. Mais ou menos o que o dragão e o cavaleiro fazem no tremendão Coração de Dragão, sabe? Entonces, assim eles vão de cidade em cidade, acumulando riquezas, até que são confrontados com uma ameaça sobrenatural de verdade: uma bruxa interpretada pela deliciosíssima Monica Belucci (que, assim como acontece na série Matrix, enfeita a tela por muito menos tempo do que deveria). E aí tudo vira de ponta cabeça.

Este filme me lembrou bastante de Shrek, devido às suas inúmeras referências a contos de fadas clássicos. Infelizmente, boa parte deles acaba arruinado nas legendas. Exemplo: em determinada cena, um guri e uma mina estão andando pela floresta jogando migalhas de pão no chão. O guri vira para a mina e a chama de Greta, para o qual ela responde chamando seu amiguinho de Hans. Ora, não é necessário ter um cérebro especialmente desenvolvido para sacar que se trata de João e Maria. Então por que não colocar isso na legenda? Pior ainda é uma cena onde o ano 1796 é trocado por 1976. Santa ignorância, delfonauta.

Dirigido pelo Monty Python mais sem graça, Terry Gilliam (O escudeiro Patsy de Em Busca do Cálice Sagrado – e também responsável por aquelas seqüências toscas de animação utilizadas pelo sexteto inglês), Os Irmãos Grimm não é uma comédia, mas tem uma boa dose de humor, normalmente lembrando bastante aquele maravilhoso estilo nonsense utilizado pelo Monty Python. Esse tipo de humor e os belíssimos cenários me lembraram bastante do novo A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Infelizmente, parece que a preocupação com o visual se limitou aos cenários e ao figurino, pois a computação gráfica deixou muito a desejar. No geral, quase todos os efeitos especiais são ridiculamente perceptíveis e tiram boa parte da graça e da fantasia do filme.

O tema, o diretor e a presença da Monica Belucci tornavam esse um dos grandes candidatos a ser o próximo a levar o Selo Delfiano Supremo. Como você já deve ter percebido, contudo, não levou. O filme parece ser mais longo do que o necessário (embora nem seja tão longo assim, tem 100 minutos) e não prende a atenção durante todo o tempo. Para ser sincero, gostaria de ter a oportunidade de assistir ao filme mais vezes antes de escrever essa crítica, pois parece ser aquele tipo de filme que você gosta mais a cada vez que assiste, dada a imensa quantidade de referências. Deixou devendo, mas merece ser assistido. E ainda acho que a Monica Belucci deveria aparecer mais.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
os-irmaos-grimmPaís: EUA/República Tcheca<br> Ano: 2005<br> Gênero: Fantasia<br> Duração: 100 minutos<br> Diretor: Terry Gilliam<br>